CAPÍTULO UM

7.1K 366 45
                                    

Aproximadamente sete anos depois...

Helen tentava esquecera razão que causou o fim de seu casamento com Fernando, que fora um bom marido. Pelo menos não tinha o que se queixar dele. Porém, em sua vida sempre haveria Matheus que, apesar de as pessoas dizerem que tinha sido apenas uma paixão passageira, lhe deixara um enorme vazio quando se foi. Por mais que tentasse esquecer o passado, ela simplesmente não conseguia. Tudo isso por um único motivo: o amaria para sempre.

Haviam namorado por dois anos e meio. Um dia ele estava ali, lhe fazendo tantas promessas. No outro, simplesmente sumiu de sua vida. Entretanto, Helen sentia sua presença em absolutamente tudo a sua volta. Todo esse tempo sem telefonemas e sem notícias quase a enlouqueceu. Ainda procurava entender por qual motivo o noivo – um homem que era o sonho de qualquer mulher – a havia deixado sem ao menos dar uma mísera explicação. Juntar os seus cacos e seguir em frente foi uma tarefa muito difícil. Mesmo assim, o fez. Só que às vezes se pegava remoendo o passado.

Conheceu o ex-marido, cunhado de sua melhor amiga, alguns meses após o sumiço do noivo e se encantou por Fernando que, em alguns aspectos, a fazia se lembrar do outro. Com exceção da cor dos olhos e dos cabelos, eram muito parecidos. Mesma altura, físico atlético eo olhar que parecia decifrar tudo sobre ela. Foi Fernando quem a ajudou a superar a depressão profunda e ficou ao seu lado naqueles momentos que nada parecia fazer sentido em sua vida. Com o tempo, nasceu uma amizade e cumplicidade; depois veio a paixão. Amor não, esse espaço já estava preenchido e sabia muito bem separar os sentimentos que a dominavam. Talvez por isso tivesse aceitado seu pedido, afinal, em um casamento, quando o fogo dos primeiros anos se acaba, só o que resta é a amizade. Então, após quase dois anos de namoro, se viu casada com uma pessoa maravilhosa, mas incapaz de fazê-la esquecer de Matheus. Pensou que, com o tempo, aquele amor que nutria por ele morreria, mas ao contrário do que imaginou, seus sentimentos não mudaram. Apenas percebeu que havia se enganado e se deu conta de que ela e o marido eram melhores como amigos do que amantes.

E a cada dia, sentia como se parte dela estivesse deixando de viver. Fernando, é claro, percebia o que se passava no coração de sua esposa. Após três anos de convivência, era muito fácil decifrá-la. Helen achava nem um pouco justo o que estava fazendo com ele. Principalmente por ele tê-la apoiado e ajudado a superar toda aquela dor; sentia como se o estivesse traindo. Com esse pensamento em mente, tomaram a decisão mais sensata: separar-se. Fernando fez questão deque ela ficasse com o apartamento. Foi compreensivo, e no fim se tornaram bons amigos.

Helen tinha uma vida economicamente confortável. Formada em biomedicina, trabalhava no melhor laboratório da cidade e tinha verdadeira paixão pelo que fazia.

Alguns meses após a separação, sua mãe faleceu, o que foi bem difícil superar. Contou com o apoio de Tatiana e Fernando para se reerguer e por pouco não entrou em depressão novamente. Passou um tempo indo de casa para o trabalho e vice-versa, mas agora estava descontando os atrasados. Nos últimos meses, foi a tantos lugares que nem podia contá-los. Fez novos amigos, se enturmou com a vizinhança, começou a fazer academia, radicalizou cortando as madeixas longas e trocando a cor para ruiva. Como sua melhor amiga dizia, tinha se transformado em outra pessoa, porém, nenhuma dessas coisas a fez esquecer Matheus.

Exatamente agora, quando estava finalmente recomeçando sua vida, um ano após o divórcio, escutou alguns rumores de que o ex-noivo estava de volta à cidade. E isso a perturbou por semanas. Sentiu todo aquele turbilhão de emoções lhe invadindo novamente. Como seria encarar aquele par de olhos azuis após tanto tempo? Será que aquele olhar ainda faria seu coração disparar? Como ele reagiria quando a visse? Essas eram apenas algumas das muitas perguntas que não saíam de sua cabeça.

Achou as respostas mais cedo que imaginava. Descia do carro, no estacionamento do seu prédio com uma vizinha, quando viu ninguém menos que Matheus segurando uma garotinha no colo. Seu coração quase parou. De repente, não sabia mais como respirar. Sentiu suas pernas trêmula se, para sua surpresa, a vizinha a apresentou para ele, que estranhamente agiu como se a visse pela primeira vez.

– Prazer, Matheus Lopes – disse, estendendo-lhe a mão – Esta é minha filha Olivia, nós mudamos há algumas semanas. E você mora aqui no prédio também?

Quase teve uma síncope, com tanta informação. Não podia esconder o misto de surpresa e alegria ao vê-lo ali, mas não conseguiu entender porque ele pareceu tão indiferente. Por trás de todas as mudanças – gritantes – que notou logo que seus olhos se encontraram, Matheus continuava o mesmo. Um pouco mais velho, claro. Porém, ele parecia mais másculo; havia perdido aquele ar jovial, apesar do sorriso estampado no rosto que se escondia sob uma barba espessa. Os olhos azuis ainda traziam a mesma intensidade, só que agora eram vistos através de óculos modernos. O cabelo castanho claro, antes caindo sobre os olhos, agora estava estilizado em um corte social despojado. Havia algo nele que a fazia querer deixar todas as mágoas para trás e se jogar naqueles braços, sentir o gosto da sua boca na dele, se embriagar com o seu cheiro. Suas velhas feridas se abriram novamente.

w Roman"x

O Tempo não apaga [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Where stories live. Discover now