Colegas de Quarto ✽ Capítulo 1

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Enquanto atravessava o longo caminho de pedras até o dormitório, Natalie virava tanto a cabeça de um lado para o outro que estava andando em ziguezague. Como ainda era domingo e as aulas só começariam no dia seguinte, ela só precisava ir à secretaria, mas o faria apenas depois de encontrar o prédio do terceiro ano.

Em todas as direções, edifícios ostentosos se erguiam entre as colinas verdes, cada qual com seu próprio letreiro elegante indicando a funcionalidade daquele centro. A novata sequer precisava conferir o mapa em sua bolsa, pois passou as últimas noites estudando-o sem parar.

Observou algumas estudantes que andavam despreocupadamente para seus destinos; enquanto outras pareciam mais inseguras, checando duas ou três vezes os nomes dos prédios, provavelmente porque também eram alunas novas.

Sabia que não adiantaria procurar em lugar nenhum, pois não encontraria qualquer garoto. Como nada era perfeito, aquele internato dos sonhos era exclusivamente feminino.

Se fosse sincera, aquela informação a havia deixado um pouco receosa. Que diversão restava, se não podia nem sequer arranjar um namoradinho no seu último ano de Ensino Médio? Como funcionavam as festas, se não havia ninguém para beijar? Não que Natalie fosse obcecada por homens ou coisa parecida, mas, tendo estudado por toda a vida em colégios mistos, não conseguia imaginar como esse tipo de separação funcionava.

Para o seu alívio, as incansáveis horas perdidas fuçando o site do colégio também lhe garantiram o inestimável conhecimento de que a instituição incentivava a interação com os alunos de outros colégios internos da região, através de eventos esportivos ou culturais. Haveria muitas oportunidades de conhecer garotos legais e, de quebra, seria quase como um romance proibido, entre alunos de colégios internos distantes...

— Ei, essa eu não conheço! Com certeza é nova — uma garota alta, de pele clara e cabelos castanhos, falou para a colega ao seu lado, não tentando ser particularmente discreta. Então, abriu um sorriso para Natalie: — Oi, você é do terceiro ano?

— Ah, oi! Eu sou sim. — Ela sorriu de volta, trocando a alça da bolsa cor-de-rosa de ombro. Estava andando há alguns minutos com duas malas de rodinha e os fios loiros do cabelo começavam a grudar no rosto. — E sim, sou nova aqui.

A menina mais baixa e de pele escura ajeitou os óculos de aro dourado no nariz perfeito antes de finalmente abrir um sorriso. Natalie não sabia dizer o que, mas algo lhe intrigava sobre aquela dupla.

— Seja muito bem-vinda à Instituição Educacional Madre Cordélia. — Ela esticou uma mão com unhas manicuradas, porém curtas e sem esmalte, na direção de Natalie, que estranhou um pouco a formalidade. Retribuiu o cumprimento, percebendo a atenção da outra nas suas unhas cor-de-rosa e compridas. — Meu nome é Grace e esta é a Alice. Somos do Conselho Estudantil. Você quer ajuda para levar as malas até o seu quarto?

— Meu Deus, eu quero! — Natalie suspirou, sem esconder o alívio. — Muito obrigada mesmo. O meu nome é Natalie!

Então finalmente percebeu o que a estava incomodando nas duas garotas impecáveis à sua frente: exatamente o fato de parecerem impecáveis. Diferente de Natalie, que usava roupas casuais em um domingo, as representantes estavam com o uniforme clássico da escola: uma camiseta polo branca, bem passada e abotoada até a gola, junto com uma saia bordô reta. Que ia até o joelho.

Meses atrás, quando recebeu o manual de conduta do colégio, Natalie se assustou com o livro encadernado em couro de quase cem páginas, mas leu até o final. A parte obrigatória do uniforme era a blusa polo com a insígnia do internato bordada, enquanto a parte de baixo exigia apenas uma calça comprida. Porém, quando foi comprar seu uniforme — em uma loja insuportavelmente chique da cidade nova — a vendedora lhe explicou que muitas alunas gostavam de usar o uniforme clássico da instituição, com a saia vermelha. Natalie achou incrível, até provar a saia, pedir um número menor, e ser informada que era uma regra da escola que ela ficasse naquele comprimento mesmo: abaixo do joelho.

Lilium (Colegas de Quarto)Where stories live. Discover now