2. Nathan

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22 de dezembro de 2014, às 19h55

Certo. Eu precisava processar as coisas, porque tudo aconteceu ao mesmo tempo aqui dentro desse mar de ideias desconexas, inviáveis e confusas que eu chamo de cabeça. Eu estava muito nervoso e precisava de uma caminhada.

Quando deixei a Manu na casa dela, meu coração começou a bater forte. Eu queria segurá-la e implorar para que não fosse embora. Queria colocar o seu cabelo ondulado castanho atrás de suas orelhas, cobrir as suas bochechas rosadas com as minhas mãos e dizer um superargumento que, de repente, a convenceria a ficar. Em vez disso, fiquei olhando para o volante, enquanto ela me dava um “tchau” seco e me encarava com aqueles olhos dourados e grandes, esperando por uma explicação que eu não daria. Não olhei para os lados, me certificando de que ela havia entrado em casa em segurança. Simplesmente fui embora.

Eu não estava bravo. Jamais conseguiria ficar genuinamente irritado com a Manu. Eu só sentia como se ela houvesse ignorado tudo o que passamos juntos e arranjado uma desculpa qualquer para ir embora e me abandonar. Ela estava sendo egoísta? Sim. Eu estava sendo mais egoísta ainda? Claro.

Parei a caminhonete no acostamento da praça central da cidade e fiquei ali por um tempo, observando minha respiração embaçar o vidro.

O que me assustava naquele plano era o seguinte: Manu sempre arranjava umas ideias meio loucas e a sua definição de diversão não era exatamente a mesma de um ser humano comum. Mas, ao mesmo tempo, tudo o que decidia fazer, ela realmente fazia. Sempre invejei esse impulso e essa atitude de “dane-se as consequências”, porque eu, por exemplo, não conseguia ao menos chegar ao caixa do McDonald’s sem antes ter mudado o meu pedido sete vezes enquanto aguardava na fila.

Entendia que tudo havia sido muito difícil para ela desde a morte de Allan. Ele era um cara muito envolvido nas atividades da cidade, e todo mundo gostava dele. De certa forma, Allan havia deixado sua marca ali. Mas isso não justificava a loucura de ter de se afastar de tudo e de todos. Novamente, aquele monstrinho egoísta gritava na minha cabeça: “Ei cara, e quanto a você? Ela não se importa?”.

Ela não podia ir embora. E eu precisava fazer algo a respeito.

Sentei no banco gelado do gazebo e fiquei ali, com o meu rosto enfiado entre as pernas. Talvez eu estivesse chorando, ou talvez ninjas cortadores de cebolas dançassem ao meu redor — o que era a minha desculpa habitual, caso alguém me pegasse no flagra. A única coisa que se passava em minha cabeça eram ideias de como convencer os meus pais de que eu estava indo com ela. Meu pai era dono da única floricultura da cidade, e já estava bem velho. Eu sempre o ajudei e, um dia, eu teria de assumir a gerência. Não podia desconsiderar isso e sair correndo loucamente atrás de uma garota que, convenhamos, não era nem a minha namorada. Será que esse era o exato pensamento dela? Deus, que confuso.

Ah sim, além disso tudo, tinha o fato de que algo me atingiu forte como um soco quando a Manu me disse que estava indo embora. Não era o desapontamento ou a tristeza, mas algo muito mais apavorante. 

Foi o exato momento em que percebi que estava apaixonado por ela.

Onde Encontrei Meu LarWhere stories live. Discover now