7. Simplesmente uma chávena

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A luz lunar brilhava sobre a floresta, fazendo o rio parecer ainda mais bonito. Estava um pouco frio na colina em que eu estava, devido ao vento. Neve cobria a paisagem, fazendo-a parecer quase como uma pintura pintada por um homem pobre e velho com muito amor.

Contudo, eu não tinha frio. Embora eu estivesse lá fora no frio, na neve, eu estava a sentir-me quente. O vento fazia os meus cabelos esvoaçar, o que me fazia sentir feliz e relaxada.

Eu sentia-me poderosa, corajosa e forte como se eu pudesse derrotar o mundo. Eu já não era uma humana. Eu era uma criatura.

Eu olhei para baixo e vi que estava a usar um lindo e longo vestido branco de cetim. Embora eu não me conseguisse ver, eu sabia que o vestido fazia-me mais bonita do que eu alguma vez poderia ser.

O meu cabelo estava solto, caindo pelos meus ombros em ondas naturais. Eu estava a usar um colar dourado, com um pequeno coração pendurado. Este estava frio contra a minha pele, mas ele era tão lindo. Eu nunca pensei que fosse usar uma joia tão cara.

Os meus pés estavam descalços, mas eles não estavam azuis devido ao frio, embora houvesse neve e tudo estivesse congelado, incluindo o rio. Uma espessa camada de gelo cobria a superfície.

Eu lembro-me de como costumava patinar no gelo quando era mais nova, sem saber do perigo. Às vezes, eu só queria voltar para trás no tempo; para o tempo em que o meu pai ainda estava vivo e a minha mãe não era uma alcoólica. Se eu ao menos pudesse voltar aquele dia e eu podia ter prevenido a morte do meu pai.

Cinco anos já se passaram e eu nunca iria perdoar e nunca iria esquecer. Eu nunca iria perder aquele horrível sentimento de culpa que estava bem fixo nas minhas profundezas.

Graças ao luar, eu conseguia ver a floresta claramente, incluindo todos os detalhes.

Eu olhei para trás, admirando as minhas asas. Elas eram grandes e brancas e o luar fazia-as brilhar, dando-lhes um lindo brilho. Eu adorava-as. Cada bocadinho delas era importante para mim, elas eram quem eu era.

Elas faziam-me parecer poderosa e forte, fazendo-me parecer a perfeita criatura que eu era.

Um uivo de um lobo foi ouvido à distância, fazendo-me abrir as asas e num segundo estava no ar. Eu era rápida.

A floresta parecia mágica com a espessa camada de neve. Eu voava sem rumo; eu só estava a fazer o que eu gostava mais: voar. Eu não parei de voar até ver o telhado de um castelo pelas árvores.

Só de ver pela primeira vez o castelo, eu sabia que havia algo de errado com ele. Algo sombrio...

Eu virei de direção por segurança e numa questão de segundos eu tinha deixado o castelo para trás e quando já não o podia ver, eu senti-me aliviada, contudo esse alivio durou pouco tempo...

Na escuridade da noite, eu ouvi o rugido mais alto de sempre e eu olhei para baixo.

Um homem estava-me a seguir com tanta velocidade que não podia ser humana. Ele rosnou como um animal enquanto me seguia, olhando-me com olhos vermelhos que eu desejei nunca mais ver.

Ele parecia determinado em ter-me, em apanhar-me e nunca mais me deixar.

Embora eu soubesse que ele nunca me iria conseguir apanhar, pois eu estava fora do seu alcance, eu sentia-me assustada.

O seu olhar estava repleto de desespero, fúria e tristeza.

Depois de duas horas a voar, eu esperei que ele parasse de me seguir, contudo ele nunca parou. O desejo de ele me ter era tão forte que ele iria-me seguir até ao fim do mundo e se houvesse um outro mundo depois disso, ele continuaria a seguir-me.

The Beast (Tradução PT)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora