Chapter 7

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Alexandra acordou num quarto escuro, consciente de estar meio nua, sob os lençóis. Verificando melhor, percebeu que estava vestindo somente calcinha e sutiã.

Com esforço, tentou se lembrar de onde estava e por que estava quase despida.

O estrondo de um trovão, que seguiu ao rastro luminoso de um relâmpago, a fez despertar. Olhou assustada para a janela. Concluiu que a tempestade a tinha acordado.

Afastou os cabelos emaranhados do rosto e tentou pôr as idéias em ordem. Que horas seriam? A que horas a tempestade teria começado? A que horas ela fora para a cama? E por que não vestira a camisola, como sempre? Então lembrou-se...

Com a boca seca, recordou os fatos da véspera. Sua discussão com Harry e como ele afinal cedera, a energia que despendera na limpeza dos armários e suas esperanças daquele dia. A ceia!

Atirou os lençóis para o lado, sem se importar com o frio. Quem a teria despido e colocado sob as cobertas? Possivelmente, a Srta. Holland, mas era estranho que não houvesse tentado vestir-lhe a camisola. Obviamente, não tinha querido incomodá-la.

Tateando no escuro, encontrou e vestiu sua camisola fina de algodão, e depois procurou o abajur. Mas, ao pressionar a chave de luz, percebeu que não estava funcionando e calculou que a tempestade causara a interrupção de eletricidade. Foi até a janela e consultou o relógio de pulso. Já deveria passar da meia-noite e percebeu que estava morta de fome. A noite acabara e agora todos deviam estar na cama.

Sentindo-se profundamente frustrada, abriu a porta e deu uma olhada no corredor. Como suspeitara, todos estavam deitados, mas o cheiro do assado ainda estava no ar. Resolveu descer e procurar alguma coisa para comer.

Não havia sinal do assado. Enquanto bebia leite, pensou que, provavelmente a Srta. Holland tinha servido a refeição em seu lugar, e não havia ao menos dito que ela temperara a carne e fizera a massa do pudim. Teve vontade de chorar. Provavelmente, os homens estavam com tanta fome que nem se interessaram em saber quem fizera tudo.

Neste momento, ouviu passos do lado de fora da casa e sentiu medo. Provavelmente seria um dos homens que tinham ido até a cidade. Os passos estavam cada vez mais perto da casa. Pensou, aflita, se Harry teria se lembrado de trancar a porta. Quase paralisada de pavor, olhou para a maçaneta, visível por causa das brasas do fogão. Estava segurando o copo vazio que poderia atirar em cima do possível intruso, e quando a porta se abriu quase o atirou.

Mas a silhueta de Harry era inconfundível, mesmo na escuridão, e com um grito de alívio Alexandra deixou o copo escapar de suas mãos e cair no ladrilho.

- Meu Deus! Alexandra!

Harry fechou a porta e apoiou-a. Era difícil dizer qual dos dois tinha levado um susto maior.

- Mas que diabo está fazendo aqui embaixo? Esgueirando-se no escuro! Não podia acender a luz?

- A luz não funciona. - Depois engoliu em seco quando Harry ergueu a mão até o interruptor, e imediatamente a cozinha se iluminou, e ela viu-se vestida somente com a fina camisola sobre a pele.

- Sei que não - ele explicou, enquanto tirava a capa encharcada. - Eu estava justamente consertando tudo.

Alexandra olhava agora desconsolada para o copo quebrado a seus pés.

- Eu... sinto muito. Mas você... me deu um susto.

- Você fez um belo serviço - Harry comentou, seco. - Por que desceu? Estava com fome ou com medo?

- Um pouco de cada, eu acho.

- Temos umas tempestades terríveis por aqui - Harry explicava agora, enquanto tirava a malha grossa que vestira por baixo da capa. - E esta é das piores. - Sorriu, e ela pensou que aquela era uma das raras ocasiões em que ele não estava na defensiva. Por quê? Será que achava que poderia enfrentar a situação? Ou porque a notara realmente assustada? Esta era provavelmente a razão mais lógica e imaginou o que faria se lhe pudesse ler os pensamentos naquele momento.

Anjo LoiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora