— Isso é horrível. — a princípio, foi tudo o que consegui dizer. No entanto, algo pior passou pela minha cabeça — Ela não conseguiria... tirar a vida deles, certo?

Para o meu alívio, Hazard negou com a cabeça.

— Ela só pode dar vida às coisas e retardá-la, não tirá-la. Apesar de seus poderes serem capazes de ferir alguém.

— Menos mal. E tem alguma forma de resolver isso?

— Tem, mas é complicado.

Suspirei.

— Entendo.. Só não consigo acreditar que minha segunda estação favorita era a primavera.

— É, e você odeia o inverno. — Hazard me olhou de canto de olho, um meio sorriso nos lábios — Me pergunto o que os gêmeos achariam disso.

— Ei! Não me entregue assim, eles ainda não me conhecem direito e você já está querendo causar discórdia?

— Seu segredo está guardado. — ele riu, mas não desviou a atenção dos gêmeos. Durante toda a história, Hazard havia mantido o olhar zeloso sobre eles. — Mais alguma pergunta?

— Várias. Mas, para continuar, e você? É o espírito do quê? — não sei se foi apenas impressão, mas Hazard pareceu ficar tenso com a pergunta. Havia jurado que sua postura relaxada e irônica era mais impenetrável.

— Eu sou só o guarda-costas deles. — quando voltei a reparar, a postura relaxada havia voltado.

— Você é como se fosse um antigo amigo da família? Como veio parar nessa vida?

— Calma aí, Kaira. — a risada de Hazard estava começando a se tornar familiar e agradável aos ouvidos. Era fácil o fazer rir. — Eu sou uma vítima de uma das maldições da Primavera.

Mais curiosa ainda, voltei meu olhar para seu rosto. Sentindo o peso da minha encarada, Hazard também me fitou.

— Você já foi humano?

A pergunta se perdeu no ar, porque, no único segundo que desviamos o olhar dos gêmeos, Flake conseguiu cair de cara em um montinho de neve, bater a cabeça no tronco de um pinheiro e soltar um gritinho de susto. Hazard arregalou os olhos e, com uma velocidade anormal, foi para perto do espírito do vento.

No fim, ele estava bem, mas a brincadeira foi cortada e Hazard disse que era a hora de aulas de magia. Eu queria ter ficado, mas ao longe fui capaz de ouvir a buzina da camionete do meu avô, provavelmente acionada para que eu o ajudasse com alguma coisa que ele trouxera da cidade.

— Eu preciso ir, pessoal. Até mais!

— Kaira, espera! — Snow me chamou, meio desanimada — Você vai voltar?

Antes que eu pudesse dizer que não sabia, já que não fazia ideia de como a realidade deles funcionava, Hazard respondeu por mim, com um sorriso que fez meu coração e minhas bochechas se aquecerem.

— Não se preocupe, Snow, nós iremos chamá-la para brincar mais vezes.

— Mas ela só ficou sentada. — Flake observou.

— Cada um brinca do seu jeito, Flake. — o espírito da neve retrucou o irmão, fazendo-me rir.

Saí de lá com um sorriso no rosto e com a esperança de poder retornar. Em muito tempo estava sentindo algo engraçado: alegria.

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Quando cai a última folha ✓Where stories live. Discover now