sexta-feira, 31 de outubro

128 10 11
                                    


Laura nunca se considerara uma pessoa medrosa.

Não que fosse aficionada por filmes de terror ou uma grande fã de jumpscares e sangue jorrando na tela do cinema, mas também não costumava ter medo à toa — nem mesmo na infância, com as histórias de terror contadas pelos primos mais velhos, e muito menos depois, na adolescência. Entretanto, por vezes gostava de contar uma história específica, de quando ainda estava na escola e, sentada num dos bancos do pátio, observava os amigos se desafiarem a invadir a casa abandonada da rua de cima na noite de 31 de outubro.

A garota achava graça. Logo de início havia apoiado a ideia: tinha uma enorme curiosidade pela tal casa e, de todo jeito, sabia que conseguiria boas risadas e talvez até vídeos divertidos com os sustos dos colegas. Porém, mesmo olhando bem no fundo de si mesma, não sentia nem mesmo um arrepio na espinha.

— Mas com certeza tem alguma coisa lá. Não sei o que, mas tem... — afirmou Bia, sentada sobre uma das mesinhas de pedra do pátio do colégio. Do grupo, ela fazia o papel de fã de filmes de terror e histórias sobrenaturais.

Laura riu pelo nariz.

— Claro. Um cachorro de rua. E vocês ainda vão incomodar o coitado.

Bia fez uma bolinha com o guardanapo que sobrara do lanche e jogou na amiga, que riu. Adorava irritar os colegas com sua incredulidade.

— Se fosse mesmo um cachorro a Lígia já teria resgatado, feito uma campanha de adoção e postado fotos dele de gravatinha nos stories — Daniel emendou, referindo-se a uma das colegas da sala.

Mesmo tendo sua lógica derrubada, Laura teve que rir.

— De todo jeito... um cachorro que ninguém nunca viu? Para, né... Até você tem que assumir que é estranho... todo mundo da vizinhança fala dos barulhos que tem lá — Bia retomou a conversa, em um tom um pouco mais sombrio.

Laura, porém, revirou os olhos.

— Com as janelas quebradas, é óbvio que-

— ...o vento vai fazer barulho, tá bom — Daniel cortou a amiga, repetindo o argumento que ele já conhecia. — Que bom que você não tem medo de nada e nem vai ligar quando a gente for lá, né?

Laura abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo toque do sinal. Era o fim do intervalo.

— Vocês sabem que eu só tô indo pra fazer meme com os sustos de vocês — ela riu então, saltando do banco de concreto, e logo acompanhou Bia e Daniel na direção da sala de aula.

— — —

A noite, enfim, chegou. O dia das bruxas naquele ano havia coincidido com uma sexta-feira, e, assim, foi fácil para Laura combinar com os amigos uma suposta noite de Halloween, com filmes e lanches — o que deu ainda mais certo quando sua mãe anunciou que dormiria fora, com o namorado.

Assim, às onze horas, após um balde de pipoca e a exibição completa do Drácula de Bram Stoker, os três amigos estavam jogados no sofá da sala, debatendo os detalhes da incursão.

— Acho que a gente devia esperar um pouco mais. Pelo menos pra garantir que não vai ter gente na rua, porque, né, invasão de propriedade ainda é crime — Daniel defendeu, enquanto comia um chocolate.

— Mas também não pode ser tão tarde... a gente tem que pensar nos perigos óbvios, além dos fantasmas, né — Laura acrescentou, seu tom com traços de deboche quando mencionou os fantasmas. Ela tinha um sorriso no canto do lábio enquanto fazia carinho em Mina, sua gata rajada.

A casa da rua de cimaWhere stories live. Discover now