Capítulo 2 - Você quis dizer pobre?

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-Ah! Me desculpe, você está bem? -dizia Rodrigo logo após se esbarrar no garoto desnorteado.-

   O menino parecia não ter escutado, apenas olhou para o rosto de Rodrigo, que estava começando a ficar preocupado, e balançou a cabeça com sinal negativo. Não tinha nem um esboço de reação naquele rosto.

   -Meu deus, suas pupilas estão mega dilatadas! É um milagre que você esteja enxergando ainda! -descendo o olhar, Rodrigo reparou em suas roupas : um casaco amarrotado em cima de um uniforme que estava sujo de café ou algo do tipo... Espera, UNIFORME?! Era o mesmo colégio!

   Rodrigo pega na mão de Leonardo e andam juntos, o guiando até a escola. O pensamento de Rodrigo no momento era de que alguém na escola iria conhecer o garoto, sendo assim, teria ajuda mais fácil e acessível já que não sabia onde ficava o hospital mais próximo.

   -Calma aí, estamos chegando...

   Um grupo de adolescentes que estavam próximos da escola acabou reparando nos dois garotos que ali passavam. Estranharam, não pelo fato de ser um garoto segurando a mão de outro, e sim dos dois usarem uniformes da mesma escola e nunca terem nem ao menos visto o garoto que segurava a mão do outro.  

   -G-Gente, aquele ali não é o Leo?! -A garota de dreads que usava um brinco extravagante que parecia ser feito de modo caseiro, apontava para os dois garotos que andavam com certa pressa.-

   -O Leo? Com um garoto? Que nem sabemos quem é? -Retrucou um menino que tinha cabelos ondulados com mechas roxas, unhas pintadas de diversas cores e um óculos redondo.-

   O resto do grupo continuava a discutir se era realmente o tal "Leo". Sem nem pensar, a garota grita no meio da rua :

   -EEEIIIII, ESPERA!

   Ela corria o mais rápido que podia, já que por algum motivo Rodrigo parecia não ter escutado, ou apenas ignorou. A mão da garota toca os de Rodrigo, e ele se vira assustado

   -O que que você está fazendo com o .... LEONARDO?! -A menina se espanta com a imagem que vê do amigo.-

   -Eu estava indo para a minha nova escola e esbarrei nesse garoto perambulando na Paulista, como vi o uniforme da mesma escola, pensei que alguém iria o conhecer e iria me ajudar. Que bom que você o conhece, me ajuda por favor! -Rodrigo disse essa frase rápido demais, o menino realmente se preocupou em ajudar o outro.-

   -C-Claro... -Enquanto ela ligava para um ambulância, os demais do grupo alcança os três.-

   -Cacete! É realmente o Leo! E por que ele está contigo, SEGURANDO A SUA MÃO?! -O garoto dos cabelos roxos perguntou em tom de ironia.-

   -Ele não estava segurando a minha mão, eu que estava segurando a dele. E eu nem ao menos o conheço, apenas vi ele na avenida e parecia estar mal. Aliás, sou o garoto novo.

   -O bolsista do interior que todos falaram? Você deu oque falar por aqui. Um colégio de elite finalmente aceitou um... um... estudante de escola pública, você me entendeu. -A garota loira de roupas inteiramente rosa disse com um olhar de nojo.-

   -Pobre, você quis dizer. -Rodrigo retruca.-

   -Se a carapuça serviu.

   -Marcelo e Alice, dá pra vocês irem indo pra escola avisar que vamos chegar atrasados? O Leo está mais uma vez dopado de remédios. Fala que o garoto novo também vai chegar atrasado.

   -Rodrigo. Rodrigo Paiva é o meu nome.

   -O meu é Roberta.

   A garota loira e o menino do cabelo roxo, respectivamente, Alice e Marcelo, vão para a escola com os passos rápidos e longos cochichando baixo provavelmente sobre Rodrigo.

   -Tá, e eu? -sobrou mais um menino, de cabelos pretos e sobrancelhas grossas, que parecia estar confuso, na verdade, ele parecia estar sempre confuso.-

   -Você fica com a gente, Victor.

   Enquanto esperavam a ambulância, ficou um silêncio no local que incomodou Rodrigo, mas o que ele poderia falar para puxar papo?

   -Tem mais pessoas lá naquela escola... Como a gente?

   -Gente preta? Não. Eu era a única antes de você chegar, agora tenho que dividir o cargo com você, haha. -Ela riu de maneira irônica, para suavizar o clima tenso.-

   Rodrigo deu um sorriso de canto de boca e ficou mais tranquilo após ver que Roberta não era uma mimada como o pessoa de lá aparentava ser.

   -Bolsista também?

   -Naah, meu pai é dono de uma fábrica de tênis, então pode se dizer que sou rica.

   As roupas dela não eram nem de longe caras, muito menos de marca. Os brincos caseiros, os tênis que eram provavelmente da fábrica, tudo aquilo ajudou na transição de mundos que Rodrigo teve. No fim, a ambulância chegou e levou Roberta, Rodrigo e Victor para o UPA mais próximo, e fizeram uma lavagem intestinal no garoto. Roberta ligou para a mãe do rapaz e avisa sobre o ocorrido, assim saem do UPA e vão direto para a escola, chegando no segundo turno.

   -Louco né? -Rodrigo dizia no caminho para a escola-

   -Se conhecemos no meio de uma overdose. Se tirasse isso fora de contexto, iria parecer que se conhecemos numa rave.

   -É, seria engraçado.

   Ambos caminhavam lado a lado, conversando sobre o máximo que podiam para absorver informações um sobre o outro, oque foi uma experiência legal para Rodrigo. Ele se sentiu acolhido.


  

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