sexta-feira, 31 de outubro

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— Umas onze e meia deve dar. Acho que a gente não vai ficar mais de uma hora dando rolê na casa abandonada — Bia meneou a cabeça. A sugestão foi aceita unanimemente.

Assim, começou a segunda parte do processo. Os três adolescentes não faziam ideia do que levar ao invadir uma casa abandonada — , e, por mais que estivessem embarcando na ideia, nenhum deles acreditava o suficiente no mundo sobrenatural para gastar tempo preparando um kit com aquelas coisas que se vê em filmes. Apenas Bia, já acostumada com os thrillers que costumava assistir, escondeu no bolso um pequeno saquinho com sal grosso.

Laura, por sua vez, pegou o celular e uma lanterna que guardava para emergências. Podia não acreditar nos fantasmas, mas estava se roendo de curiosidade para conhecer a casa por dentro; já havia passado diante dela várias vezes, e sempre se perguntava como seria conhecer um local abandonado assim.

Daniel, por fim, deixou no bolso apenas o celular bem carregado e alguns pacotes de balas e chicletes — se ficasse nervoso, pelo menos teria algo para mastigar.

— Que horas são? — Bia perguntou então, enquanto comia um último chocolate.

— Onze e meia — Daniel respondeu.

Com um aceno mútuo de cabeça e em um silêncio não muito proposital, os três deixaram a casa de Laura.

— — —

A casa abandonada ficava na rua de cima. E, além disso, bem ao lado de uma escola particular católica — que, convenientemente para as história de terror, havia sido montada na estrutura antiga de um hospital de freiras. Assim, as lendas sobre os dois locais se misturavam, criando um imaginário bastante sombrio para aquele quarteirão.

E, então, enquanto caminhava pela rua escura e vazia, devido ao horário, a garota que não se considerava medrosa sentia um leve frio na barriga. Não temia os fantasmas, mas estava bastante ciente dos outros perigos de invadir uma casa abandonada tão tarde da noite.

— Ok. É aqui — a voz de Bia soou entre os dois amigos, colocando-os de uma só vez na realidade.

— Sem dar pra trás agora, né? — Daniel indagou, mas seu tom era menos de provocação e muito mais de uma afirmação para si mesmo.

— Agora que a gente tá aqui? Não mesmo! — Laura exclamou então, e, aproveitando-se da luz urbana do poste, forçou a parte do portão de grade que sabia estar aberta.

Todo o local parecia ter sido construído em algum momento dos anos 80, e guardava em sua fachada várias características daquele período — como, por exemplo, o arco na parede que encimava a entrada da garagem e o predominante tom bege-avermelhado nas paredes que não haviam sido decoradas com tijolinhos expostos. Àquela altura, com o abandono, a tinta já estava bastante descascada, e um limo escuro escalava todas as paredes.

Os três adolescentes entraram com cuidado e, por alguns momentos, ficaram diante da garagem. A construção daquela casa havia sido feita de forma que o local, simples cômodo aberto que não abrigaria mais que um carro, fosse a primeira coisa a ser vista ao entrar. O chão estava coberto com um tapete grosso de poeira e folhas secas, que estalavam, e no escuro era possível ver apenas as partes que a luz do poste alcançava. De súbito, Laura se perguntou o que poderia se esconder ali.

A garota balançou a cabeça e desviou seu olhar para a esquerda, onde dois curtos lances de escada em L levavam para a entrada da casa — tudo, fora a garagem, ficava acima do nível da rua. Ao redor dos degraus, um pequeno jardim havia sido construído, mas àquela altura, enquanto subiam, os três não viam nada além de terra muito seca e galhos e folhas mortos.

A casa da rua de cimaWhere stories live. Discover now