❥ Uma Carta Para o Amor

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(30 de maio de 2197)

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(30 de maio de 2197)


Prezado Amor,

Imagino que você ficará surpreso ao receber esta carta, porque convenhamos que atualmente este não é um meio comunicativo muito valorizado por nossa sociedade cada vez mais instantânea. Mas eu sei que você gosta das coisas mais simples e trabalhosas, então julguei viável escrever-lhe manualmente para comprovar de que senti muito a sua falta.

Eu não preciso lhe inteirar de como este mundo anda louco, não é mesmo?

Pois, você deve saber que uma doença extremamente contagiosa infectou por completo quase toda a nossa população mundial. Sem dúvidas, agora enfrentamos a pior crise já vivenciada na história da humanidade.

Nossas autoridades — depois de muito tempo — finalmente declararam oficialmente estado de calamidade global, e assim todos nós, humanos, estamos confinados dentro de nossas próprias casas em processo de quarentena.

As estatísticas, segundo especialistas, apontam que 77% da população da Terra, hoje, já está contaminada com a doença misteriosa que ameaça a continuidade da raça humana dentro do planeta.

A causa desta doença ainda é uma incógnita para todos, mas tenho uma teoria pessoal de que ela está intrinsecamente ligada em nossos relacionamentos sociais. Explicarei isto mais tarde, porém.

Inclusive, é bastante provável que eu também faça parte dos números que compõem as estimativas das vítimas pelo contágio. Já que a doença é assintomática, nós só descobrimos a sua existência após o cruel e eterno abraço da morte. Por isso, apelidei esta enfermidade maligna carinhosamente de "mal-fantasma".

O lado bom de toda esta história caótica é que eu finalmente tive algum tempo para arrumar a minha casa — que estava uma zona —, já que serei obrigado a conviver comigo mesmo por um período indeterminado. Todavia, ainda que esteja tudo organizado e devidamente equipado aqui em meu apartamento, eu ainda sinto aquele mesmo frio no estômago todas as noites, o vazio no meu peito é incessante, e não consigo dormir direito.

Lembro-me de quando ainda era uma criança e você me confortava nas repetidas vezes em que eu acordava de madrugada aos soluços, tremendo de frio, por causa de algum pesadelo noturno. Nunca vou esquecer de como você enxugava todas as minhas lágrimas amedrontadas e me levava ao seu colo morno, fazendo questão de me dizer que tudo ficaria bem porque você sempre estaria comigo.

Entretanto, por que — mesmo sabendo disso — fiquei tanto tempo sozinho?

A verdade é que quando cresci, comecei a ter outras preocupações e me esqueci completamente que o meu porto seguro é você.

Uma vez que, ao crescer, nós — os humanos — costumamos iniciar uma grande corrida uns com os outros por status e poder; comigo não foi muito diferente.

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