- Parabéns... - ela falou baixo - Não sabia que além de cega você era uma boa atriz.

Eu engoli em seco, sentindo meus olhos arderem por baixo dos óculos. Dei um passo para trás, sem responder. Eu sentia que havia levado um tapa na cara, mas eu não sei se isso iria doer mais do que o que eu acabei de ouvir. O ar ficou tenso.

- Você é falsa - Camila continuou - Pena que eu não enxerguei isso antes.

Eu ri nervosamente, engolindo o choro.

- Você foi avisada - murmurei - Eu disse que você não me conhecia. Eu disse que você não tinha o direito de tentar mudar meu mundo. Você não pode fazer milagres, Camila. Eu sou assim... Cega... e uma ótima atriz, como você citou. Agora eu acho que... Você devia voltar para seus amigos e sua namorada. Volte para seu mundo e deixe o meu em paz. Você já fez o bastante.

- Não, eu não fiz. Você não me deixou ao menos começar, Lauren... Você não se permite se aproximar de ninguém e é por isso que é tão fria por dentro e por fora. Hoje eu posso te dizer que tenho pena de você.

Senti uma lagrima escorrer pelo meu rosto e o virei em outra direção, secando-a rapidamente.

- Vá embora - pedi andando em direção ao meu quarto, mas logo senti meu braço sendo puxado com força - ME SOLTA! - gritei empurrando-a e dando um passo para trás, mas a mesa de centro estava logo atrás de mim o que me fez cair de costas sobre ela. Meus óculos caíram dos meus olhos que soltavam lagrimas ininterruptamente. Soltei um soluço.

- Lauren! - Camila se abaixou e segurou em meu braço para me ajudar a levantar - Você está bem?

- Me deixe em paz! - exclamei me agachando no chão a procura dos óculos. Ela não podia me ver chorando. Não podia... Solucei de novo e me sentei no chão, com o coração doendo.

Pousei as mãos nos olhos molhados, escondendo o rosto e respirei fundo - Você está acabando comigo, Camila - murmurei secando as lagrimas. A respiração estava entre cortada.

- Não foi minha intenção - Camila sentou-se ao meu lado e passou a mão pelos meus ombros.

- Vá embora... - pedi pela quarta vez - Vá embora e me esqueça. Eu... Não posso ser sua amiga. Não é isso o que eu quero... Eu não aguentaria...

- Lauren, eu... Me desculpe, eu...

- VÁ EMBORA! - gritei entre lágrimas e soluços.

Demorou um pouco, mas eu senti sua mão sair levemente de cima do meu ombro e ouvi seus passos em direção a porta. Ela hesitou um instante, antes de subir as escadas do hall e abrir a porta, mas ela foi aberta e foi fechada logo depois.

Meu coração doía, estava apertado, oprimido.

Eu nunca havia chorado tanto como chorei naquele momento e eu também nunca havia sentido uma dor tão forte e intensa. Mas um dia ela passaria... Era sempre assim... Foi assim com Vero e ia ser assim com Camila...

Quando abri os olhos na segunda-feira pela manhã, pensei que ainda estivesse sonhando. Minha visão estava embaçada ao extremo, mas eu via as cores difusas do meu quarto, a cor azul da parede e o guarda-roupa vermelho...

Fechei os olhos novamente, sem acreditar e pressionei-os, balançando a cabeça. Isso era impossível. Eu era cega, o médico disse que eu não tinha possibilidades de voltar a enxergar.

Os abri de novo, esperando ver meu quarto nitidamente, mas não havia mais nada.

Tudo estava escuro novamente.

Umedeci os lábios, nervosa e confusa. Não havia sido uma alucinação, eu, realmente, havia visto os contornos dos moveis do meu quarto, mas como?

- MÃE! - gritei chamando-a - MÃE!!!

Meus olhos começaram a arderem, como se estivessem expostos a luz e logo lacrimejavam. A porta do meu quarto se abriu com violência e os passos se aproximaram correndo da cama.

- O que foi? - ela perguntou preocupada ao me ver de olhos fechados e bochechas molhadas - Lauren, fale!

- Está ardendo... - murmurei sem conseguir abrir os olhos - Eu... Eu vi cores quando acordei.

- O que? Ai meu Deus! - Minha mãe se levantou, depois sentou-se novamente - Você tem certeza?

- Claro que sim! - exclamei irritada. Estava ardendo muito - Está doendo! É como se eu estivesse na primeira semana lá no hospital. Eu não consigo abri-los!

- Se você abri-los, você ainda consegue ver alguma coisa? - minha mãe estava ansiosa.

Balancei a cabeça negativamente.

- Foi só quando acordei.

- Certo... O.k. - Ela suspirou, sem saber o que fazer e depois estalou a língua - Vamos ao médico. Certo? Vamos ao médico... - A cama se mexeu e logo depois a porta do guarda-roupa foi aberta - Vamos, levante. Quando terminar de se arrumar, me avise. Vou ligar para o doutor.

Be My EyesWhere stories live. Discover now