2. Maria Teresa

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Maitê


Que ódio senti de Otto Rangel! Homem esnobe e prepotente. Salvou a mim e a Carlinha e agradeço profundamente por ter aparecido naquele momento, mas ele é um machistazinho casca grossa. Dizer que passamos dos limites? Bufo. E iriamos ser abusadas, escutamos obscenidades, os homens nos olhavam de forma lasciva. E eu e Carlinha ficamos desesperadas.


Reviro-me na cama. Rogo a Deus para que meu pai não fique sabendo que andei por Cercadinho, mais precisamente no cabaré mal afamado de senhor Ramirinho, e que quase iriamos ser vítimas de abusos. Um frio percorre a coluna. No entanto, não é isso que me preocupa no momento. Observo Carlinha ressonar na outra cama de meu quarto.


As obras nas terras do velho coronel Sampaio, além de prejudicar uma nascente, vai causar o despejo de oito famílias pobres de agricultores. Nenhum argumento convenceu o gerente, Pedro Almeida, da fazenda Desassossego, a ser mais flexível. A obra está desviando uma enorme quantidade de água para irrigar uma lavoura de café faraônica, que engloba as terras onde essas famílias vivem há uns trinta anos.


Na época, foi Ricardo, o filho do velho coronel, quem permitiu às famílias cultivarem por lá – num trecho de terras próximo ao rio, chamado de Beirada –, afinal a vastidão de terras e dinheiro dos Sampaio é pra fazer cair o queixo de qualquer um. Agora, sob as rédeas de Correa, que se tornou o todo poderoso da Desassossego, os donos querem as terras de volta.


E o juiz já concedeu a reintegração de posse, que vai acontecer em dois dias. Tentamos conversar com o gerente, de confiança de Correa. Sugerimos reassentar essas pessoas nas próprias terras da Desassossego. Mas o tiro saiu pela culatra. Erramos o alvo e o tom do diálogo. É que já ganhamos fama de importunadores. E foi uma péssima estratégia ter ido procurar o Pedro Almeida no cabaré.


Não suporto injustiça. E vou agora falar com o capitão da guarnição, em Brejo Negro e tentar negociar as formas de cumprimento dessa ordem judicial.


— Carlinha, acorda! — Olho o relógio. São sete da manhã. — Temos que tentar negociar a reintegração das famílias da Beirada.


Alguém bate na porta.


— Entre... — falo alto e me sento.


Carlinha se remexe na cama e abre os olhos. Maria Fernanda põe a cabeça para nos ver, antes de entrar.


— Papai quer falar com você... — avisa a minha irmãzinha caçula, uma garotinha linda e fofa, que começa a trocar os dentes.


Abro os braços para ela, que se joga sobre mim. Eu amo demais essa pequerrucha. Encho-a de beijinhos em sua bochecha macia. E ela sorri gostoso.


— Alguém ligou para papai ou esteve aqui? — Pergunto curiosa.

— Téo e Davi estão aí, e também os eleitores — a garotinha informa e balança a cabeça. — Mas o telefone de papai ninguém dá conta, acho que nem ele.

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