Atriz do ano

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— Você nunca assistiu Encontro Explosivo? De verdade? Cameron Diaz? Tom Cruise? Uma junção épica dessas?

Maya balançou a cabeça em negação, um pouco lento demais para eu suspeitar que ainda estivesse sóbria. Ela era extremamente ingênua, um alvo fácil demais para carregar a responsabilidade de ser guardiã dos segredos de George.

— Tom é agente secreto e ao acaso Cameron entra em seu caminho. Então ela se vê inserida repentinamente em um mundo com muitos tiros e fugas. Esse é um resumo péssimo, mas o filme vale a pena. Gosto muito dessa coisa de adrenalina, ação. É empolgante.

Beberiquei meu copo, enfatizando minhas palavras com a expressão. Depois daquele primeiro copo de cerveja, tudo o que eu estava tomando era água, fazendo o pedido sem que Maya notasse. Não que ela tivesse muita capacidade de perceber o mundo ao seu redor, seu estado chegava perto do deplorável. Ela era fraca para bebidas. Outro ponto para mim. Eu já merecia o Oscar por conduzir toda a conversa para que ela me contasse de livre e espontânea vontade sua vida secreta.

Ela deu uma risadinha de empolgação.

— É emocionante essa coisa toda, não é? Tenho uma fissura com isso também — sua voz soou mais confusa em meio a conversa alta do pub. Já se passava da meia noite, praticamente todos ali não sabiam mais o que era uma linha reta.

— Sim, mas a única chance que temos é de namorar um policial e viver o básico dessa vida de filmes — ou simplesmente se apaixonar por um assassino que estava chantageando sua família com sua vida e virar tudo de cabeça para baixo.

Sua piscadela pra mim foi sugestiva.

— É mais fácil do que você pensa.

Fingi morder sua isca, a qual, na verdade, eu que havia lançado, arqueando a sobrancelha e me inclinando em sua direção.

— Quer dizer que você já se encontrou em um meio desses?

Ela riu sem abrir a boca, gostando do fato de manter aquilo em segredo.

— Pode ser que sim. Mas não é sempre tão bom assim, te garanto.

Com uma encenação impecável, abri a boca em um perfeito O.

— Você não vai compartilhar? Isso é egoísta da sua parte.

— Se quiser posso te apresentar algumas pessoas. Agora preciso ir no banheiro, vamos comigo?

Olhei ligeiramente para sua bolsa embaixo da banqueta, imaginando se sua agenda preta estaria ali dentro. Aquela podia ser minha oportunidade de finalmente colocar minhas mãos nela.

— Alguém tem que proteger nossos lugares — argumentei.

Ela concordou, saltando do banco desengonçada, os braços estendidos para que se equilibrasse.

— Estou em pé! — comemorou depois de dois segundos parecendo estar em cima de uma prancha de surfe.

Eu bati palminhas para sua performance, escondendo o desejo de empurrá-la de uma vez para longe para que eu pudesse usufruir de minhas habilidades investigativas.

Maya se escorou em todas as coisas possíveis até desaparecer na porta do banheiro. Me inclinei depressa e resgatei sua bolsa preta grande pela alça. Abri o zíper e comecei a procurar, sentindo um cheiro conhecido de hortelã. Ela tinha tanta coisa ali dentro que parecia estar pronta para uma viagem de última hora. Garrafa de água, nécessaire, escova de cabelo, sua carteira, um guarda-chuva, e ah! A agenda.

Dei uma espiada na porta para conferir se continuava fechada e abri o caderno pequeno, folheando as páginas com pressa até chegar no dia de hoje. Amanhã às duas horas da tarde havia uma reunião com Costra Nostra — Gambino em Union Bar & Grill. Isso não era italiano?

One LoveOnde as histórias ganham vida. Descobre agora