Capítulo 39 - Aquilo que não vi

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George Berkeley tem uma frase intrigante que diz "Ser é ser percebido". Entre tantas interpretações desta citação, foquemos no indivíduo. Já parou pra pensar que as outras pessoas estão vivendo neste mesmo mundo com um olhar e narrativa diferente? De um âmbito único, nem sempre percebido por você.

Acredite. Quando você não está olhando, as coisas continuam a funcionar.

Kate

O aperto no coração pela insegurança do que e como encontraríamos, sempre era angustiante ao ponto de sufocar. O gatilho de finais alternativos era disparado a todo momento por um subconsciente fatídico, nos obrigando apertar a válvula de escape a cada segundo, buscando saídas de um rumo sombrio a cada vez que Beka pedia ajuda no seu estado mais frágil.

As ruas não eram vazias, becos preenchidos de pessoas alcoolizadas saindo de festas as três da madrugada com o cigarro na boca e o cheiro de maconha pairando no ar. Havíamos perdido a conta de quantas ruas iguais a essa havíamos passado e quantos números já havíamos ligado à procura de qualquer rastro que podia dizer onde Beka estaria.

Seria mais fácil se suas ligações viessem acompanhadas de um endereço, normalmente ela apenas chorava e pedia desculpa.

— Puta que pariu! — ouvi o garoto alto xingar chutando uma caixa de papelão no fundo da casa de um desconhecido, enquanto eu, agradecia a mensagem de uma menina que tinha dito ter visto Beka ignorando notificações preocupadas de Heitor, não havia tempo de respondê-lo agora. — Mas que merda!

Ele berrava exausto com os dedos entre os fios claros do seu cabelo curto.

— Acho que encontramos. — avisei dando alguns passos para frente da casa sentindo meus pés doerem em cima da bota de salto grosso. Se soubesse que teria que andar tanto e ficar em cima dela por tanto tempo, com certeza não teria sido minha escolha ou pelo menos não teria dançado tanto em cima dela.

— Você disse isso nas três últimas casas. — Rafa apontou ainda irritado me encarando com seus olhos escuros.

Voltei em sua direção puxando-o pela jaqueta de couro. Sua raiva era preocupação, medo pelo que encontraríamos, Rafa não hesitou quando avisei sobre Beka. Me encontrou na frente da sua casa em menos de dois minutos encaixando sua bota no pé, chamando um uber. Somente ele se importava tanto quanto eu.

— Dessa vez temos isso. — apontei a tela do celular com uma foto da Beka bebendo na sala de estar que conhecíamos. — Uma garota postou esse stories a três horas atrás.

Respirou profundamente esfregando seu rosto retangular. Havíamos rodado o bairro inteiro e no fim ela estava em uma festa, na casa do Castro

— Já faz quanto tempo desde que ela te ligou?

— Umas duas horas. — joguei o cabelo para trás, suada de tanto andar depois que o uber nos deixou. — Não sabia que Castro estava dando uma festa ou esse seria o primeiro lugar em que devíamos ter vindo.

Encaramos a casa gigante e movimentada com o som alto e gritaria, entre o sair e entrar de jovens, com garrafas de cerveja na mão atracados aos beijos.

— As festas do Castro evoluíram Kate. — Rafa começou a andar indo em direção a casa. — O Castro não é mais uma boa companhia.

Puxei as mangas do meu casaco dobrando-as próximas dos cotovelos tomando coragem de ir até lá.

Passamos pela porta e aquela casa ainda me era familiar, o cheiro de maconha era forte, só que o pó branco na mesa me parecia outra coisa. Tentava acompanhar Rafa, tendo que me esquivar de alguns garotos com hálito de cachaça. Rafa parou apoiando-se no corrimão da escada olhando em volta, paralisei.

Meu Romance ProibidoWhere stories live. Discover now