Elena

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- Não estou rindo da sua família. Também sou a minha própria.

Coisa curiosa sobre o amor: você nunca sabe onde vai encontrar. Em média são estimados quatro minutos para que você se apaixone por alguém e quantas pessoas você já conheceu em quatro minutos? Não sei se devo taxar nosso de cérebro de extremamente brilhante ou extremamente estúpido para escolher alguém para se apaixonar em quatro minutos, porque... quantas pessoas foram ignoradas no seu caminho para que justo aquela em questão seja a "escolhida" e quantas vezes essa "escolha" sai pela culatra e nos faz gastar muito, mas muito, mais que quatro minutos para superar o estrago que foi causado? E, aqui meus queridos amigos, está a razão pela qual meu cérebro e eu não nos damos muito bem: ele foi extremamente burro nesses quatro minutos!

- E seus pais?

Interrompi minhas conclusões idiotas quando ouvi a voz de Maria Luísa soar. Minha admiração foi extremamente perceptível quando descobri que a entrega que Joey me mandara fazer era para "Alma Vermelha". Ela estava diferente. No lugar do chapéu e dos óculos estava uma grande cicatriz, cortes limpos mas que ganhavam toda a extensão do lado esquerdo de seu rosto e desenhavam o branco pálido da pele com o vermelho; seus olhos já não gritavam mais, não eram tão desesperados e doídos como da última vez que os vi, tinham ternura, esperança e um bocado de medo que foi se esvaindo enquanto a conversa fluia. Aquilo me fez admirá-la mais, tentava imaginar o que havia acontecido quando contou que o marido estava morto, senti alívio em sua voz com o comentário.

- Não querem me ver, então também não faço questão - murmurei seca depois de um tempo em silêncio. Não fazia diferença, não mais.

- E está sozinha? Nunca se casou? - ela estava em seu direito de fazer perguntas, eu mesma lhe havia feito milhões delas, então não poderia reclamar.

- Não exatamente - torci o nariz insatisfeita - Pelo menos nunca oficialmente.

- E seu marid...

- Esposa - a interrompi num reflexo que não me deu espaço para maiores entendimentos do motivo.

- Sua esposa - corrigiu me lançando um olhar penetrante, parecia involutário para ela - Onde está?

- Podemos dizer que não funcionou como o esperado - foi minha única resposta. Esse não era, nem de longe, meu melhor assunto e ela parece ter percebido.

- Não precisa falar sobre ela se não quiser - terminei meu chocolate com um último gole generoso.

- Está tudo bem, não me importo mais.

Me levantei e contornei o sofá inquieta, de alguma forma sua leveza se esforçava para me deixar confortável naquela sala quente. Sorri, um sorriso amarelo e me direcionei ao balcão da cozinha ignorando completamente as advertências subconscientes. A tempestade ruia alto do lado de fora da cabana e aquilo me incomodava, não o evento em si, mas está-lo vivenciando aqui, com uma pessoa recém conhecida. Eu não era boa com pessoas, na verdade, eu era péssima.

- Então... vai me contar sobre ela?

A voz calma e curiosa pairou no ar e soltei um suspiro. Eu havia acabado de dizer que não me importava, certo? E deveria mesmo não me importar, Megan era apenas as consequências de quatro minutos de confiança em meu cérebro estúpido.



Sua alma em vermelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora