Chapter 5

966 56 0
                                    

A Srta. Holland usava culotes antiquados, pesados e desconfortáveis. Sua aparência era algo cômica para os habitantes da estância. Entretanto, ninguém poderia contestar sua habilidade como amazona. Tornou-se imediatamente uma figura conhecida em toda a fazenda e os homens a apelidaram de La Mula, por causa de sua teimosia. Ao mesmo tempo eles apelidaram Alexandra de La Niña, e, apesar de não gostar de ser considerada uma criança, ela sabia que era um tratamento carinhoso.

Ricardo arranjou um cavalo capão cinzento para a Srta. Holland e Alexandra ficou com uma égua castanha. Cada vez mais seguros de si, os três aventuravam-se para mais longe. Depois de um antagonismo inicial, a Srta. Holland e Ricardo tornaram-se grandes amigos, e o escárnio dele foi substituído por uma grande admiração, quando constatou que ela era uma amazona impecável.

Naquela semana, Alexandra mal viu Harry, que passava a maior parte dos dias fora da casa. Depois do jantar, à noite, ele se recolhia a seu escritório e continuava a trabalhar. Ela descobriu que Jason trabalhava muito, tanto quanto qualquer um dos empregados, e estava a par de tudo o que acontecia na propriedade. Como era engenheiro, introduzira várias melhorias. Ricardo lhes contou que ele mesmo mandara instalar o sistema de encanamento na casa e mandara ainda cavar novos poços para substituir os que haviam secado.

A propriedade era imensa. Ricardo contou que levariam dias a cavalo para chegarem aos seus limites e que os homens, durante a contagem anual do gado, tinham que dormir ao relento. Alexandra pensou que adoraria dormir ao ar livre, sob o céu estrelado, cozinhando em fogueiras. Tinha uma visão romântica do fato, não prestando atenção quando Ricardo enumerava os diversos perigos, tais como cobras e aranhas venenosas.

Numa dessas cavalgadas matinais, Alexandra reviu o garanhão negro. Seguiam uma trilha nas montanhas e encontraram uma tropa de cavalos pastando numa das gargantas forradas de capim que ladeavam o rio. A aproximação causou nervosismo nos animais e Alexandra ficou tão encantada ao vê-los que a princípio não notou o cavalo negro, com as orelhas levantadas, de sobreaviso. Quando afinal o enxergou, o bando já estava em fuga, o estrondo de seus cascos ecoando nas paredes do canyon.

— Quê diablo! — Ricardo resmungou, impaciente, logo que eles desapareceram. — Ele é um diabo arrogante. Tem o orgulho do próprio Lúcifer!

— São cavalos selvagens? — perguntou Alexandra, interessada, e Ricardo sacudiu a cabeça.

— Não existem cavalos selvagens neste lugar. Aquela manada pertence ao patrão e, da mesma maneira que o gado, os cavalos são contados cada ano e o excesso é vendido.

— E... e o garanhão?

Ricardo sorriu e depois respondeu, bem-humorado.

— O diabo negro? Ele é um sabidão. Fica com as éguas todas para si!

— Harry disse que os vaqueiros o consideram um animal sagrado.

— Alguns sim, outros não. A verdade é que eles são muito supersticiosos. Como ninguém conseguiu domá-lo, ele tornou-se uma lenda.

— Uma lenda? — Alexandra repetiu, sorrindo.

— Quando queremos contar e separar algumas éguas, ele foge. O Diabo conhece cada passagem, cada canyon. É um trabalho infernal segui-lo.

Alexandra pôs o chapéu para trás, sentindo o calor do sol nos ombros e na cabeça.

Naquela noite, durante o jantar, Alexandra falou sobre o garanhão negro e surpreendeu-se com o ar preocupado de Harry.

— Pensei que você tinha me prometido não andar pelas montanhas — disse, zangado, para Ricardo.

Alexandra surpreendeu-se quando Ricardo desculpou-se, o que não era seu hábito.

Anjo LoiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora