Capítulo 3 - Questions

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Aquilo havia sido realmente perturbador. Rey ainda conseguia ouvir a voz, alta e clara, em sua cabeça. Talvez ela estivesse pensando muito sobre aquilo, mas foi tão real que não havia como evitá-lo.

Ela saiu de seu dormitório e se dirigiu a sala de Leia. Não sabia o que iria ouvir de sua Mestre pois ela era sempre tão sensitiva e atenta que, a este ponto, provavelmente já sabia das ansiedades e dos pesadelos da garota. E Rey não havia dito nada sobre o que acontecera quando foi enviada à busca de Luke.

Na verdade, ela contou à Leia apenas o necessário para mantê-la estável. Disse a ela que encontrou Luke, treinou com ele por alguns dias e que havia achado uma maneira de se infiltrar na Primeira Ordem. Uma falha. Contou-a como Snoke tentou matá-la, que isso havia resultado em sua morte e então na sua própria fuga de volta à Resistência. Ela não mentiu sobre nada, mas não lhe contou todos os detalhes intencionalmente.

Não queria que ela soubesse de sua conexão com Ben... Ou Kylo. Isso poderia enchê-la de esperança, pensou inicialmente ao lembrar de como ele havia salvado sua vida e a deixado conhecer um lado escondido que ele não havia mostrado a ninguém. Mas então, as palavras duras e gélidas que ele disse a ela preenchiam seus pensamentos, e ela se lembrava. Ben Solo havia sido morto. Consumido por Kylo Ren.

Ela apertou os olhos e respirou fundo. Se Leia pedisse a verdade, ela lhe daria. Mas a garota não queria arrancar as esperanças de sua Mestre e muito menos criar novas sabendo que o tão amado filho da princesa havia a deixado para sempre.

- Mestre? Eu estou aqui - Rey disse dando alguns passos em direção a uma grande mesa metálica que a separava da General. Ela estava em pé ao lado da mesa, analisando algo em uma projeção. Segurava um livro grosso e aparentemente antigo em suas mãos. Quando viu a aprendiz, sua expressão se tornou tranquila e terna e ela se aproximou da jovem com passos lentos.

- Rey, querida. Como está se sentindo? Vamos nos sentar um pouco, sim? - Disse indo em direção a jovem e guiando-a até um pequeno divã que se estendia ao lado da mesa.

- Eu estou bem, General. Não há com o que se preocupar, eu prometo.

A mulher estudou-a por alguns segundos antes de soltar um longo suspiro e olhar para o livro em suas mãos.

- Você não precisa esconder nada de mim, minha jovem. Sei que consegue lidar com seus problemas sozinha, mas isso nunca me fará menos interessada em oferecer-lhe ajuda. Não precisa me contar suas angústias para que eu as conheça. - disse olhando para a garota novamente, desta vez com um sorriso triste em seu rosto.

Rey não a respondeu e apenas repousou o olhar sobre as mãos frias e acolhedoras de Leia sobre as suas, em uma tentativa de conforta-la. Aquilo a fez querer contar a ela sobre todas as suas aflições e pesadelos, receios e as perguntas sem resposta que perturbavam seu sono. Sobre Ben. Mas as palavras morreram em sua garganta e suas forças se esvairam.

- Só não deixe que isto te consuma. Não vou força-la a se abrir, mas não posso deixar que essa ansiedade e dor que está sentindo te levem para longe de quem realmente é. Eu já perdi alguém dessa forma antes, e isso não acontecerá novamente.

Ela não precisava dizer de quem estava falando para que a garota a entendesse. Leia amava seu filho, e o Lado Sombrio e Snoke haviam o tomado dela. Por alguma razão era como se Rey também tivesse o perdido.

- Eu estou cansada, só isso. Tenho muito a te dizer, mas só quero estar preparada para lutar pela Resistência agora.

Leia a olhou compreensiva e acenou positivamente.

- Está certo. Está na hora de eu lhe entregar isto, você está pronta - a mulher disse entregando o livro grosso para Rey.

- O que... - Rey começou a dizer mas logo percebeu o que estava segurando. Ela havia ficado pouco tempo com Luke, mas tinha guardado a aparência das escrituras Jedi em sua mente.

- Isto é...- ela disse fascinada enquanto folheava suas páginas.

Leia sorriu acolhedoramente e assentiu.

- Escrituras da Ordem Jedi, sim. Luke me deu alguns destes durante o meu treinamento, e agora eles são seus. - a mulher disse levantando-se e pegando mais dois livros que estavam sobre a mesa metálica.

A garota a olhou entusiasmada e Leia riu brevemente. Ela sentia falta daquele brilho nos olhos que tanto Rey como seu filho tinham.

- Eu os darei a você para que possa completar seu treinamento. Você se mostrou uma ótima Padawan, então os merece.

- Obrigada, Mestre, muito obrigada. - a jovem disse se levantando para pegar os livros, mas Leia os puxou de volta para si.

- Rey... - ela disse, sua voz tomando um tom carinhoso e cuidadoso enquanto se aproximava, encarando os olhos cansados de sua aprendiz - A única maneira de vencermos esta guerra é cultivando esperança sobre dias melhores. Por favor, não deixe que ela se apague em você...

Os olhos de Rey umideceram instantaneamente e flashes de memória cruzaram sua mente.

Você não está sozinha.

Você ficará comigo.

Junte-se a mim, por favor.

O ar deixou os pulmões da garota e seus joelhos fraquejaram.

Ben. Sua própria voz ecoou em sua cabeça e ela apertou os olhos numa tentativa de afastar a voz pedinte e os olhos tristes de Kylo de seus pensamentos.

- Sim, Mestre.

Ela acenou para a mulher, forçando um sorriso e recebendo um olhar preocupado de Leia.

- Fique bem, certo?

Ela acenou uma última vez e saiu da visão da General.

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Rey percorreu o longo corredor apressadamente. Queria chegar logo ao seu alojamento e focar sua atenção nas escrituras Jedi. Ela sabia que Finn, Rose e Poe estariam preocupados com a sua ausência prolongada, mas ela queria - queria não, precisava ocupar seus pensamentos antes que aquilo tudo a consumisse.

Ela chegou ao seu dormitório e apertou um dos comandos do painel para trancar sua porta, encostando-se ofegante contra a superfície gelada da parede. Apertou os olhos e respirou fundo, aliviada. Ela não sabia se teria aguentado mais um minuto lá fora. Parecia que ela ficava vulnerável e, por algum motivo, sentia um peso no peito, quase como se algo, ou alguém, estivesse a observando.

A garota caminhou até sua cama e colocou os livros que Leia havia lhe dado sobre a pequena mesa de metal.

Rey abriu um dos livros e começou a folhea-lo. A maioria das coisas escritas ali eram novidades para ela. Mas uma delas chamou sua atenção em particular.

- "Os Sith e o Lado Sombrio"... "A Força me libertará." - ela leu baixo e então voltou sua atenção para a imagem detalhada na página - Um... Wayfinder? Mas o que...

Um arrepio percorreu cada centímetro do corpo da garota e ela sentiu um familiar calor tomar conta de seu peito, seus dedos ficando gelados. Ela arqueou as sobrancelhas surpresa e confusa. Algo estava errado.

- Quem está aí? - ela disse entre os dentes, quase grunhindo em defesa contra aquela sensação tão familiar e tão aterrorizante.

Um segundo de homogêneo e cruel silêncio. Nada. Rey suspirou frustrada e voltou sua atenção para o livro antigo sobre a mesa.

E então, a voz veio, tão breve e silenciosa quanto um sussurro.

Rey. Eu preciso de você.

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