Parte 1 - Andréia

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- E então, como foi o primeiro dia de trabalho da vida da minha irmãzinha caçula?

Nossa, a Su falava comigo como se eu tivesse doze anos. Mas a verdade é que eu já tinha dezoito. Eu não era criança. E aquele não era meu primeiro emprego. Eu já tinha até cuidado do nenê da vizinha.

Mas agora, sobre a pergunta dela. O que eu ia responder? Eu nem havia trabalhado. Colocaram-me sentada para assistir um monte de gente falando e se apresentando. Aquilo não tinha graça nenhuma. A única graça que tinha era o cara sentado do meu lado. Ele sim. Que graça! Ele também se apresentou, mas não prestei atenção ao nome. Estava ocupada demais, admirando aquela barba, aquele sorriso.

- Não sei – respondi. – Normal, eu acho. A gente só teve uma integração.

Eu bem que gostaria de ter uma integração com aquele cara. Quem será que era ele, hein? Devia ser importante para se apresentar assim, na frente de todos. E ele usava terno. Droga, por que eu não prestei atenção quando ele se apresentou? A única coisa que eu sabia, é que ele era lindo. Tipo, lindo, lindo. E devia ter quase o dobro da minha idade.

- Ei, dá para você parar de babar? Do que você está lembrando?

Minha irmã era insuportável. O que eu ia dizer? Se eu falasse para ela, já ia começar a dizer que eu perdi tempo e devia ter falado com ele. Ah é, ia ser lindo. – Oi, é que eu estava olhando para você, e você é tão lindo. Vamos sair? –Tenha paciência.

- Nada não. Só fiquei pensando. Espero que os próximos dias sejam mais interessantes.

A Su olhou para mim toda desconfiada, mas foi terminar o trabalho da faculdade. E eu fiquei ali, parada, sentada na cozinha, pensando. Eu não me importaria de sentar mais vezes naquela sala, ao lado dele, hum, isso ia ser bom.

***

- Ô dorminhoca, vai para a cama. Amanhã pode apostar que o serviço não vai ser tão light.

Eu havia dormido na cozinha. Cochilado, na verdade. Eu nem estava cansada, mas fiquei pensando naquele cara de terno e dormi. Será que sonhei com ele?

***

A semana passou rápido. Havia muito trabalho no escritório. E por ser a mais nova, sempre sobrava o pior para mim. As outras garotas pareciam legais. Apesar de me colocarem sempre para carregar os papéis de um lado para o outro. Mas isso não era o pior.

A parte mais chata é que eu nunca mais o tinha visto. Já era sexta-feira e nem sinal dele. Será que ele não trabalhava mais lá? Não, não. Ele devia ser importante demais para ser demitido, ou qualquer outra coisa nesse sentido. E para piorar, eu nem podia perguntar dele para ninguém. Eu não sabia nem quem era ele.

E então, eu o vi. Quando eu estava saindo do banheiro, ele subia as escadas para o segundo andar. Sim, ele ainda estava lá.

- Carmem, quem é aquele cara? – perguntei para minha colega.

- Ah, o seu Diego. – respondeu sem interesse.

Carmem era a mais velha das meninas do escritório. Quase nem acreditei no desinteresse dela. Eu me despedaçando porque nunca o via e ela ali, falando dele, com total desinteresse.

- E o que ele faz? Quero dizer, na empresa? -perguntei, tentando parecer igualmente desinteressada, mas acho que não funcionou.

- Não, Déia. Nem pensar! Você também?

Eu também o quê, meu Deus? Será que eu tinha feito alguma pergunta indevida? Qual era o problema? Eu só queria saber no que o homem trabalhava. Será que era errado? Nos escritórios eu sabia que não era, porque eu já tinha passado por todos. Sempre havia algumas caixas ou embrulhos para carregar. E pelo jeito, a empresa toda já sabia que havia uma nova escrava no escritório sete, então, todos já sabiam a quem deviam chamar. Mesmo assim, ainda acreditava que ele devia ser importante. Ele usava um terno. Terno para mim era coisa de gente importante. Tirando os cretinos dos meus colegas, que nem sabiam arrumar a gravata.

- Eu também o quê, Carmem? – perguntei.

- Também ficou toda apaixonada pelo seu Diego.

Não. Peraí, apaixonada não. Apaixonada eu era pelo Lucas, meu ex. Que tinha me largado por causa de uma festa. Uma festa. Dá para acreditar? E a otária aqui, vivia correndo atrás dele. Melhor nem pensar muito nisso, ou ia começar a chorar. Mas pelo Diego, não, não.                                                           Definitivamente não. Só que o cara era um gato, não dava para negar. Aquele sorriso, aquela barba por fazer, aquela pele tão branca. Uau! Pensando bem, eu poderia me apaixonar tranquilamente por ele. Pena que a babaca aqui continuava esperando o tal do Lucas atender as ligações.

- Definitivamente não, Carmem. Já te contei a história do Lucas. Só perguntei por perguntar. – defendi-me.

Carmem balançou a cabeça e respondeu.

- Se é assim... Ele é o gerente da fábrica.

- Ah, só isso? Meu pai também é gerente da Felice. – respondi. Só gerente. E eu já achando que o cara era o bambambã da parada. Pelo jeito que a Carmem falou, achei que ele fosse dono da empresa. Mas gerente? Por favor! Até eu podia ser gerente.

Carmem riu.

- Ele não é o gerente dessa filial. Ele é o gerente da empresa inteira. – engasguei com a própria saliva. – E sobrinho do dono.

Nossa, agora sim. Ainda bem que não estava tomando nada, eu teria posto tudo para fora. Como assim? Não, não. O que o sobrinho do dono da maior multinacional que eu conhecia, estava fazendo trabalhando no Brasil? Ok. Não conheço muitas multinacionais. Para falar a verdade, só conheço essa. Mas eu sei que ela é grande.

Carmem parecia estar achando graça do meu constrangimento. Deu um tapinha nas minhas costas e disse:

- É. Eu sei.

O resto do expediente correu normalmente. Não vi mais o tal gerente e sobrinho da multinacional Enterteniment.

***

Droga. Eu estava atrasada. Enfiei todas as minhas coisas na bolsa e corri para bater o ponto. Na pressa, nem percebi que tinha alguém parado na frente do cartão ponto. Eu ainda estava fechando a mochila e bati em cheio no cara da frente.

- Ei. – reclamou ele.

- Desculpa. – pedi, terminando de fechar a bolsa. Olhei para cima para ver quem era e droga.

- Oi. – cumprimentou ele.

- Oi. – respondi sem jeito. – Desculpe, é que eu estava com a cabeça em outro lugar.

Ele riu. Droga. Odeio que riam de mim.

- Não sabia que sobrinhos do dono batiam o cartão, Diego. – falei para provocar. Mas me arrependi logo depois. Não devia ter dito isso. Ele ficou muito sério. Pegou meu queixo com a mão, me obrigando a olhar para ele, e disse:

- Eles não batem. Mas gerentes sim. E é senhor Diego.

Ele foi embora e me deixou ali. Droga. Pisei na bola com o chefe.

Justa CausaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora