05. Perdão

Depuis le début
                                    

Valquíria ficou muda, mais lágrimas surgindo. Ela parecia lutar para falar alguma coisa, mas não conseguia, então só assentiu até conseguir se recompor.

— Eu realmente deveria ter tentado, Kaira. Porque toda essa situação me mostrou que ficar longe de você, minha filha e do restante da minha família, me transformou em um ser humano vazio. A única coisa mais viva em mim era a esperança de um dia conversar com você e Ruan sobre tudo, mas agora, ele se foi.

Exalei ruidosamente, sentindo as lágrimas rolarem por minhas bochechas. O nó em minha garganta me sufocou, permitindo-me apenas ouvir o que Valquíria falava. Ela me olhou diretamente, como se estivesse decidida.

— O ponto que quero chegar é se você gostaria de tentar fazer nós duas funcionarmos? — arregalei os olhos. Minha mãe pareceu perceber a surpresa, pois começou a discursar muito rápido — Sabe, sobre a faculdade, se você quiser vir morar comigo, já que eu moro na capital Fiori atualmente e aqui tem melhores oportunidades para qualquer coisa que você queira fazer, eu estarei de braços abertos e..

— Valquíria. — chamei, mas ela ergueu a mão de leve pedindo para que eu esperasse um pouquinho. Ela precisava falar o que estava entalado.

— Isso tudo que falei decai sobre uma pergunta só. — mais duas lágrimas escorreram pelo rosto dela — Você me perdoaria, Kaira?

O nó em minha garganta se desfez, e todo o choro que eu estava segurando, tanto pela minha briga com Hazard mais cedo quanto pela novidade de ter minha mãe entrando em contato comigo, saíram de uma vez. Algo na forma que Valquíria fez a pergunta me pegou de surpresa e me trouxe um alívio tremendo.

Nos últimos tempos, além do meu avô, eu sentia que eu nunca teria mais ninguém da minha família por perto. Antes da morte do meu pai, eu não prestava muita atenção na ausência de Valquíria e tentava ignorar o que aquilo me causava.

Porém, quando ele se foi, tudo o que eu queria era o colo de alguém que o havia amado tanto quanto eu, que sentisse a falta dele como eu sentiria. Apesar das atitudes da minha mãe, eu reconhecia que ela o amou sim, mas como a vida era feita de escolhas, ela fez uma que a afastou de nós.

E enfim, era a minha vez de escolher consertar isso ou não.

— Valquíria. — comecei, enxugando as lágrimas.

— Me chame de Val, por favor.

— Certo, Val. — sorri um pouco — Meu pai te perdoou há muito tempo, saiba disso. — ela assentiu, tensa — E eu te digo que eu entendo o seu ponto de vista. Nada justifica o que você fez meu pai passar, mas eu compreendo os seus motivos, por isso.. — respirei fundo. Eu estava prestes a me libertar de algo que eu nunca soube que pesara tanto — Eu te perdoo sim, Val.

Pude ver a expressão da minha mãe relaxar,  tanto que ela começou a rir e chorar ao mesmo tempo. Eu acabei ficando do mesmo jeito e se seguiram uns bons cinco minutos até que conseguíssemos retomar a conversa.

— Kaira?

— Oi?

— O que eu disse sobre vir morar comigo é real, está bem? Sinta-se à vontade para decidir.

Assenti com um sorriso. Foi um leve alívio saber que minha mãe morava na Ilha das Flores, na principal cidade dela inclusive. Significava que ela não estava tão longe assim.

— Vou pensar com carinho. Mas, Val, posso te pedir um favor?

— O que quiser.

— Mesmo que eu não vá morar com você, vamos recomeçar do zero juntas, por favor.

Quando cai a última folha ✓Où les histoires vivent. Découvrez maintenant