Capítulo 2

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Felipe

Depois de uma longa madrugada dirigindo, decidi fazer uma pausa na praia. Ver o mar, sentir a maresia e a brisa em meu rosto, traz um novo ânimo, mesmo com o céu nublado. Esse tempo me traz uma sensação de calma.

Quatro anos depois da grande turbulência que trouxe Milena para mim, estamos prestes a viver sonhos que antes eram inalcançáveis.

Desde que a mãe foi embora sem deixar vestígios, tivemos muitas pessoas que nos ajudaram a enfrentar o abandono. Minha princesa, tão pequena e tão forte. Hoje ao ver seu sorriso doce me dá a esperança de que tudo se acertará com o tempo.

Por isso que escolhi viver somente para ela. É nela que eu penso ao olhar o mar.

Ainda não me sinto pronto para ter um romance, na verdade, nunca estive... Melhor assim, não quero ser uma decepção para alguém. Podemos dizer que "meu passado me condena". E quem mais sofreria com isso seria minha filha....

Embora com todas as dificuldades, eu escolhi viver de forma leve, e decidi ser feliz... Tenho o apoio de minha mãe e irmã, e o maior presente de Deus, que por ela eu escolho sorrir para vida.

O amor tem muitas faces, e não é pelo motivo de que nunca soube amar de uma certa maneira que invalidarei todas as outras formas de amar!

Gratidão.

Forças renovadas.

Estou cansado e ansioso para chegar em casa, sentir em meus braços aquela menininha que mesmo tão pequena me tem por completo!

E obviamente dormir como uma pedra o dia inteiro, logo após deixar a espoletinha na escola.

Liguei o smartphone e logo recebo uma chamada a poucos metros daqui. Sorte. Paro em frente a um prédio de quatro andares, com as grades brancas e grandes sacadas. Chique e simples ao mesmo tempo. Quando volto meu olhar para a portaria, vejo uma cena inusitada e um pouco engraçada.

Uma moça, aparentando ter 20 e poucos anos. Alta e esbelta com seu terninho preto provavelmente pronta para um dia no escritório... Entrega uma garrafa térmica ao porteiro, enquanto tenta equilibrar a mochila no mesmo braço, e no outro braço carrega alguns "canudos" pretos e enormes... Que se não fosse pelo abraço repentino aos objetos, teriam caído e feito uma bagunça!

Um pouco desastrada, e com "pouco" estou sendo bondoso com a menina.

Observo com o cotovelo apoiado ao volante e a mão segurando a risada.

Eu não consegui tirar os meus olhos dela desde que veio até o carro. Há algo nela que me deixa cismado. Talvez seu belo rosto ao natural, tão delicado como tanto admiro em mulheres simples, que me chamou a atenção ou pelo seu jeito desengonçado que me divertiu. Sinto como se um magnetismo me atraísse a ela me fazendo ter curiosidade em saber mais sobre sua pessoa... Enquanto ela ajeitava as suas coisas no banco de trás, alguns fios de seus cabelos que estavam presos em um coque mal feito, escorregando sobre seu rosto.

Sim, posso nunca ter sido o cara mais romântico, mas sou atento aos detalhes... Aliás, fui obrigado aprender a cuidar de menina, o que inclui fazer penteados...

"Aviso sobre seu cabelo?"

Analiso pensativo através do retrovisor. Então, ela nota e eu constato que dediquei alguns minutos somente a observando!

Desconcertado, finjo estar olhando qualquer outro ponto na rua.

Durante todo o percurso decidi me divertir, e jogar conversa fora... Ainda que eu sinta não ter sido um tempo perdido, ao contrário, foi proveitoso e tive vontade de ter mais momentos como aquele. Eram raros os momentos de diversão nesse trabalho. Esqueci todo o cansaço físico e mental, pelo menos no decorrer daqueles vinte e cinco minutos na companhia da garota.

Entre Nós • EM ANDAMENTO •Where stories live. Discover now