- Não sabia se era para valer. - sua voz está ainda mais rouca e grogue.

- E por que não? - questiono.

- No começo éramos só amigos, daí passamos a ser amigos com benefícios, depois tornou-se algo mais, só que a Suzane não queria algo sério na época. Daí a gente ia e vinha, no intervalo de tempo em que brigavamos por ciúmes e depois retornavamos para os braços um do outro. É complicado...

Nossa! A situação do estranho bêbado é realmente muito intensa. Penso comigo mesma, imaginando que a minha vida é bastante sem graça mesmo. O moço anda nessa montanha russa enquanto eu continuo compenetrado em cuidar apenas dos meus gatos. E o que eu sei do amor para dar-lhe conselhos? Quase nada. Só tive um relacionamento sério que durou pouco tempo. Alguns casos chulos. Sem muita emoção.

- E então ela chegou com esse cara e de repente você quer pedi-la em namoro, é isso? - aponto o óbvio. Sou um desastre nessas coisas.

Desastre ambulante.

- Ela não quer, espírito.

- Já tentou antes? Já perguntou isso a ela?

- Eu iria tentar hoje, não me ouviu? - do meu lado, William sorriu - Eu quero tentar, mas ela parecia tão feliz com ele. Disse para mim, quando fui falar com ela, que o amava.

Porra! Que situação!

- Então desista. - é o que escapa da minha boca.

William, vendo-o através do canto do olho, encara- com as sobrancelhas levantadas. O quê? Pedi-lo para desistir é algo ruim? Não. Não era. Ora, se a garota está apaixonada por outro, o que pôde ele fazer?

- Que merda de conselho horrível é esse? - fala ele. Seu tom parece carregar indignação.

O quê?

- Eu estou ajudando-o, não era isso o que queria?

- É claro que sim, mas que droga de conselheira é você que me manda desistir de algo tão importante para mim?

- Se ela disse que estava apaixonada por ele, o que tu pode fazer? Desistir e seguir em frente é a melhor opção.

- Mas ela não disse isso, exatamente, ela só disse que gostava dele. - tenta se defender.

- E o que ela disse sobre você? Sobre vocês? A situação em que vocês se encontram?

- Nada. Eu saí de lá com o coração na mão. - sua voz começa a nublado no novamente.

- Então ela não disse se queria continuar como estão? Olha, pode ser que vocês continuem como estão, sabe...

- Só que eu não quero. Eu quero poder chamá-la de namorada e apresentá-la aos meus amigos. Quero poder dizer "eu te amo" sem medo de ser jogado de lado. Quero que ela me ame de volta. E sim, eu sei que ela não é obrigada a me amar de volta, mas custa tentar? - há dor no seu coração, posso senti-la.

O que eu digo para ele? Eu não sei. Não quero torná-lo um iludido, mas também não quero tirar as suas esperanças totais.

- Então você tem que decidir o que vale mais a pena: pedi-la em namoro e encarar a realidade, seja ela qual for, ou simplemente desistir. - falo seria.

O estranho demora a responder mais uma vez. Parece estar decidindo o que fazer: e eu o entendo. Na verdade, a coragem sempre parece se acender feito um candelabro ou uma vela num quarto escuro e fechado. Às vezes, fora dali, ela não faz efeito. Todavia, num quarto escuro e fechado, aquela única vela pode ser essencial. No entanto, quando a duvida chega, ela é capaz de te fazer apagar aquela vela - sua única fonte de luz, com um sopro forte e potente, cheio de certezas.

E depois que eu falar o que sinto, o que acontece?

Talvez seja essa a pergunta que faça com que muitas pessoas criem paranoias absurdas e sequer tentem. Eu sei como é. Eu sou uma dessas pessoas. Viver na dúvida é um conformismo. Sair dela é um ato de coragem. Eu nunca tive.

- Não tem uma fórmula mágica? Você não pode lançar um feitiço? Sei lá, me dar alguma porção para que eu consiga adquirir coragem e ir até ela? - fala ele.

Noto que há esperança em sua fala. Quem nunca quis uma porção mágica que lhe desse a coragem que tanto procura?

- Não posso, infelizmente...

- Então o que eu faço?

- Acho que deve desistir.

E então noto que falo mais para mim mesma do que para ele.

- É esse o conselho que tem para me dar? Falar que eu devo desistir?

- Se há a dúvida então é melhor que nem tente. - ralho, no achismo de ter a certeza de que estou falando o que é sensato.

Ouço o seu riso. Ele carrega algo ruim. Um sentimento de, quem sabe, desesperança.

- Você nunca se apaixonou?

Apaixonar. Essa palavra me causa calafrios.

- Eu sou um espírito, lembra? - aponto, certa de que ele vai deixar isso para lá.

- É, eu sei. Mas antes de se tornar o que é, nunca se apaixonou? - noto curiosidade em seu tom de voz.

- Isso não é relevante. Estamos falando de você.

- Tudo bem, acho que já acabamos por aqui.

Ele parece se levantar. De repente, entro em alerta. Ah não! Não acredito que ele não vai nos tirar daqui! Não! Não! Nao! Não é justo.

- Espera, onde vai? - inquiro.

- Vou embora. - exprime ele, simplesmente.

- Não vai nos tirar daqui? Você prometeu, lembra? Eu te ajudei.

- Você me ajudou? Ajudou em quê? - ri ele - Você nem tentou entender a situação.

O quê? Esse cara está de brincadeira comigo, só pode!

- Você precisa nos tirar daqui! Eu te ajudei sim, não tenho culpa se você não consegue encarar a realidade. - ralho - Se a Suzane quer outro, o que tu pode fazer? Nada! Esqueça e segue em frente, cara.

- Adeus, espírito. Fica preso ai, voce nao merecr ser libertado.

- Espera! - grito.

Ele não responde mais. Ouvimos quando ele se levanta desengoncadamente. Olho para William em busca de ajuda.

- Eu posso te ajudar. Deixe-me tentar.

Silêncio.

- E quem é você? - O cara pergunta, desconfiado.

- Sou o outro espírito.

- E como posso confiar em ti sendo que a outra se quer me deu uma direção.

Quero falar algo, mas o olhar de William sobre mim pede calma.

- Eu acredito que você deve tentar. Está apaixonado por ela, não está?

- Sim, estou. Mas como eu faço isso?

- Primeiro de tudo, você não deve desistir sem antes tentar. Uma vez no passado fiz isso e acabei me arrependemos amargamente.

Agora ele está me olhando.

O que isso quer dizer?

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