Depois do arco-íris

211 35 48
                                    

Quando Ethan adentrou pelas portas do hotel, o sol já ameaçava se pôr no horizonte nublado tanto pelo mal tempo quanto pela poluição. Ele havia vivenciado um dia como nenhum outro e, por vezes, tudo aquilo parecia inacreditável demais para sua mente mundana e até mesmo um pouco cética.

Ethan não era aventureiro, por mais que tentara viver algumas experiências em suas viagens pelo mundo durante a adolescência. A Índia, entretanto, era uma aventura surreal demais para seu confortável padrão de vida inglês.

Naquele momento, Ethan não se reconhecia. E estava amando a sensação. Era algo tão novo, tão libertador. Era a primeira vez em muito tempo que ele não pensava na empresa, ou nas pressões dos pais, ou na próxima entrevista que daria para uma revista de negócios. Ele estava pensando somente nele, enquanto caminhava pelas ruas de Amirtsar junto com as pessoas que retornavam para suas casas após o festival, junto com os veículos e os curiosos animais. Na verdade, não pensava somente nele, pensava nela.

­­ — Eu disse que não ia ser necessário chamar a polícia – Raj comentou assim que Ethan entrou no quarto. Maya teclava rapidamente no seu celular, enquanto praticamente se pendurava na janela a fim de conseguir algum sinal de internet. Entretanto, pela primeira vez, Ethan conseguiu ser mais importante do que uma atualização de Instagram para a amiga.

­­ — Graças ao bom Deus! Nunca mais faça isso, White! Achei que você tinha morrido, ou sido sequestrado, ou devorado por um elefante! – Maya exclamou se jogando nos braços do amigo – Não estamos mais em Londres, não saía sem nos avisar! Você quase me matou do coração!

­­ — Está tudo bem, eu só fui dar uma volta – Ethan tentou tranquilizá-la.

­­ — Foi o que eu disse. Sabia que estava tudo bem, aqui não é tão perigoso quanto vocês acham...– Raj comentou sem tirar os olhos do seu jornal. Ethan tentou se lembrar quantas horas havia estado fora do hotel e o amigo continuava na mesma posição. Não era possível que ainda havia alguma notícia a ser lida naquele jornal, com esse tempo ele leria todas as notícias do site da BBC duas vezes!

­­ — Talvez, Ethan não tenha sido devorado por um elefante, mas parece ter sido atacado por um arco-íris! O que aconteceu?– Maya perguntou depois de perceber que também havia se sujado de tinta após o abraço. Ela rapidamente limpou com um álcool em gel que havia trago e usava toda a vez que tocava em algo. Ela estava ficando paranoica. Ops, Ethan precisava ser mais justo, ela era paranoica.

­­ — Estava acontecendo um festival na cidade, acho que se chama Holi. É incrível! Me lembra de uma festa que fomos na Alemanha, Maya – Ethan comentou, enquanto buscava roupas limpas em sua mala. Naquele momento, ansiava por um banho, mas tinha certeza que não seria fácil se livrar de toda aquela tinta.

Por um milésimo de segundo, sentiu os dedos de Alisha tocando seu rosto para limpar uma pequena mancha verde. Se lembrou da sensação e no mesmo instante sentiu algo curioso, como uma necessidade de sentir aquele toque novamente.

­­ — Aquele festival de música eletrônica que tinha umas tintas coloridas? Eles tem música eletrônica nesse fim de mundo? – Maya pareceu interessada por um raro momento.

­­ — Não. O Holi foi copiado pela Europa em formato de alguma rave maluca para jovens perdidos! Aqui é um festival para comemorar a chegada da Primavera, é tradição e até religioso –Raj contou dobrando o jornal pela primeira vez – Querem chá?

­­ — Eu experimentei uma comida indiana hoje, para nunca mais. E eu juro que me falaram que era a menos apimentada do cardápio! Não sei se estou preparado emocionalmente para provar um chá indiano– Ethan tentou negar. Seguira a dica de Alisha para provar um prato típico local, tal prato que ela prometera não ser tão apimentado, o garçom também havia garantido isso. Entretanto, dois copos de Lassi depois, Ethan ainda sentia sua boca ardendo. Se lembrou de ter lido em algum lugar, que a Índia também possuía certa tradição de tomar chá como os ingleses, mas que até isso levava uns condimentos especiais.

Amor e Tradição | DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now