Colegas de Quarto ✽ Capítulo 2

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A loira esperou em frente à porta por mais alguns segundos, mas, como Esther não falou mais nada, achou melhor terminar de empurrar as malas para dentro e começar a se ajeitar.

E só então parou para reparar no quarto. Era bem diferente da imagem de beliches empoeirados que vinha na sua cabeça quando pensava em "internato". O espaço era amplo para duas pessoas, com pisos e móveis de madeira. Uma janela bem aberta dava visão para os extensos campos verdes no terreno do colégio, atravessados por um lago tranquilo cuja superfície refletia a luz do sol. Em cada lado, havia uma cama de solteiro encostada na parede, com uma mesa de cabeceira ao lado. Seis armários grandes ocupavam a parede em frente à entrada, e Natalie pensou que provavelmente não teria roupas o suficiente para encher a sua parte.

Ainda havia um frigobar pequeno bem no canto do quarto, na parte de baixo de uma escrivaninha. Natalie nunca havia visto um frigobar fora de filmes.

— Uau, que quarto mais lindo! — Caminhou até a cama mais próxima da porta, que tinha sobre ela apenas um travesseiro sem fronha e um lençol fino. A outra já estava arrumada com um edredom lilás e travesseiros combinando. — Eu fico com essa, então?

— A menos que queira dormir comigo.

Natalie literalmente engasgou. A profundidade dos olhos azuis cravados nos seus, junto com a resposta na voz baixa de Esther, fez seu rosto esquentar. O que ela quis dizer com aquilo? Era uma pergunta retórica ou só estava tentando ser grossa? Do tipo "Óbvio, ou vai querer dormir em cima de mim"?

Tentou fingir que não escutou nada, pois não sabia o que responder, e se concentrou em abrir as malas e começar a organizar suas coisas, já que puxar conversa não tinha sido nem remotamente frutífero. As roupas de cama haviam sido mandadas naquela semana pela sua mãe e estavam cuidadosamente dobradas dentro de um protetor plástico ao lado da mesa de cabeceira. Quando o silêncio do quarto começou a se tornar insuportável, Esther finalmente falou:

— Estou indo para a reunião do Conselho Estudantil. — Ela parecia uma bonequinha de porcelana, com os fios de cabelo agora perfeitamente alinhados, emoldurando seu rosto. — Você precisa de alguma ajuda?

— Eu... preciso ir na secretaria fazer o check-in — murmurou — Sabe me dizer onde fica?

Esther explicou de maneira sucinta como chegar até a secretaria e que documentos levar. Também informou que o jantar seria servido das 18h às 19h30. Antes de sair pela porta, porém, lançou um olhar gélido para as unhas compridas da nova colega de quarto:

— Hoje ainda é permitido usar roupas casuais, mas corte as unhas e tire esse esmalte. Acessórios também são proibidos nas dependências do colégio e não quero que você me cause problemas. — Então simplesmente saiu pela porta, como se tivesse acabado de lhe desejar um bom dia.



Já era noite quando Natalie finalmente deixou o peso do corpo cair contra o sofá de couro, cansada demais até para se sentir deslocada ou sozinha.

Passou mais tempo do que gostaria na secretaria, com outras garotas que também chegaram tarde para o check-in. A pior parte do seu dia foi ter que deixar seu celular lá, como era o processo padrão: o uso de celulares dentro do terreno do internato era completamente proibido e todos os aparelhos deveriam ser entregues no momento do check-in e só liberados para emergências (havia um telefone em cada quarto para conversarem com suas família), saídas aos finais de semana, e aos domingos.

Quando finalmente terminou, Natalie precisou correr até o refeitório para chegar antes do fim do jantar. A ansiedade que apertou seu coração desde o momento em que chegou ao internato também a deixou sem apetite, então mesmo diante do buffet incrível com sete opções de sobremesa, optou apenas por um sanduíche natural. Sentiu-se elegante e misteriosa quando recebeu olhares curiosos de outras alunas enquanto cruzava o salão de jantar, e aceitou prontamente o convite de Alice para sentar com ela, em uma mesa repleta de garotas bonitas do seu ano. Não encontrou Esther nem no refeitório, nem quando voltou para o quarto após o jantar. Começou a desfazer as malas, mas se entediou milhares de vezes no processo e ficou procurando maneiras de protelar — reclamou consigo mesma sobre ser ridículo não poderem manter os celulares; organizou todos os produtos de cabelo e skincare, tomando conta de mais da metade da bancada do banheiro; e fuçou respeitosamente (pois não mexeu em nada!) o lado do quarto de Esther, arrumado de maneira impecável. Quando viu, já estava atrasada e teve tempo apenas de tomar um banho antes de ir à sala comunitária para a tal recepção.

Lilium (Colegas de Quarto)Onde histórias criam vida. Descubra agora