— Eu tenho um aqui, se você quiser.
Eu movo a minha cabeça em sua direção e a encaro.
Puta que pariu.
Eu abro a boca e, com muito esforço, não a mando calar a boca.
— Qual?
Ela franze as sobrancelhas.
— O que?
— Qual é o tipo de absorvente que você tem? — eu indago, me esforçando para ser paciente.
Ela hesita. O silencio toma o circulo enquanto todos ali encaram essa troca de palavras com certo fascínio e perplexidade.
— Always com abas.
Eu suspiro dramaticamente e fecho os olhos, balançando a cabeça.
— Tenho alergia.
Antes que ela possa dizer alguma coisa, me viro para Henry, que ameaça a abrir a boca. Mas eu o corto.
— É isso aí, então. — eu digo, me movendo para fora do círculo. — Desculpa, Henry, realmente gostaria de ficar mas tem coisas que a gente não pode interferir. Tipo, a natureza. -- eu jogo as mãos para cima. — A mulher e o fardo de gerar a vida!
Quando eu termino de falar já estou no meio do caminho até a porta.
Henry abre a boca mas eu não sei o que diz porque estou passando pela saída.
Não sei se ele acredita. Provavelmente não. Mas o interessante sobre menstruação é que geralmente os homens se resumem a amebas assim que a palavra é mencionada.
Eu pego o carro e faço o meu caminho até a casa de Finch. Não paro para pensar sobre o que estou fazendo. Sou impulsiva demais para isso. E no fundo, sei que é uma péssima ideia. Então se eu for debater com a parte razoável do meu cérebro, irei desistir.
Eu preciso vê-lo.
Entender que diabos está acontecendo.
E também xinga-lo por ser tão covarde por não conseguir me encarar.
Eu estou irritada, confusa e... com saudade.
Porra, que coisa mais idiota.
Eu me odeio só por estar admitindo isso a mim mesma. Mas é a verdade. E eu nunca fui o tipo de pessoa que foge da parte feia da realidade.
O meu celular toca e, quando eu olho de relance para a tela, vejo o nome da minha mãe.
Eu suspiro, fazendo uma nota mental para responde-lá mais tarde. Diana Donavan é uma mãe solteira com uma filha drogada. A vida não é fácil para ela. Meu pai vazou antes mesmo que eu pudesse falar. Nada disso é culpa dela. Ela tenta de verdade. Tanto que às vezes eu me sinto sufocada por todo aquele olhar maternal preocupado e magoado.
É terrível ser o motivo de maior angustia e preocupação de alguém que você ama. É terrível o que eu fiz ela passar ao longo dos anos. Todos os sumiços, ataques, recaídas, brigas.
Eu vou para o círculo por causa de um bater de martelo de um juiz qualquer.
Eu me mantenho sóbria por ela.
Ou pelo menos, tento.
Eu ligo o rádio, estou no meio caminho da casa de Finch agora e noto que estou dirigindo mais rápido que o normal.
Eu não consigo parar de pensar nele. Seu rosto quando o beijei. Seu toque. Seu gosto. Seu meio sorriso toda vez que eu digo algo malvado ou sarcástico. Sei que apesar de jamais admitir, ele gosta.
Quando paro em frente a casa dele, estou pensando na nossa última conversa. Nas minhas últimas palavras para ele. Flashs da noite em que ele me jogou para fora de sua cama também atravessam a minha mente.
Desligo o motor e saio do carro sem nem me preocupar em tranca-lo. Atravesso o gramado bem aparado e vou direto para a lateral da casa, logo abaixo da janela dele.
Olho para os dois lado, para a vizinhança meio morta.
Fazer isso em plena luz do dia é mais assustador do que fazer à noite.
Subo rápido, antes que alguém me veja ou antes que perca a coragem.
Estou rezando para que ele esteja em casa enquanto faço a breve escalada. Caso contrário, isso está sendo em vão.
Deus, eu estou disposta a ser presa por esse garoto.
Chego até o batente da janela e consigo ver de relance uma parte do quarto de Finch. Não o vejo lá dentro, mas empurro a janela de vidro para cima e me impulsiono para dentro. Quando coloco a metade do corpo para dentro e viro o meu rosto para o interior do quarto, é quando o vejo.
Meu pé congela no piso de seu quarto e o outro continua para fora porque eu não consigo me mexer.
A primeira coisa que vejo é seu corpo caído no chão, ao pé da cama. Não consigo ver seu rosto, apenas os fios loiros e a sua nuca. Ele está meio encolhido, a camisa branca distorcida até a metade do tronco.
Não parece a posição de alguém que esteja dormindo.
Parece a posição de alguém que está sofrendo.
Por um segundo, talvez menos, uma interrogação surge em minha cabeça.
Até que eu vejo.
A seringa jogada ao lado do corpo.
Eu sinto frio em todo o meu corpo. Um formigar em minhas pernas e braços, mas me obrigo a me mover.
Eu vou até ele e fico de joelhos.
— Finch. — eu chamo.
Ele não responde.
Eu o toco, sentindo os meus próprios dedos dormentes. Ele também não reage.
Puxando o seu braço eu o giro em minha direção.
Seu corpo está mole, como um boneco.
Eu arfo quando finalmente vejo o seu rosto. Sua cabeça pende caída, aparadas em meus braços. Seus olhos estão um pouco abertos. As pálpebras se movem com dificuldade. Não sei se ele é capaz de me ver, mas quase não sou capaz de fitar o azul.
Seus lábios estão entreabertos, e um respirar suave sopra o ar.
Uma pancada de alívio me toma de forma assustadora.
Eu toco o seu rosto com a minha mão livre. Tirando alguns fios molhados de sua testa.
Seu vício. Aqui está. Em sua forma mais plena e mortal.
Eu não preciso de muito para compreender.
— Heroína. — eu sopro.
E é quando eu sinto uma lágrima escorrendo pela minha bochecha, que eu entendo o que ele sempre esteve tentando me dizer.
— Ah, Finch. — eu murmuro bem baixinho, em um soluço estrangulado.
Ele é um anjo.
Mas um anjo caído.
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11:45
Short StoryAlex Donavan encontrou um anjo. Ele é belo, límpido, transcendente. Finch Conhard, com os olhos azuis cristalinos e cabelos brancos sedosos, anda por aí com algum tipo de auréola sobre si. Ela quer levitar a sua volta. Ela quer inspirar a pureza. E...
10. Alexis Donavan
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