— Ela prometeu que não contaria a ninguém – respondeu Albus, tentando falar o mais baixo possível

— Você confia mesmo nela? – retrucou Scorpius

— Ela me pareceu sincera. Além do mais, ninguém entra naquele banheiro e ela praticamente nunca sai de lá – Albus deu de ombros e continuou a caminhar.

Tinham alguns minutos de intervalo e os dois garotos resolveram sentar-se na sombra da mesma árvore do dia anterior. Queriam conversar sobre o que acontecera no banheiro feminino do primeiro andar, mas nenhum dos dois sabia como começar a conversa.

— Bem... – por fim, Scorpius começou a conversa — Eu... eu gostei do que fizemos – ele respirou fundo. Sentia suas mãos tremerem, o coração acelerar — mas fiquei com medo de que as coisas... acabassem ficando estranhas entre nós. Quer dizer, como foi que de repente tudo aconteceu?

— Olha, eu também estou confuso se é isso que quer dizer – afirmou Albus, falando o mais baixo que podia para que ninguém os escutasse. — O que quero dizer, Scorpius, é que eu nunca tinha pensado em nós como algo além de amigos. Eu juro. Isso não tinha passado pela minha cabeça.

— E agora passa? – questionou Scorpius

Albus ficou boquiaberto e não soube o que responder. Ambos se encararam e ficaram em silêncio por alguns minutos. Ninguém soube o que falar.

— Acho que devemos continuar agindo como os amigos que sempre fomos – por fim, Albus respondeu, olhando o amigo, esperando alguma resposta.

— Sim. Acho que essa é a melhor coisa que podemos fazer – concordou Scorpius, um tom de voz mais sério que Albus nunca o vira usar.

***

Draco estava sozinho, andando de um lado para o outro na sala de estar da grande mansão com suas paredes escuras e baixa iluminação. Um ambiente frio e solitário. Ouviu-se então um piu em uma das janelas e Draco percebeu a presença de uma coruja-da-igreja, que sabia ser muito comum no corujal de Hogwarts. Ele retirou a carta que estava amarrada à coruja e surpreendeu-se ao ver que o remetente era seu filho, Scorpius. Draco caminhou para perto da lareira apagada, sentou-se em uma antiga poltrona de couro preto e abriu o envelope de pergaminho com todo o cuidado para que não danificasse e então passou a ler o que o filho escrevera.

Draco sentiu-se absurdamente surpreso com o conteúdo no interior da carta e um turbilhão de pensamentos passaram por sua cabeça. Ao terminar de ler, ele abaixou a carta e respirou fundo, os olhos fechados. Sentiu-se triste. Triste em ler de seu filho que não eram grandes amigos.

Ele estava tão focado em proteger Scorpius, mas não teve capacidade de se tornar amigo dele. E então Draco lembrou-se de seu tempo em Hogwarts e sentia-se mais uma vez triste por perceber que não vivera como a maioria dos jovens ao seu redor.

Draco respirou fundo, sentiu um nó na garganta. Leu mais uma vez a carta de Scorpius em suas mãos. "Sei que não somos grandes amigos" o filho dissera. Sentiu seus olhos marejarem. Será que estava sendo para Scorpius como Lucius foi para ele? Draco tinha prometido que seria um pai diferente do que o seu tinha sido. O que Astoria diria para o filho se estivesse ali, lendo aquela carta junto ao Draco? Ela diria ao filho para entregar-se ao amor. Sim, é o que ela faria

Draco se levantou e andou pela casa em busca de pergaminho e tinta. Seu filho estava no quinto ano agora. Draco lembrou de toda a dor e solidão que sentiu durante seus últimos anos em Hogwarts e só pensou em como gostaria que para Scorpius fosse diferente. E era isso que ele diria ao filho.

Achou em seu escritório os itens necessários para a carta, então pensou nas melhores coisas que poderia dizer, sem que lhe perturbasse com detalhes de sua juventude.

"Scorpius.

Sinto em lhe informar, mas não tive um grande amor durante meu tempo em Hogwarts. Você sabe que não sou bom com essas coisas então estive pensando em o que sua mãe lhe diria e acredito que ela o diria para investir neste sentimento. Você gosta desta pessoa que beijou? Bem, então faça acontecer. A juventude é preciosa e passageira, se arrependerá se não viver este amor agora. Me perdoe por não sei um grande amigo, mas acredito que ainda podemos melhorar isso.

Seu pai,

Draco."

Draco releu algumas vezes e sentiu que ainda não era suficiente, mas que estava aceitável para uma primeira carta. No momento, a única coisa que desejava era que o filho sentisse todo o amor que nunca lhe foi dado.

Ele selou a carta, endereçou e devolveu à coruja-da-igreja que permanecia na janela a espera de seu pagamento. Draco depositou um sicle na pequena bolsa de couro amarrada na perna da coruja e então ela partiu de volta ao castelo. Ele ficou à beira da janela observando a ave até perde-la de vista.

***

O céu estava quase totalmente escuro quando a coruja deu leves bicadas no vitral entre as camas dos dois amigos. Scorpius deu um pulo e abriu depressa a janela para recolher a carta. Sentou-se novamente em sua cama, cobrindo as pernas com o edredom verde e cinza da Sonserina, e passou a ler. Ficou surpreso com a velocidade em que o pai respondera, mas foi quase um choque quando terminou de ler o conteúdo da carta. Scorpius esperou por qualquer coisa, exceto por um apoio emocional de seu pai. As sensações em seu peito se misturavam entre felicidade e confusão. Talvez o pai só aprovara porque não sabia que a pessoa a quem Scorpius se referira na carta era um Potter.

— O que há na carta? – questionou Albus que estava assistindo as inúmeras reações do amigo.

— Ahn, nada demais. Meu pai me perguntando se eu não gostaria de passar o Natal em casa este ano – mentiu Scorpius

— Natal? Acabamos de voltar para a escola. Não está um pouco cedo para planejar o Natal?

— Pois, é. Ele deve estar ansioso. – Scorpius tentou disfarçar e Albus deu de ombros. — Não acha estranho que esteja tão frio hoje? Quer dizer, estamos na primavera ainda – comentou mudando de assunto

— Para mim, a sala comunal da Sonserina sempre me pareceu mais fria do que o resto do castelo – afirmou Albus, se encolhendo entre as cobertas de sua cama.

— Albus?

— Sim, Malfoy?

— Você quer ficar... aqui comigo? – sussurrou Scorpius

Albus não respondeu. Olhou em volta, seus colegas de quarto distraídos com brincadeiras e conversas paralelas. Ele se levantou e sentou-se novamente, só que na cama ao lado, onde estava Scorpius.

Scorpius pegou um livro qualquer e abriu, na tentativa de disfarçar caso alguém estivesse olhando. No final das contas, as luzes se apagaram e ninguém reparou se estavam ou não juntos. Até nesses momentos os dois pareciam ser invisíveis para os outros alunos de Hogwarts. Albus se arrumou embaixo dos edredons de Scorpius e então passaram a se encarar.

— Não quero ter um sonho daqueles de novo – comentou Scorpius, sua voz baixinha e insegura.

— Não vai ter. Eu estou aqui, okay?

Scorpius assentiu e encostou a cabeça no colo do amigo. Albus o envolveu em um abraço. Ambos fecharam os olhos e aos poucos, com o calor emanado pelos corpos embaixo das cobertas, os dois adormeceram em um sono tranquilo.

Spells | ScorbusWhere stories live. Discover now