4. Alexis Donavan

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Quando a porta se fecha atrás dela, e estamos sozinhos, eu encaro Bash.

— Você é tão vadia. — eu acuso.

Ele ergue o olhar para mim.

— Por que eu to transando sem compromisso?

— Porque ela tá se apaixonando. E você sabe disso.

Bash não curte relacionamentos. Está com a Ginna há alguns meses, mas é unicamente sobre sexo. Pelo menos para ele.

Mas eu já vi isso acontecer algumas vezes.

Antes disso era a Chelsea.

E antes era a Hailey.

— Ela não disse nada. — ele comenta dando uma garfada no prato.

— Óbvio que não. Ela sabe que você vai pular fora assim que ela disser.

Ele se vira para mim.

Bash raramente fica irritado, mas ele não gosta que entrem no espaço dele. E eu tenho certa tendência de fazer isso.

Acho que é por isso que gosto dele de verdade.

Bash mantém distancia dos outros. Ele nunca invade o meu espaço, apesar de eu não fazer o mesmo.

Geralmente, quando as pessoas descobrem sobre os vícios, há duas reações. As pessoas que ficam meio assustadas e desconfortáveis, enquanto evitam o assunto e me encaram como se eu fosse um bicho de sete cabeças.

E as que ficam fascinadas.

Como é a abstinência?

Como começou?

Qual a sensação das drogas?

Costumo já ter as respostas na ponta da língua.

É fodido para caramba.

Quando eu tinha 15 anos e conheci meu primeiro amor, Warren.

É fenomenal.

Não é um assunto sensível para mim. Mas é cansativo e frustrante. Descrever sobre bebida e drogas, me faz querer beber e fumar.

É como lembrar de um ex namorado tóxico. Flashs dos bons momentos passam pela sua cabeça. E você esquece de todas as vezes que ele te chamou de idiota ou que te jogou contra a parede.

— Você gosta de ficar aqui, não gosta? — eu não tenho chance de responder, porque ele me corta. Bash sabe que seu eu abrir a boca eu provavelmente direi alguma frase irônica e espertinha sobre como o serviço de quarto é medíocre ou o café é nojento. — Então da um tempo com os conselhos amorosos.

Porra, eu tenho mesmo que arranjar uma amiga.

Eu rolo os olhos enquanto ele se levanta e leva o prato para a pia.

Curiosamente, eu e Bash nunca transamos. O que é estranho, porque eu costumo transar com todo mundo.

Não todo mundo. Mas com bastante gente.

E Bash é definitivamente transavel.

Alto, moreno, definido.

Ele é popular entre as garotas da faculdade.

Mas quando nos conhecemos, eu namorava o colega de quarto e amigo dele. E depois, ficamos amigos demais para isso.

Também não quero estragar as coisas.

Eu tenho a terrível tendência de acabar com tudo em que toco.

Bash saí para a aula e eu acendo um cigarro enquanto enfrento a ideia de que daqui a algumas horas terei que ir para o círculo da superação.

Círculo da superação.

Eu odeio esse nome ainda mais do que o próprio círculo.

(...)

Horas depois, estaciono próximo a entrada. A rua em que se encontra o galpão do círculo é muito tranquila. Quase morta, eu diria.

O dia está bonito. Fresco e apenas um sol tímido entre as nuvens.

É outono, as árvores estão nuas e cinzas.

Estou procrastinando para entrar enquanto fumo do lado de fora. Henry não costuma pegar no meu pé por atraso. Acho que desde que eu não falte, o juiz não precisa saber de nada.

Hoje foi um dia particularmente difícil. Eu parei em uma loja de conveniência para comprar cigarros e chocolate e fiquei encarando fixamente por talvez uns cinco minutos as garrafas de vodka perto do caixa.

A minha boca secou e eu tive que reunir a pouca força de vontade que eu tenho e sair de lá.

Mas as minhas mãos ainda tremem e eu ainda consigo imaginar como seria o gosto do álcool descendo pela minha garganta.

Fiz o meu melhor para me distrair desde que saí da loja.

Quando fica muito ruim, eu preciso fazer alguma coisa. Me mover. Caso contrário eu começo a pensar que talvez um gole não seja tão ruim. Ou que apenas um pouco de cocaína vai ser o suficiente.

Minha vontade de ficar sóbria fica em uma luta contra a viciada dentro de mim.

E se a luta continuar por muito tempo, eu sei quem vai ganhar.

Eu trago o meu cigarro. Forte.

Fecho os olhos, tentando fazer com que o tabaco seja o suficiente.

Mas não é. Nunca é.

O tabaco não me tira da realidade.

Ele não me tira de mim.

Porque quando eu abro os olhos de novo, ainda sou eu.

11:45Where stories live. Discover now