Capítulo 18

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- Ahhhhh! A decoração é vintage! Acho que vou desmaiar. Gente, me segura!

Se você achou que esse piti foi protagonizado por Chad, quando entrou no boliche e viu as paredes com discos de vinil, as cadeiras e bancos e mesas e móveis retrô... Está redondamente enganado. Fui eu quem protagonizei.

- Ai, como é difícil lidar com uma colega de quarto que tem retardo mental. Ela sempre esquece os remedinhos, gente. Isso não é contagioso não, tá? - Lucy falava um pouco alto, para que todos ouvissem.

Como eu sou uma pessoa que não vai a muitos lugares e que só foi no boliche uma vez na vida, eu não sabia se aquele negócio de pegar os sapatos pra boliche era por causa do tema do lugar ou porque todos os lugares tinham. A única vez em que eu fui no boliche foi no aniversário do meu irmão; e eu nem joguei, pra falar a verdade, porque fui escalada pra cuidar das crianças.

Lucy escolheu a pista em que ficaríamos e já se sentou, fazendo com que eu e Chad nos sentássemos ao seu lado.

- Qual é o número? - Zack perguntou pra mim.

- Ahn?

- Do sapato. Eu vou lá buscar pra você.

- Ah, tá. É 37.

- O meu também! - Lucy gritou, fazendo um gesto para que Andy fosse buscar o dela.

- O meu é 42, querido - Chad falou para Josh, que fez uma cara engraçada.

- Ô Chad, cê tá ligado que eu te chamei como amigo, né? Eu tenho namorada... e sou hétero.

- Pode até ser, mas eu sei que você é cavalheiro e não vai se recusar a buscar o meu sapato.

- Por que eu tenho que trazer seu sapato? Levanta essa bunda do sofá e vai!

- Pra sua informação - disse Lucy, apontando o dedo na cara dele -, isso aqui é um banco estofado, e não um sofá. E se você falar assim com o meu amigo novamente, eu enfio todos aqueles pinos de boliche no seu cu. Tá entendendo?

- Zack, por favor, pega o sapato do Chad também? - pedi a ele.

- Claro, sem problemas.

Assim que eles saíram, Chad falou:

- Ah, mas essa fera ainda vai virar uma bela. Ah, se vai.

- Chad, não sei se reparou, mas ele não tá na sua - Lucy falou, enfatizando a última parte.

- Ainda, amiga, ainda. E Ariel, obrigada por pedir pro seu boy pegar o sapato pra mim. É tudo tão longe! A lanchonete é lá do outro lado, o troço do sapato é lá e... vish. - Ele fez uma cara estranha quando olhou por trás de mim e de Lucy. Na hora em que iríamos nos virar pra ver, ele bate em nossos rostos. - Garotas! Parem! Ah, olhem! Que teto legal. É tão branco, como será que eles fazem ficar tão limpo?

Eu e Lucy nos olhamos e viramos para ver o que era. Muito bem. Vou ignorar esse mini problema. Dá nada não. Só espero que o Zack não perceba... Virei de volta como se nada tivesse acontecido. Nada aconteceu. Tô bem. Eu. Tô. Legal.

- Olá, Ariel.

Virei o rosto com um sorriso meio falso, o olhando.

- Mike! Você está aqui... com os garotos da minha antiga escola - e do meu ex, pensei. - Olá, pessoal.

- Ela conhece esses caras? - escutei Lucy perguntar, ou melhor, sussurrar para Chad.

- Hey, esquisita! Que pena que mudou de escola. Agora não temos ninguém pra zoar, além dos calouros e dos nerds. Você era nosso alvo favorito! Pô, bons tempos, né? Você ainda fica imaginando seu príncipe encantado, princesa? - Todos os garotos deram tapinhas em Owen, o cara mais ridículo, asqueroso e nojento da face da terra. E meu ex-namorado. Quem estava falando era Finn, o capitão do time de basquete da minha antiga escola.

Olhei para Owen; meu olhar o queimava, o matava em meus pensamentos. Ah, se eu pudesse, eu estrangulava esse menino. Com qualquer coisa! Eu estrangularia ele com um pão de forma. Ariel, o pão iria se despedaçar. Foda-se. Peguei minha bolsa e fui correndo pro banheiro, que era do lado da lanchonete. Chad estava certo. Isso é muito longe.

Me tranquei em uma das cabines e comecei a socar minha bolsa. Eu sentia lágrimas de ódio, de raiva. Tudo por causa dele. De Owen.

Eu tinha uma certa paixonite por Owen desde que éramos crianças. Tudo porque uma vez um garoto me empurrou na caixa de areia do parquinho e ele me defendeu. Aí o menino virou meu herói. Eu era uma daquelas retardadas que ficam mais retardadas ainda quando o menino que você gosta está por perto. Um dia, ele me convidou pra sair. Isso eu tinha o quê? 14 anos? É, por aí. Foi uma beleza. Depois, nós saímos mais um pouco e começamos a namorar. Eu me sentia a foda da classe, porque o menino era 1 ano mais velho que eu e blá, blá, blá. Agora vem a parte mais legal: no dia do meu aniversário de 15 anos, eu toda apaixonada, no quarto dele, comecei a dizer "eu te amo" e várias outras coisas... E o menino riu. Ele riu! Disse que ganhou 200 verdinhas pra namorar comigo por cinco meses. Era uma aposta. E o pior: a ideia da merda toda foi dele.

Depois desse dia, todos começaram a me zoar. E quando eu pintei o cabelo, me zoaram mais ainda. Eu só não entendo porquê as pessoas da minha nova escola gostam do meu cabelo e as da antiga odeiam. Considerando os diferentes capitães do time de basquete - Zack, gentil e Finn, idiota -, dá pra ver que essa escola é diferente. Dá pra ver que ela é boa pra mim.

Comecei a escutar as portas das cabines abrindo e logo a voz de Lucy:

- Ariel! Ari... ai desculpa moça, estou procurando minha amiga. A senhora a viu? Ela entrou em uma das cabines? Eu sei que é meio desconfortável pra senhora falar com uma estranha no meio de uma boa cagada, mas...

- Minha filha, me faz um favor... SAÍ DA CABINE E ME DEIXA CAGAR EM PAZ! Aliás, tem uma menina meio raivosa ali na última cabine. Deve ser ela.

Escutei uma porta se fechando.

- Obrigada, senhora. - E logo uma batida na minha cabine. - Ariel. Nem adianta falar que não é você, porque eu tô vendo seus coturnos.

Respirei profundamente e saí.

- Não pergunta nada, porque depois eu te explico. Só me responde: eles estão lá ainda?

- Estão. E começaram a rir assim que você saiu. Mike riu acho que só pra ficar no "grupo", pois ele estava com uma cara estranha. Chad e Zack estão ali fora, te esperando.

- Tá.

Saímos do banheiro e logo recebi um abraço de Chad.

-O que aconteceu, Sereia? Por que saiu daquele jeito?

- Agora não, Chad. Depois eu falo. É só que... podemos trocar de pista? Porque se eu continuar naquela, é capaz de eu jogar uma bola de boliche na cara de cada um deles.

- Tá. Vamos escolher aquela, que é a mais longe deles. Ah meu Deus, aquela família tá indo pra lá. Vamos, Lucy, temos que marcar território! - Chad saiu correndo e pulou a grade que separava as pistas do resto do lugar. Ele se deitou no banco levantando a perna e mandou um beijinho quando a família se aproximou. A família foi para outra pista. Senti dó das crianças. Não pela pista, mas por terem visto a pose de Chad... e a batata da perna depilada dele, que apareceu por causa da calça curta. Que visão do inferno.

Senti um calafrio do nada e Lucy concordou, como se soubesse o que eu estava pensando.

- Dá nojo - falou, e foi andando até Chad. Não, não, foi galopando.

- Você está bem? O que aconteceu? FOI O MIKE?!?

- Não, é só que... Nada. Viemos para nos divertir, e é o que faremos.

Zack passou o braço pela minha cintura e eu passei o meu pela dele. Estávamos meio abraçados, cada um segurando seu par de sapatos. E quando passamos por aquela pista, eu fiz questão de puxá-lo mais pra mim, sorrir pra ele e lhe dar um beijo de tirar o fôlego. É claro que eu queria que aquelas coisas vissem que eu dei a volta por cima. Eu queria que Owen visse.

A Menina dos Olhos BicoloresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora