2. A preocupação de Minerva

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Minerva absorveu as informações e agradeceu ao professor pelo seu tempo. - Ahn, diretora? A senhora me permite perguntar o porquê do interesse específico sobre o aprendizado destes dois? - questionou Neville, antes que a diretora deixasse a estufa. Minerva, que estava próxima a porta, recuou e voltou sua atenção ao professor, com a estufa agora vazia, achou que podia falar abertamente.

- Bem, depois de tudo o que houve no último ano, sabe, eu só queria ter certeza de que estavam... como posso dizer? agindo normalmente, entende? não é nada demais. Ambos carregam o peso de seus sobrenomes e parecem cada vez mais isolados do restante da escola. Só queria me certificar de que nada de... bem, inusitado, fosse acontecer novamente.

- Sua preocupação é compreensível - respondeu Neville. Com um aceno de cabeça, Minerva deixou a estufa antes que os alunos do próximo horário pudessem enche-la.

* * *

Albus e Scorpius estavam de volta ao salão comunal da Sonserina, exaustos e sonolentos. Esse fora só o primeiro dia do novo o ano e já estavam se sentindo sobrecarregados. Tradicionalmente, esse seria o ano dos NOM's e ambos sabiam que precisariam estudar mais do que o normal.

Para Scorpius isso não era algo de tão ruim. Ele amava os livros tanto quanto amava aprender cada novo tema oferecido pelas disciplinas. Absorvia tão facilmente cada conteúdo que mais parecia um atlas ambulante. Já Albus, apesar de não ser ruim nas aulas, não encarava os estudos com tanto gosto e facilidade quanto o amigo, mas sabia que Scorpius não ia deixar de ajudá-lo se precisasse muito. Os dois garotos caminharão para o dormitório e guardaram os livros. Trocaram as vestes escolares por pijamas e sentaram em um sofá verde esmeralda que ficava acomodado ao fundo do quarto. Olharam pela janela, um bocado de estrelas brilhava em um céu de azul profundo e escuro.

- Acho que precisamos conversar - disse Scorpius, seu tom tranquilo de sempre.

- Nós passamos o dia inteiro conversando, o que mais existe para ser dito?

- Albus, tem alguma coisa incomodando você. Eu sei que tem. Eu te conheço melhor do que ninguém. Pode discordar se eu estiver mentindo - disse sério, sem tirar os olhos do rosto do amigo, que virou para a janela e voltou a encarar o céu - Albus Potter, estou falando com você! - retrucou Scorpius, a voz mais firme dessa vez.

- Eu não sei o que há comigo, okay? - vociferou Albus - eu só me sinto triste e exausto o tempo todo e eu não sei, Scorpius, eu simplesmente não sei o que há! - falando mais alto do que pretendia, os olhos marejados, profundamente grato por estarem sozinhos naquele ambiente.

Scorpius não sabia o que dizer. Sentiu-se culpado por parecer que estava pressionando o amigo a conversar. Ele só queria que Albus entendesse que ele estaria ali para ajudá-lo se precisasse e que sua dor seria dele também. Albus colocou a cabeça entre as mãos, os cotovelos apoiado nas coxas. Respirou fundo pela boca e tento segurar a vontade repentina que teve de chorar. Scorpius se moveu no sofá, sentando grudado ao amigo, abraçando-lhe pelo tronco, encaixando seu rosto próximo ao de Albus.

- Eu estou aqui para você, Albus. Por favor, não se esqueça.

Albus levantou o rosto para encarar o amigo, os olhos ainda marejados. Scorpius estava com um olhar que demonstrava compaixão e uma leva tristeza. Albus o abraçou de volta, encaixando sua cabeça entre seu o ombro e o pescoço. Eles ficaram assim por um tempo, os corpos encolhidos no sofá, abraçados, o quarto escuro e apenas a luz da Lua entrando pelo vitrô em suas costas.

* * *

Foi Albus quem dormiu com lágrimas nos olhos, mas para a surpresa da dupla, foi Scorpius quem chorou durante o sono. Embora estivesse mais próximo de seu pai, Draco, Scorpius ainda sentia um peso enorme e uma dor indescritível pela morte de sua mãe. Perder Astoria foi para ambos os Malfoy de um sentimento horrível de vazio e a triste lembrança do ocorrido insistia em reaparecer durante o sono do filho. Scorpius estava em uma sala, os pais dançavam e sorriam com um som suave ao fundo. Havia uma lareira que trazia a sensação de aconchego ao ambiente. Ele se sentia feliz e sorria constantemente para os pais, que rodopiavam pela sala. E de repente o cenário mudou. A lareira havia apagado. O ambiente estava frio. Draco estava largado em uma poltrona, o rosto inexpressivo, não o olhava nos olhos. Uma dor. Scorpius sentiu no peito uma dor enorme. Correu pelas escadas, a procura de sua mãe. Escancarou a porta de seu quarto e Astoria estava lá, mas não como ele gostaria. O corpo sem vida em sua cama, folhas secas espalhadas pelo chão. Ela havia adoecido. Ela havia partido.

Scorpius sentou abruptamente e começou a chorar. Suas lágrimas eram grossas e sua cabeça doía. Ele não queria acordar ninguém, mas não conseguia controlar o choro. Seu peito ardia, uma tristeza incontrolável. Respirou fundo pela boca e tentou se acalmar. As lágrimas não paravam. Albus levantou a cabeça, dando piscadas sonolentas. Achou que havia sonhado, mas agora via que estava realmente acontecendo. Levantou-se devagar caminhou até o amigo, sentando-se na sua frente, segurando seu rosto com as duas mãos.

- O que houve? - perguntou preocupado - O que houve, Scorpius? Fala comigo - sussurrou, tentando não acordar ninguém. Sabia que o amigo não precisava de ninguém o vendo assim.

- Não foi nada - disse, fungando e secando as lágrimas com as costas das mãos - nada, eu só tive um pesadelo - respondeu, agora olhando o amigo nos olhos, tentando se estabilizar

Albus não perguntou sobre o que era, nem se quer fez qualquer outra pergunta. Sabia que ele o contaria quando estivesse pronto. Sem pensar muito, enfiou-se na cama ao lado de Scorpius e puxou o amigo para junto de si, deitando juntos e cobrindo-se com o edredom verde e cinza. Scorpius não comentou nada, apenas abraçou Albus e arrumou a cabeça no peito do amigo, que o abraçou de volta. Estranhamente, Albus sentiu vontade de dar-lhe um beijo na testa e fazer com que o amigo se sentisse o mais acolhido possível. Em alguns minutos, ambos estavam aquecidos e aos poucos caíram novamente em um sono profundo. Não houveram mais pesadelos naquela noite.

* * *

Foto: FanArt de Kidovna | Tumblr

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