Sem Volta

14 1 0
                                    

    A sirene da escola toca e todos os prisioneiros estão voltando para suas celas como se nada tivesse acontecido, mas se desviar a vista para a direita devagar, se é capaz de perceber a mãe de Pedro gritando com o diretor. Me esforço para fingir que não vi, é quando a tia de Paula aparece na porta da escola também chorando, mas continuo andando. Os soluços são como facadas no meu peito. Soa até irônico, pois não foi no meu peito que tiveram facadas. Vejo todos me olhando com dó, agora eu sou a menina de 6 amigos e adivinha quem não dá descanso? Isso mesmo. Rachel. Seu poço de mediocridade parece não secar mesmo quando não a vejo a um tempo, mas não a culpo e não me incomodo. Parei de sentir as coisas desde que percebi o que deveria fazer, mesmo que não exatamente, minha ideia segue rebatendo na cabeça. Eu preciso acabar com a raça do filho da puta, eu não aceito perder mais ninguém. 
    Meu celular toca e percebo que acabou de chegar mais uma mensagem. Snake mandou mensagem e dessa vez, é um convite e nele diz "O dia de limpeza escolar chegou." mas o que quer dizer isso? Estou na sala quando um estouro é ouvido do andar de baixo. Todos se abaixam e estão gritando, mas eu que antes não estava sentindo nada, senti tudo ao mesmo tempo. Mais uma vez, meu celular toca com uma nova mensagem. É quando Gaby e Juliana me chamam e me abraçam, mas logo se afastam.

  -Você tá bem? Jenna, olha pra mim. Se concentra e se abaixa, quem fez isso pode ter sido... - diz Gaby quando eu a interrompo mostrando a mensagem
  -Snake. - falo 
  -Droga... - diz Juliana enquanto abro a mensagem e vejo o que está escrito
  -Vá ao refeitório. Sozinha e lembre-se, não banque a esperta.
  -Gaby e eu vamos ficar aqui? Se deixar eu ir, minha navalha canta. - diz Juliana mostrando a navalha dela -Minha mãe falou que é necessário quando seus amigos começam a desaparecer e quando aparecem, estão mortos.
  -Nem ferrando que eu vou de encontro ao assassino, isso é exatamente o contrário do que deveríamos fazer. - fala Gaby em tom de desespero
  -Espera, tem uma foto. - ao abrir, todas estremecemos. Era Janay sobre um banco, com o pescoço encaixado numa corda pendurada no ventilador de teto. 

    Sem nem falar mais nada, todas começamos a correr dentre todas as pessoas que estavam abaixadas. Descemos as escadas correndo, mas a cada momento que meus sapatos entravam em contato com o chão, eu sentia mais medo. Cada passo era como um peso nas costas aumentando, mas eu não posso deixar ninguém morrer. Ao chegar, me deparo com a cena. Janay presa na corda pelo pescoço no outro lado do refeitório, Rachel amarrada pelas mãos e pés ao lado de Janay, uma corda idêntica a de Janay pendurada em um ventilador no meio do refeitório e Snake atrás das duas. Meu telefone recebe uma mensagem "Prenda a corda em você e escolha qual das duas deseja salvar." Olho para o lado, onde Gaby e Juliana estavam escondidas e subo na cadeira fazendo exatamente o que ele diz, mesmo sabendo que isso não está certo. Outra mensagem chega. "Escolha". Temerosa, eu grito

  -Me leva no lugar delas e deixe-as em paz! - o observo e lentamente, ele chega perto de mim. Quando olho novamente ao celular, leio "Escolha errada"
  
    Ele chuta minha cadeira e eu começo a sufocar, quando com força, chuto o rosto dele. Juliana rapidamente corre e corta a corda com a navalha, mas é pouco tarde. Snake vem com tudo pra cima de mim, quando o chuto no peito. Suas mãos seguram minha perna antes que eu tenha a chance de abaixa-la, então ele levanta e eu caio. Chuto sua região baixa e ele cai ao chão em posição fetal, enquanto as meninas correm para desamarrar as outras. Desamarradas, Janay e Rachel se escondem em baixo da bancada da cozinha. Me abaixo para tirar a mascara dele, mas ouço Gaby gritando "Atrás de você". Ao olhar para trás, sinto um fio me enrolar o pescoço e sou arrastada pelo pescoço enquanto tento me soltar. Tudo é em vão, mas não paro de tentar, até sentir uma picada no pescoço. Veneno de cobra. Não acredito que minha hora chegou. Não consigo me manter em pé, então deitada, observo o que está acontecendo. Juliana parte para cima de Angel, acredito que pela sua máscara, angel seja um nome apropriado. Os traços rasos na mascara, fazem parecer que esta pessoa fatal na verdade é algo puro e delicado. 
    Preferia que Juliana não tivesse feito isso. Angel soca o rosto de juliana, fazendo-a cair no chão. Então sem para, soca mais e mais. Juliana nem ao menos se move, eu não consigo me mexer, mas ouço entre os soluços ela gritar "Corre, Gaby". Gaby corre, mas como se tivesse se recuperado magicamente, o assassino levanta e corre atrás dela. a outra porta, a qual Gaby tenta passar, está trancada e a única fora essa, livre, é a que passamos para entrar. Gaby volta a correr para tentar passar rápido o suficiente por Snake. Angel para de bater em Juliana que está acordada, mas imóvel. O assassino agarra Gaby pelos cabelos e bate sua cabeça na parede. Ela continua tentando sair, mas ele continua batendo e o sangue dela, escorria na tinta beje da escola, tornando cada vez mais vermelho e quando achei que não acabaria nunca, ele atira ela no chão. Gaby está morta. É impossível que ela tenha aguentado isso. Eu em alguns minutos a encontrarei, ou iremos para um lugar diferente? Meu sonho seria que a polícia chegasse até aqui, mas que policial liga para a droga de uma escola pública? Direitos iguais? Não fode. Lugar de prioridade, é onde tem gente rica, branca, cis e hétero morrendo. Fora isso, é só lixo sendo descartado. Meus olhos estão quase fechando, mesmo que involuntariamente. Estou desfalecendo e estou só. 

Olhos FechadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora