William demora um pouco a responder. Confesso que tê-lo tão próximo a mim está começando a me deixar cada vez mais alerta, principalmente quando o seu cabelo ainda dança sobre as minhas coxas nuas, indo para frente e para trás tocando delicadamente a medida em que ele respira e tenta se manter apoiado com a força de seus braços.

Estou perdendo a respiração e só noto esse fato quando tenho que soltá-la pela necessidade biológica de voltar a respirar.

— Tudo bem. — diz ele — Se você acha que é uma boa ideia, vou acreditar em você.

Apenas concordo com um aceno de cabeça, enquanto seus olhos ainda estão sobre mim. Sua resposta é vaga e não me transmite muita confiança, denotando que ele ainda pode estar em dúvida. Mas acabo não me importando com isso. A única coisa que penso em fazer e conseguir é sair daqui.

O barulho de mais algumas batidas exageradamente altas e intensas na porta seguidas de alguns xingamentos e um "Tem alguém aqui?" faz com que eu haja por impulso.

Eu me levanto, olhando em direção à porta, como se pudesse vê-los, embora eu agradeça aos Céus por estar a uma parede de distância deles. Seria muito constrangedor olhar nos olhos do casal que ouvimos transar e pedir ajuda a eles, não e? Na verdade, já está sendo bem constrangedor. Mas talvez eles nos ajudem, não custa nada tentar, não é? Falo para mim mesma, apenas para adquirir coragem.

— É... oi...

Perpasso meus olhos sobre William mais uma vez, que agora está posicionado bem ao meu lado, perto demais. Ele balança a cabeça em minha direção como quem diz "você consegue", dando-me apoio. Respiro fundo.

—  Quem é você? — Thiago questiona.

- Somos duas pessoas: eu e um amigo, William. Ficamos presos aqui. Quer dizer, nos prenderam aqui. - digo logo de uma só vez.

Não quero enrolar. Se eles quiserem nos ajudar, ótimo. Bom para nós dois. Se não? Não tem muito o que fazer, de qualquer forma. Minhas mãos estão inquietas, assim como as minhas pernas que balançam em um ritmo frenético. Sinto dor na barriga. A ansiedade já está batendo mais uma vez.

"Vamos lá, só peça ajuda a eles e pronto. Estará livre e longe desse problema todo. Você sabe que é o melhor a fazer."

A Angelina mais velha diz, como quem da uma sentença. A mais nova, sentada ao seu lado, retruca o seu argumento finalmente, disposta a ser ouvida também.

"Não faça isso. Sabe quanto tempo ficou esperando por esse momento? Quantas vezes desejou sozinho no quarto assistindo filmes românticos clichês que tivesse a oportunidade de conhecer William?"

A mais velha está olhando para a garota ao seu lado completamente embasbacada, como se ela fosse uma lunática.

"Não dê ouvidos a ela. Quantos anos tinha quando pensava esse tipo de coisa? Treze? Quatorze? Você já está velha demais para acreditar em besteiras e contos de fadas. Haja como alguém da sua idade e não como uma garotinha apaixonada."

Dessa vez, e mais uma vez, concordo com a Angelina mais velha. A mais nova cruza os braços completamente chateada, olhando para a mais velha, que não lhe dá atenção alguma, com um olhar extremamente revolto.

—  E por que prenderam vocês aí dentro? — desta vez é Louise que interpela.

Meus olhos caem sobre William mais uma vez.

—  A gente não sabe. — minto. Quer dizer, eu acho que sei, mas William não sabe, e não estou disposta a dizer a verdade. Não. Não mesmo.

—  Não sabem? Como assim? — Louise parece curiosa.

—  Não sabemos o motivo de terem nos prendido aqui. — digo — O que a gente quer saber é se vocês podem nos ajudar a sair daqui?! Então...

—  Espera, espera aí... — agora é Thiago quem se pronuncia em tom de dúvida — Querem mesmo que a gente acredite que vocês ficaram presos dentro desse banheiro interditado?

—  Interditado? — quem pergunta é William, tão curioso quanto eu mesma.

—  É, interditado. — seu tom de voz denota ironia.

—  Como assim, interditado? — pergunto encucada.

—  Interditado, vocês são surdos? — seu tom é agressivo. Isso me incomoda — Tem uma placa enorme com a frase "banheiro interditado, em reforma, não entre".

Meus olhos estão sobre William mais uma vez.

—  Quando você entrou tinha alguma placa dizendo que o banheiro estava interditado? — questiono a ele, baixinho, para que o casal do outro lado do corredor não ouça.

—  Não. — Ele está tão surpreso quanto eu — E você?

—  Não.

Então foi por isso que eles não entraram, a minha mente aponta.

— Ainda estão aí? — volto a falar.

—  Estamos. — Louise responde.

—  Então quer dizer que vocês estavam o tempo todo aí dentro enquanto a gente...

Troco outro olhar cúmplice com William, e um sorriso quase imperceptível está desenhando o canto esquerdo de seus lábios rosados. Um sorriso contido também desenha os meus. Que situação mais louca!

—  Sim. — William os responde, contendo o riso — Mas juro que não ouvimos nada, não e mesmo? - se dirige a mim.

—  Isso, nao ouvimos absolutamente nada. — concordo.

Estou segurando o riso também. A situação fica cada vez mais complicada.

—  Sabe o que eu acho que vocês são? Dois tarados! Por que não disseram que estavam aí dentro assim que aparecemos? Queriam apreciar o show, é isso? — Louise está exaltada.

A entendo. Ter expectadores ouvindo seus gemidos enquanto fode com o namorado no meio de um corredor deve ser muito ruim, Mas, por ser em um corredor, poderia ser ouvida por qualquer um, não é? Tanto ela quanto ele sabiam que estavam correndo o risco de serem descobertos.

—  Não queríamos! É que foi uma situação muito... — sou eu quem rebate, tentando nos defender — Enfim, ficamos sem reação.

Decido falar a verdade. É a única coisa que passa na minha mente.

 É a única coisa que passa na minha mente

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