11. Finch Conhard

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Ela desvia o olhar do meu.

— Eu fui para sua casa depois do círculo. Eu queria falar umas merdas para você. Eu escalei a parede e quando cheguei no seu quarto...— ela faz uma pausa e vira o rosto completamente, fazendo com que eu não consiga encara-lá.

Nunca vi Alexis assim, tão vulnerável.

Tão... triste.

Meu coração quebra em um milhão de pedaços.

Ela me achou no quarto. Ela ligou para uma ambulância e agora eu estou aqui.

Alexis salvou a minha vida.

Ela volta o olhar para o meu, seus olhos estão começando a ficar marejados. Mas seu rosto já está um pouco inchado e derrotado.

— Você andou chorando.

Ela abre um pequeno sorriso, meio desafiador mas meio honesto também.

— Vadias cruéis também choram às vezes.

— Jura? Elas também aceitam abraços de garotos drogados no leito de morte?

Ela me fita intensamente quando uma risada escapa de sua garganta, mas junto com ela vem um soluço estrangulado.

Alexis Donavan começa a chorar.

Eu empurro contra o peso dos mil homens me pressionando para baixo e tento me erguer para alcançá-la.

Alexis nota o meu esforço patético e se inclina até mim. Ela afunda o rosto na curva do meu pescoço e eu coloco os braços ao redor dela, inspirando com força o cheiro de cigarro com um toque de lavanda.

O cheiro é caos, mas ao mesmo tempo é paz.

Eu chego muito próximo a me sentir em casa. Uma sensação que eu não sentia há muito tempo.

E é quando eu sei.

Eu a amo.

Eu amo o caos e o paz em guerra dentro dela. Eu amo as ondas agitadas que a fazem um mar raivoso. Eu amo a sua forma destemida de encarar o mundo. Eu amo a sua boca e acima de tudo o seu sorriso cruel.

E amo o fato dela ser a pessoa mais honesta e bondosa que já conheci na minha vida, mesmo que ela mesma tenha dificuldade de admitir isso. Acho que amo essa pequena negação dentro dela também.

Ao invés de deixar meus braços, Alexis se encolhe ao meu lado na cama apertada enquanto eu a seguro com o resto de força que ainda há em meu corpo.

Eu abro a boca e começo a falar.

— Meu nome é Finch Conhard e eu sou viciado em heroína. Começou ano passado, logo após a morte da minha mãe. Ela morreu de câncer depois de anos da doença a correndo, a matando de forma incrivelmente dolorosa. Eu não lidei bem com a perda dela. Minha irmã só tinha cinco anos e não parava de perguntar quando a mamãe ia voltar. Ela perguntava todo maldito dia. E cortava tão forte toda vez que eu respondia a mesma coisa "Ela não vai voltar por um longo tempo." Minha irmã ainda não entendia o conceito da morte e era ainda mais difícil dize-la que a mãe jamais voltaria. Acho que meu pai também nos deixou quando ela se foi. Ele estava lá de corpo, mas parecia fora de si. Ele perdeu a mulher da vida dele, a mãe de seus filhos. A pessoa que ele pensou que envelheceria junto. Eu perdi a metade da minha familia em um mesmo dia. E diferente da minha irmã, eu compreendia o significado de morte e sabia que algumas coisas não podem simplesmente voltar.

Eu paro por um momento, procurando por coragem ou força.

-- Meu primeiro encontro com ela foi duas semana depois do enterro da minha mãe. Eu me forcei a sair com uns amigos para uma festa, achando que sair e me distrair seria bom. Eu não aguentava mais a nossa casa. O silêncio, o luto. Era pesado demais. Ela chegou em mim por meio do primo de um amigo que estava na festa. Meu amigo disse a ele algo como "ele precisa desesperadamente se divertir". O menino sorriu e tirou algo do bolso. "Eu sei exatamente do que você precisa então", ele disse, com os olhos em mim. E foi aí que a conheci. Ele estendeu o saquinho e lá estava ela, dento de uma embalagem pequena e transparente. Não foi amor à primeira vista. Mas também não demorou muito. Eu hesitei por talvez um ou dois minutos. Mas eu estava tão malditamente cansado da dor e da tristeza que não pensei que tinha algo a perder. E então eu fiz. Assim que ela entrou no meu sistema, eu senti. Eu.... Eu senti coisas que eu nem consigo colocar em palavras. É algum tipo cósmico de sensações. Mas acima de tudo, e o mais importante, é que eu não senti uma coisa, a dor. Ela simplesmente foi embora. Simples e fácil assim. E todo aquele vazio foi preenchido por tudo o que é belo no mundo. E foi isso. Só isso que eu precisei para me apaixonar perdidamente e completamente.

11:45Onde histórias criam vida. Descubra agora