Next step

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Os dias seguiam tranquilos, minha agenda sempre estava cheia de aulas e pequenas reuniões com outros jovens da nobreza, nada de muito diferente do que eu já estava fazendo pelos últimos anos.

Nos pequenos espaços de tempo que eu tinha para mim mesmo gostava de ir aos estábulos observar os cavalos, havia um deles que era muito arisco, não permitia que ninguém o montasse e provavelmente só estava lá pois tinha uma aparência deslumbrante, sua cor era escura como pixe e sua crina, diferente da dos outros animais, não havia sido cortada, olhos escuros como a noite, musculatura desenvolvida, provavelmente porque foi capturado próximo a um terreno com muitas montanhas.

Era um lindo e jovem corcel, e eu me simpatizava com sua situação, afinal estava sendo obrigado a mudar sua natureza... todas as vezes que tinha uma "janela" no cronograma me dirigia às escondidas para o estábulo para vê-lo, e quando conseguia, levava comigo alguma fruta para tentar agradar meu primeiro amigo. Dei a ele o nome de Brian ("aquele que é forte"), e com o tempo recebi a liberdade de acariciá-lo.

Mas esse era apenas meu passatempo durante o dia, após as 21 horas, quando Eldy deixava meus aposentos e me garantia que ninguém entraria no quarto, silenciosamente trocava de roupa, usando a camisa cinza, calças surradas, meias rasgadas e o protótipo de sapato ficava parecido com um menino comum e para garantir que não seria facilmente reconhecido colocava um manto escuro para esconder o rosto.

Meu quarto ficava no segundo andar e como não podia simplesmente abrir a porta, descer as escadas e sair pela frente, pulava da janela e me agarrava aos galhos de uma árvore que ficava próxima. Entretanto essa era a parte fácil, ao descer da árvore ainda teria que descobrir uma forma de atravessar o jardim, passar pelos muros e garantir que nenhum dos guardas me avistassem durante o processo. Na época ainda não tinha as artimanhas para me esgueirar despercebido nas fugas noturnas, mas com o tempo fui descobrindo quais eram os pontos cegos.

Na minha primeira fuga, me arrastei pelos arbustos até chegar ao murro, tive que esperar por apenas 15 minutos que mais pareciam horas para que um dos guardas se distraísse e não percebesse minha escalada pelas videiras. Quando pisei no chão do outro lado e senti o vento frio em meu rosto... foi uma sensação inesquecível, as luzes amareladas que iluminavam a rua eram lindas e brilhavam mais que qualquer candelabro! Infelizmente não podia me dar ao luxo de ficar desfrutando da paisagem, precisava encontrar alguém que pudesse me ensinar a como manejar uma espada ou qualquer tipo de arma, alguém que faria isso por dinheiro e pelo mesmo não iria meter o nariz na minha vida fora das ruas.

Comecei a andar pelas ruas observando as pessoas, homens e mulheres comuns transitavam pela rua principal e nos becos prostitutas e pessoas mal encaradas ficavam à espreita, crianças desnutridas e velhos sujos mendigavam por todos os cantos. Fazendo uma breve análise do que tinha visto percebi que o que eu estava procurando provavelmente seria encontrado em algum beco e não na rua principal. Sendo assim decidi entrar em um dos becos, mas como sabia que uma criança de 7 anos não teria chance contra um adulto armado, esperei até que alguma mulher ou criança entrasse primeiro.

Sei que não era algo digno usar alguém tão indefeso quanto eu como um recurso para caso algo de errado, mas no momento era a única solução que veio a minha mente. Quando uma mulher entrou no beco, cautelosamente a segui enquanto observava as pessoas ao redor, mas ninguém que atendia meu desejo aparecia.... haviam homens fortes, mas ao olhar para eles dava para perceber que eram apenas sacos de músculos que dependiam da força e não de técnicas ou manejo de uma espada, e infelizmente eu não tinha a opção de desenvolver minha musculatura, já que na sociedade me passava por um garota.

Continuei seguindo a mulher até que um marmanjo a abordou, nesse instante decidi me retirar para que não fosse pego no meio de uma confusão. Ele a agarrou pelo pulso e começou a prensa-la contra a parede, rasgou parte das roupas e ela começou a chamar por socorro. Não era algo inesperado, já que a maioria das mulheres que estavam nos becos tinham como profissão a prostituição e ao entrar neles esperasse que a maioria as olhem como putas. Eu não podia me deixar comover pela cena, meu cérebro estava me dizendo sem parar para sair daquele lugar e eu já tinha decidido bater em retirada, mas meu corpo de mexeu sozinho e eu agarrei o outro pulso da jovem, naquele instante o tempo pareceu parar e tudo o que vinha em minha mente era: o que você foi fazer?

Pelo trono vale tudoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن