28 - No fundo do poço

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Faziam três meses já. Três meses desde o dia em que me doei completamente para o cara que eu acreditava ser o amor da minha vida, o cara por quem me apaixonei e fui atrás por muito tempo, e que agora me deixou, sem nenhuma explicação aparente. Nenhum motivo óbvio, apenas escreveu aquela carta e se foi. E lá estava eu, pensando nele mais uma vez. Dos três meses para cá eu ganhei muito peso, 15 quilos para ser mais exata. Eu ficava mal demais, e só via uma saída para a minha dor: a comida.

Eu ficava pensando no que havia de errado comigo. Por que Charlie faria algo assim comigo? Passaria todo aquele tempo maravilhoso comigo, tínhamos desenvolvido uma linda história juntos, até Bella acabar com tudo, e então Charlie veio atrás de mim. Percorreu muitos Estados do Brasil na esperança de me encontrar. Me encontrou, transou comigo e me deixou novamente. Eu não entendo o que passa na cabeça de Charlie, é impossível entender.

Ele parecia estar muito bem, estava prestes a lançar um novo álbum, e em suas redes sociais só se viam sorrisos e fotos sem camisa. A imprensa chama ele de "exemplo", diz que ele deu a volta por cima e se reinventou. Que o período em que ele desapareceu havia o tornado uma nova pessoa. Afinal, acho que o que ele realmente queria era me pegar e me largar. Como eu o havia deixado nos Estados Unidos ele não pôde aceitar a derrota, teve que vir atrás e terminar o que começou. Como ele havia conseguido o que queria, agora estava feliz da vida. Ele dava várias entrevistas e em todas elas falava sobre o quanto era importante deixar o passado no passado e seguir em frente. Sobre o quanto ele se importa com aqueles que ele ama e sobre o quão bom é viver a vida sem ter medos e inseguranças. Gostaria que ele viesse e dissesse na minha cara essas coisas, ou que pelo menos respondesse minhas mensagens, nem que fosse apenas por consideração. Sim, ele não me bloqueou em rede social alguma, apenas não me responde e nem sequer visualiza minhas mensagens.

Nesses três meses o empresário musical renomado tem mantido contato comigo, diz que quer muito fazer um teste comigo, mas que para isso eu deveria ir aos Estados Unidos, e tentei isso, mas falhei nas vezes em que tentei, eu usava todo o meu salário para pagar os Vistos, que sempre eram negados. Eu não tinha mais dinheiro, nem coragem de ir até lá no Consulado para levar mais um não. Eu já havia levado tantos "não" que minha vida estava parecendo um fracasso. Resolvi passar meus sentimentos para o papel, peguei meu violão e toquei um verso assim:

"All I need is a little light

Or a little happiness to feel

A star to guide my way

While I'm crying here on the floor"

Em português esse verso significa:

"Tudo o que preciso é uma pequena luz

Ou um pouco de felicidade para sentir

Uma estrela para guiar meu caminho

Enquanto choro aqui no chão"

E foi assim que surgiu "Floor", que falava sobre tudo de ruim que senti desde que Charlie partiu, desde que perdi minha esperança no amor. Eu falava para o Daniel tudo o que acontecia todas as vezes em que eu tentava tirar o visto, e ele ficava esperançoso toda vez em que eu ia ao Consulado tentar mais uma vez. E toda vez ficava incrédulo quando eu dizia que não havia dado certo. Ele tinha noção do quanto eu gostaria de fazer esse teste, mas ele dizia que não poderia fazer nada. Mandei para ele a música que eu havia recém escrito, pedi para ele dar uma olhada e me dizer o que havia achado. Ele viu a mensagem mas não respondeu nada, e tudo que passava pela minha cabeça era: "Será que tá tão ruim assim?"

É claro, minha única intenção não era ir aos Estados Unidos para fazer o teste, eu também gostaria de esclarecer as coisas com Charlie, talvez estapear a cara dele, mas com certeza descobrir o porquê de ele ter me deixado e de ele não encarar a realidade e não me responder. Eu também gostaria de rever a minha família americana. Jenny e eu fazíamos vídeo-chamadas constantemente, ela me falava sobre os meninos bonitos da sala dela e eu tentava não fazê-la desacreditar do amor. Ela me dizia que Kate infernizava a vida das novas aupairs que chegavam à casa deles. Ela acreditava que se ela conseguisse mandar embora todas as outras babás eu eventualmente voltaria, mas eu não gostaria mais de ser babá, apesar de amar aquelas meninas como se fossem minhas próprias filhas, aquilo me lembrava muito da adulta imatura que fui ao acreditar no amor de Charlie.

Miles Away (Charlie Puth)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora