Desnorteada

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Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Horas? Minutos? Segundos? Minha sensação de ser era a mesma da transição brusca de um sonho para a consciência quando temos a impressão de estar caindo de um precipício. Aquele precipício em especial terminava num grande e adocicado pote de mel. De fato, eu não me importava nem um pouco de afogar ali.

Não o experimentava mais limitadamente com a visão. Agraciada pela concessão da audição, os sentidos restantes foram aguçados. O tato me permitia aperceber sua pele escondida por camadas de roupa, seu joelho encontrava o meu, bem como uma parte da coxa e da barriga; enquanto a manobra de me prender pelos pulsos proporcionava o choque dos nossos braços. O paladar e o olfato se fundamentavam em minhas memórias; na brisa leve daquela tarde misturava-se a essência que ele sempre usara; e na ponta da minha língua se concentrava o gosto de menta fresca que a maioria dos seus beijos tinha — Justin sempre levava Altoids no carro.

— Justin? — Caitlin gaguejou, o som de sua voz se limitava a um sussurro desagradável.

Uma tempestade de gelo me envolveu e eu parei de respirar. Por que Caitlin pronunciava seu nome naquele momento e com tanto assombro? Fiquei com medo de perguntar. Aquele voo me levara alto demais, cair para a realidade agora podia ser fatal.

Não pergunte, não pergunte, não pergunte....

— Você também o vê?

A idealização de Justin travou o maxilar, um ato que me afundou um pouco mais na nostalgia. Aquela era a sua mania ao se deparar com algo que ele não podia controlar, um problema além de suas habilidades. Geralmente, eu e minha carga de emoções caótica.

— Como que...? Você está... Bem? — Caitlin questionou perturbada para ele, me ignorando.

— Sei que precisamos conversar, mas podemos adiar um pouco? Precisamos sair daqui.

Sim, aquela definitivamente era a voz de Justin. A pressão da atmosfera se concentrou toda no campo.

Na ausência de resposta por ambas as partes, ele incentivou outra vez:

— Temos que ir, não sabemos se Maya trabalha sozinha. Da mesma forma, ela é alvo de George, ele pode ter mandado alguém atrás dela.

O nó em minha cabeça se apertou mais um pouco. Annelise não estava do lado de George? E o homem à minha frente não estava do lado de Annelise?

— Onde Maya está? — ele indagou, sua ansiedade era contida por um receio que o fazia me estudar.

— Amarrei numa árvore — Caitlin respondeu no automático, finalmente conquistando a atenção dos olhos hipnotizantes. Um sorriso cômico pequeno puxou seu lábio para a esquerda.

— Você da conta dela? Leve-a para a cabana. Rafael está desmaiado por aí, pode encontrá-lo e levá-lo para a casa dele?

Cabana? Ele se referia à cabana de Ryan? Como poderia saber disso? Se Annelise também sabia da cabana, estávamos perdidos.

Caitlin não respondeu. Ele continuou:

— Eu levo Faith de volta. Ryan nos encontrará lá.

Tive vontade de bater minha cabeça no chão repetidas vezes, aquela ficção já estava confusa demais para o meu gosto. Quanto mais eu ficasse naquela fantasia, maiores seriam minhas sequelas se saísse.

Coragem, Faith. Diga.

— Quem é você?

Ele apertou a boca numa linha fina, sinal de que não me diria nada do que eu queria saber.

— Vamos, por favor? — a persuasão transbordou de seu olhar, um dom especifico de Justin.

Eu não queria brinca mais. Funcione cérebro. Agora.

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