Capítulo 4

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Assim que saiu do elevador, Pablo pôde escutar a algazarra que vinha do quarto de Nacho Peña e Blas Romero. Em vez de ir direto para o que dividia com Sebastián Rendón, caminhou em direção ao falatório e precisou bater na porta algumas vezes até que Juancho a abrisse.

— Por que vocês não me chamaram? — Pablo falou ao entrar no quarto e descobrir que alguns de seus colegas de time estavam disputando um torneio de FIFA no PlayStation 4. — Vou entrar na próxima partida.

— Quer um cafezinho também, mijo? — o colombiano rebateu, debochado. — Agora vai ter que esperar o campeonato acabar.

— Faltam quantos jogos?

— Essa ainda é a primeira semifinal — disse, indicando o confronto que estava em andamento, entre Blas e Sebastián. — Melhor se sentar.

Diante da ausência de lugares vagos no sofá e nas poltronas da pequena sala de estar, Pablo se acomodou no parapeito da janela que preenchia toda a parede. Dali do alto do Hotel Cifuentes, onde o C.D. Villaverde se concentrava para as partidas desde que Roberto se tornara dono e presidente do clube, era possível ver a avenida Paseo de la Castellana toda iluminada.

Enquanto esperava sua vez de jogar, Pablo se distraiu com o celular. Curtiu algumas fotos do treino de mais cedo no Instagram, nas quais havia sido marcado por outros jogadores do time, e publicou uma em seu feed também, pedindo o apoio dos torcedores verdiblancos para a partida que disputariam no dia seguinte. A vitória era importante, pois os manteria na zona classificatória para a Copa da Europa.

Brincando distraidamente com a corrente de ouro em seu pescoço, ele conferiu as publicações das pessoas a quem seguia, deixando algumas curtidas. Um sorriso despontou em seus lábios quando viu uma foto de Sara, sua sobrinha de 7 anos, brincando na piscina.

Além da filha única de Ramón, ele tinha outros dois sobrinhos, filhos de Lucía. Seu carinho por Alejandro e Hugo — de, respectivamente, 5 e 3 anos — também era enorme, mas Sara era a grande paixão de sua vida. Talvez fosse porque ela fora a primeira da geração mais nova da família León a nascer, fazendo-o descobrir que ser tio era quase como ter um filho, amá-lo e vê-lo crescer, mas sem todas as responsabilidades da paternidade.

"Princesita!", Pablo acrescentou nos comentários da foto publicada por Marta, sua cunhada, seguido por um emoji que mandava um beijo com um coração.

— Que golaço! — Blas exclamou, fazendo-o levantar os olhos do celular. — Já estou me aquecendo para o hat-trick que vou marcar amanhã.

— Boa sorte — ele disse, rindo. — Depois de duas derrotas seguidas, o Pamplona provavelmente vai vir para cima da gente com sangue nos olhos.

— Isso sem contar La princesa enfadada¹ — emendou Víctor Torres, esparramado em uma poltrona.

— Quem? — Pablo franziu o cenho.

— A árbitra que vai apitar o jogo de amanhã.

— Por que La princesa enfadada?

— É o apelido que o pessoal deu para ela na Segunda Divisão — Víctor explicou, rindo. — Quando eu jogava no Jaén, a gente odiava que ela fosse escalada para os nossos jogos. Você não pode falar um "ai" que ela já sai mostrando o cartão amarelo.

Pablo riu, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Ela é prima do Kiko Flores — comentou.

— Sério? — o atacante o encarou, surpreso. — Eu só sabia que ela é namorada do Javi Prado. Já vi os dois juntos em um evento.

— Isso eu não sabia, mas faz sentido. O Flores é amigo do pessoal da Polvo Cósmico.

Regra CincoWhere stories live. Discover now