10. Alexis Donavan

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— Eu tenho um aqui, se você quiser.

Eu movo a minha cabeça em sua direção e a encaro.

Puta que pariu.

Eu abro a boca e, com muito esforço, não a mando calar a boca.

— Qual?

Ela franze as sobrancelhas.

— O que?

— Qual é o tipo de absorvente que você tem? — eu indago, me esforçando para ser paciente.

Ela hesita. O silencio toma o circulo enquanto todos ali encaram essa troca de palavras com certo fascínio e perplexidade.

— Always com abas.

Eu suspiro dramaticamente e fecho os olhos, balançando a cabeça.

— Tenho alergia. 

Antes que ela possa dizer alguma coisa, me viro para Henry, que ameaça a abrir a boca. Mas eu o corto.

— É isso aí, então. — eu digo, me movendo para fora do círculo. — Desculpa, Henry, realmente gostaria de ficar mas tem coisas que a gente não pode interferir. Tipo, a natureza. -- eu jogo as mãos para cima. — A mulher e o fardo de gerar a vida!

Quando eu termino de falar já estou no meio do caminho até a porta.

Henry abre a boca mas eu não sei o que diz porque estou passando pela saída.

Não sei se ele acredita. Provavelmente não. Mas o interessante sobre menstruação é que geralmente os homens se resumem a amebas assim que a palavra é mencionada.

Eu pego o carro e faço o meu caminho até a casa de Finch. Não paro para pensar sobre o que estou fazendo. Sou impulsiva demais para isso. E no fundo, sei que é uma péssima ideia. Então se eu for debater com a parte razoável do meu cérebro, irei desistir.

Eu preciso vê-lo.

Entender que diabos está acontecendo.

E também xinga-lo por ser tão covarde por não conseguir me encarar.

Eu estou irritada, confusa e... com saudade.

Porra, que coisa mais idiota.

Eu me odeio só por estar admitindo isso a mim mesma. Mas é a verdade. E eu nunca fui o tipo de pessoa que foge da parte feia da realidade.

O meu celular toca e, quando eu olho de relance para a tela, vejo o nome da minha mãe.

Eu suspiro, fazendo uma nota mental para responde-lá mais tarde. Diana Donavan é uma mãe solteira com uma filha drogada. A vida não é fácil para ela. Meu pai vazou antes mesmo que eu pudesse falar. Nada disso é culpa dela. Ela tenta de verdade. Tanto que às vezes eu me sinto sufocada por todo aquele olhar maternal preocupado e magoado.

É terrível ser o motivo de maior angustia e preocupação de alguém que você ama. É terrível o que eu fiz ela passar ao longo dos anos. Todos os sumiços, ataques, recaídas, brigas.

Eu vou para o círculo por causa de um bater de martelo de um juiz qualquer. 

Eu me mantenho sóbria por ela.

Ou pelo menos, tento.

Eu ligo o rádio, estou no meio caminho da casa de Finch agora e noto que estou dirigindo mais rápido que o normal.

Eu não consigo parar de pensar nele. Seu rosto quando o beijei. Seu toque. Seu gosto. Seu meio sorriso toda vez que eu digo algo malvado ou sarcástico. Sei que apesar de jamais admitir, ele gosta.

Quando paro em frente a casa dele, estou pensando na nossa última conversa. Nas minhas últimas palavras para ele. Flashs da noite em que ele me jogou para fora de sua cama também atravessam a minha mente.

Desligo o motor e saio do carro sem nem me preocupar em tranca-lo. Atravesso o gramado bem aparado e vou direto para a lateral da casa, logo abaixo da janela dele.

Olho para os dois lado, para a vizinhança meio morta.

Fazer isso em plena luz do dia é mais assustador do que fazer à noite.

Subo rápido, antes que alguém me veja ou antes que perca a coragem.

Estou rezando para que ele esteja em casa enquanto faço a breve escalada. Caso contrário, isso está sendo em vão.

Deus, eu estou disposta a ser presa por esse garoto.

Chego até o batente da janela e consigo ver de relance uma parte do quarto de Finch. Não o vejo lá dentro, mas empurro a janela de vidro para cima e me impulsiono para dentro. Quando coloco a metade do corpo para dentro e viro o meu rosto para o interior do quarto, é quando o vejo.

Meu pé congela no piso de seu quarto e o outro continua para fora porque eu não consigo me mexer.

A primeira coisa que vejo é seu corpo caído no chão, ao pé da cama. Não consigo ver seu rosto, apenas os fios loiros e a sua nuca. Ele está meio encolhido, a camisa branca distorcida até a metade do tronco.

Não parece a posição de alguém que esteja dormindo.

Parece a posição de alguém que está sofrendo.

Por um segundo, talvez menos, uma interrogação surge em minha cabeça.

Até que eu vejo.

A seringa jogada ao lado do corpo.

Eu sinto frio em todo o meu corpo. Um formigar em minhas pernas e braços, mas me obrigo a me mover.

Eu vou até ele e fico de joelhos.

— Finch. — eu chamo.

Ele não responde.

Eu o toco, sentindo os meus próprios dedos dormentes. Ele também não reage.

Puxando o seu braço eu o giro em minha direção.

Seu corpo está mole, como um boneco.

Eu arfo quando finalmente vejo o seu rosto. Sua cabeça pende caída, aparadas em meus braços. Seus olhos estão um pouco abertos. As pálpebras se movem com dificuldade. Não sei se ele é capaz de me ver, mas quase não sou capaz de fitar o azul.

Seus lábios estão entreabertos, e um respirar suave sopra o ar.

Uma pancada de alívio me toma de forma assustadora.

Eu toco o seu rosto com a minha mão livre. Tirando alguns fios molhados de sua testa.

Seu vício. Aqui está. Em sua forma mais plena e mortal.

Eu não preciso de muito para compreender.

Heroína. — eu sopro. 

E é quando eu sinto uma lágrima escorrendo pela minha bochecha, que eu entendo o que ele sempre esteve tentando me dizer.

— Ah, Finch. — eu murmuro bem baixinho, em um soluço estrangulado.

Ele é um anjo.

Mas um anjo caído.

11:45Where stories live. Discover now