Parte IV - A Estrela Obsidia

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- Como fez aquilo? - Hasttwe me encarava nervoso.

- Fiz o que? - Enruguei a testa.

- Você iria morrer, mas depois despencou do espaço.

- Matrix? - Levantei os ombros de forma casual, tendo certeza que ele não entenderia a referência, e suspirei. - Eu consigo fazer coisas inexplicáveis. Sou a Lady Constelação, não é mesmo?

Foi uma resposta fajuta, até o mais idiota dos homens perceberia isso, mas eu simplesmente não podia contar a verdade para Hasttwe. Lá no fundo, a história toda era uma loucura inexplicável, até mesmo para ele. Então, para descontrair o clima e mudar de assunto, sorri.

- Continue de olhos no céu. Quem sabe, numa próxima vez, eu caia nos seus braços.

Não existiria uma próxima vez. Caso eu morra agora e perca a última vida, não haveria uma segunda chance de abraçá-lo. Foi por isso que deixei minha cabeça descansar em seu peito, como um último  adeus, enquanto seguíamos para nossa próxima missão: a estrela obsidia. Por mais que eu lutasse, não conseguia deter a entrada do Capitão das Galáxias no meu coração. Eu estava ali para senti-lo em todo seu esplendor.

E lá estava nosso próximo destino: o Sol. Uma enorme esfera de gás incandescente. Seu brilho e intenso calor eram ofuscantes, ainda mais devido as erupções solares por toda sua extensão. Era uma vista maravilhosa, mas incrivelmente assustadora. Nunca cogitei estar diante da estrela mais importante da nossa Via-Láctea, e esse fato me trazia certo medo. Contudo, o corpo celeste alaranjado e vermelho não foi a real causa do meu pânico, mas sim o despontar de uma gigantesca espaçonave. Eu realmente estava na última fase do jogo.

A eclosão da nave-mãe e de outras máquinas pareciam um contraste horrendo à exuberância do sol. Seria apenas nós dois contra uma raça inteira de duxters? É... Estávamos ferrados. Meu rosto deveria mostrar todo meu terror, já que Hasttwe tentou me consolar.

- Não se preocupe, Lunitty! Eu vou mantê-los ocupados, enquanto você espera a estrela sugir. Quando a superflare acontecer bem ali, - Ele apontou uma direção no sol - a estrela voará. Não importa como, pegue-a. É o único jeito de destruir a nave-mãe e salvar a galáxia. 

- E como você planeja manter a abelha rainha longe? - Minha voz subiu umas oitavas, na medida que Hasttwe mostrava confusão pela minha escolha de palavras. Okay, não existia abelhas no seu antigo planeta. - Você é só um cara contra um exército de duxters. Isso é suicídio!

Pensar que o Capitão das Galáxias poderia morrer por minha causa era sufocante demais. A verdadeira Lady Constelação não me perdoaria, tampouco eu mesma. Aquele plano kamikaze não estava em discussão.

- Nem pensar que você vai enfrentar esse horror de alienígenas sozinho. Vou com você! - Disse raivosa.

Ele me salvou tantas vezes, que, finalmente, havia chegado a hora de retribuir. Entretanto, Hasttwe parecia travar uma batalha interna consigo mesmo. Independente da sua resposta, eu não o abandonaria. Isso soava mais impossível que ver Curupira fazendo moonwalker, ou zerar Metal Slug sem morrer uma vez sequer. Ele colou sua testa na minha e fechou os olhos.

- Sinto muito, Lunitty! Mas isso não vai acontecer.

Antes que eu pudesse falar algo, Hasttwe me empurrava de forma sutil, mas forte em direção ao espaço.

- Hasttwe!!!

Entretanto, ele já desaparecia em outro buraco negro. Merda! Os homens eram teimosos até nas raças de alienígenas. Eu o vi aparecer mais perto da nave-mãe, destruindo, pelo caminho, pequenas astronaves com sua espada, que só podia ser blindada com vibranium.

Por mais que eu tentasse evitar, o medo corroía cada uma das minhas células. Vê-lo lutar com uma raça inteira de aliens para me salvar e salvar a galáxia era apavorante. No entanto, mesmo que doa, não havia mais nada a ser feito. Com o peito apertado, voltei minha atenção para as explosões solares, encontrar a última estrela era o único jeito de mantê-lo vivo agora.

Embora Hasttwe lutasse como um deus celeste, não pôde entreter os duxters por muito tempo. Eu via os alienígenas flutuando incessantemente na minha direção, na medida que esperava a superflare acontecer. Quando senti o primeiro bicho segurando meu pulso, soquei sua cara de lagarto e, assim como os outros, ele explodiu numa nuvem de poeira.

Para minha sorte, o sol já dava indícios de seu futuro estouro. Entretanto, um barulho diferente foi capaz de chamar minha atenção na quietude do espaço. A poucos metros do Hasttwe, uma nave se desmembrava de sua estrutura original e mostrava uma espécie de raio laser. Infelizmente, a arma seguia na direção do meu alienígena favorito, que estava ocupado demais para se defender. O medo e a possibilidade da perda encheram meu coração de temor. Eu estava congelada de pânico diante da sua morte evidente.

Ele me deixaria e os impactos dessa realidade destroçaram minha existência. Por mais que eu tenha lutado para voltar ao meu mundo, o que me consolava era saber que, no final, o Capitão das Galáxias continuaria bem. Agora, sabendo que sua vida fora ameaçada, eu só tinha uma ação egoista para colocar em prática, independente de suas consequências arrasadoras. Não poderia deixá-lo morrer. Nunca!

Um novo duxter surgiu no meu campo de visão. Antes que ele me atacasse, agarrei seu dois braços escamosos com a mão esquerda, e concentrei todo meu poder naquele soco. A força do impacto foi tão desmedida, que eu voei pelo cosmos como uma bala, em direção a nave subordinada.

- O que está fazendo, Lady Constelação?! - A fala do senhor Andrômeda na minha cabeça era transtornada. - Você enlouqueceu?

- Acho que sim! - Lágrimas brilharam nos meus olhos ao avistar a estrela obsidia saindo do sol e se perdendo na escuridão do espaço. - Deve ser loucura escolher um homem no lugar da minha própria liberdade.

Com essa fala, atravessei a nave que ameaçava a vida do meu E.T. Um emaranhado de metal e ferro destroçaram meu vestido, enquanto a máquina explodia a minha frente. Feridas recém-adquiridas manchavam a pele bronzeada dos meus braços, ombros e cara. Pelo menos, eu não havia morrido ao fazer um rombo na espaçonave com o corpo; pelo menos, Hasttwe estava salvo. Quem diria que a Lunitty era realmente forte, apesar de todos os meus músculos pedirem arrego.

- Você falhou na missão, Lady Constelação. - Senhor Andrômeda parecia desapontado.

- Isso não importa mais! - Suspirei pesado. Não importava mesmo. Tudo o que era de valor para mim continuava vivo e respirando, então o sacrifício valia a pena, mesmo que a galáxia tenha sido uma vítima dessa atitude egoista.

- Sinto muito, Lady Constelação!

- Sou eu que sinto, senhor Andrômeda. - Eu não vi, mas senti quando a réplica do bebê Yoda desapareceu para sempre.

Não havíamos compartilhado bons momentos juntos, mas sua partida me trouxe tristeza. Infelizmente, era uma prova de que eu nunca voltaria para casa.

- Você está bem? - Hasttwe me olhava preocupado. - Por que fez aquilo, Lunitty? Você poderia ter morrido. - Inquieto, ele me sacudiu.

Sorri melancólica.

- Você poderia me chamar de Ayla? - Lágrimas escorriam por minhas bochechas. - É um dos meus sonhos escutar meu nome saindo da sua boca.

Eu perdi, nunca mais voltaria e o universo seria destruído. Depois de tudo, o mínimo que eu precisava era ser chamada pelo meu verdadeiro nome.

O fardo dessa consequência era excruciante demais para um único ser vivo aguentar. No entanto, sem se preocupar com meu suposto ataque de loucura, Hasttwe fez mais do que apenas me chamar de Ayla. Foi diante da balbúrdia dos duxters que ele me pegou nos braços e deslizou seus lábios sobre os meus. Os toques das nossas línguas apaziguaram meu coração angustiado. Seu beijo tinha sabor das estrelas, daquelas com brilho intenso, que são capazes de iluminar até a alma da pessoa mais rancorosa do universo. Naquele momento, eu soube que, seja qual for o meu destino, eu havia feito a escolha certa.

Hasttwe encostou sua testa na minha e suspirou.

- Eu te amo, Ayla!

E eu acreditei. Enquanto nos beijávamos uma última vez, as armas da nave-mãe foram apontadas na nossa direção. Pelo menos, eu não estava sozinha.

1342 palavras

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