Proᥣógo

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8 dᥱ mᥲιo, 1945

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Era uma casa muito engraçada, Freya pensou, bela, enorme, porém solitária.

Já fora feito de muito riso, e com toda certeza, os melhores momentos de seus últimos anos ela passou naquela sala, sentada naquela poltrona ao lado do piano que agora ficava intocado, sem ninguém para tocar Für Elise ou alguma das sinfonias de Beethoven nele, ou mesmo as musiquinhas bobas, que eram possíveis de se tocar brincando, e foi naquela mesa de madeira que ela tomou café e jantou, embora os almoços sempre fossem ao ar livre, com companhia de vizinhos – Edwin e Anna, adoráveis, ou a adorável Sra. Thompson – ou de parentes. Foi no quarto do andar de cima que ela dormiu e acordou ao lado da pessoa que foi o amor de sua vida, e todos os outros quartos que agora estavam fechados foi onde ela planejou quartos de crianças com James. Eram um casal tão clichê que já haviam resolvido os nomes.

Edward George Lacroix Barnes, se fosse um garoto, ou Diana Mary Lacroix Barnes, se fosse uma menina. Demais homenagens poderiam esperar, afinal, o plano sempre foi ter mais de uma criança. James sempre ria, falando em levar os futuros filhos que ainda não existiam em Coney Island e a praia, e já tinham uma poupança reservada para a faculdade, pois sabiam o quanto uma educação de qualidade fazia falta na vida de uma pessoa.

Essas crianças, agora, existiam apenas no imaginário de Freya, assim como James Buchanan "Bucky" Barnes, e seu melhor amigo, o seu quase cunhado, ela o chamava assim, Steve Rogers, também conhecido como o Capitão América. Era triste, era horrível, e não tinha nada o que ela pudesse fazer, mas era a dura realidade que ela tinha que aceitar. Sargento James Barnes e Capitão Steve Rogers estavam mortos, e nada os traria de volta à vida.

Todos estavam nas ruas, comemorando, e ela havia testemunhado reencontros alegres, pessoas gritando, mães e pais emocionados, esposas chorando de alegria e crianças abraçando pais, e ainda assim, ela só conseguia se manter dentro de casa, sentada na poltrona ao lado do piano, sem forças para chorar, com o vestido preto simples e descalça, soluçando vez ou outra e preocupando tanto Ian, o cozinheiro, quanto Jenny, a empregada doméstica. Freya Barnes sabia que eles sentiam pena, mas não tinham nada, nem uma palavra de conforto, nada para dar para ela se sentir melhor.

A única coisa que a faria sentir melhor estava mais longe do que ela podia alcançar.

Ela sabia que deveria ir fazer visita, e que com certeza Anna tentaria animá-la com Somlói Galuska¹ ou Kürtőskalács², e Edwin com toda certeza já havia ligado para Howie àquela altura, perguntando se havia algo que podia fazer, e provavelmente não havia sido atendido pois Howard estaria no dia seguinte caindo de bêbado em alguma cama de hotel de luxo com alguma mulher aleatória, e Peggy estaria voltando para New York logo, então, Freya Barnes não ficaria mais sozinha.

Freya respirou fundo três vezes antes de se levantar da poltrona, sentindo uma tontura e dores de cabeça que ela culpou a falta de comida naquele dia, observando que as torradas e o creme que Jenny havia lhe levado horas antes ainda estavam intocados, e o café já estava frio. Fez menção de apanhar o creme, apenas para não fazer a desfeita de não comer nada, porém Jenny barrou-a, sorrindo delicada, os cachos escuros ao redor de seu coque preso.

— Está frio, Sra. Barnes. Vou trazer um quente para a senhora. — Ela balançou a cabeça, sorrindo o mais sinceramente que conseguiu.

— Não precisa, Jenny. Vou visitar minha mãe, se Edwin ou Anna procurarem por mim, diga que eu devo voltar — consultou o relógio, fazendo rápidos cálculos sobre como estaria infernal o transito. — Lá pelas sete. Chego a tempo do jantar, e talvez acabe trazendo meus pais, mas será uma coisa pequena, pode ser na mesa da cozinha, para que você e Ian possam nos acompanhar. — Ela sorriu, indo em direção ao quarto, mas ficando tonta, mais uma vez, e vendo a moça correr para ampará-la. — É a fome, não se preocupe.

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⏰ Last updated: Mar 15, 2020 ⏰

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