Prólogo

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Dante Voyaller

Observo o pequeno menino de olhos azuis analisar o pai com uma expressão perdida, enquanto o pequeno bebê de cabelos avermelhados esperneia nos braços do homem ao lado.

— Sua noiva foi escolhida, seu dever a partir de hoje é zelar, amar e cuidar dela o homem à sua frente diz sério e o garotinho continua a encará-lo com dúvidas e suspeitas.

Como em um filme, épocas importantes da minha vida passam pelos meus olhos, todo o crescimento de Eva e o entendimento do que as palavras de Donatel significaram naquela noite.

Minha mente foca em um momento em especial, no sorriso fácil da jovem diante de mim, naqueles cabelos esvoaçantes que tanto chamam a minha atenção, ela ainda era pequena e o vestido rosa delicado balançava com o vento.

Eva segura minhas mãos delicadamente e me vejo com dez anos, aquele sorriso largo, olhos brilhantes e cheios de vida sussurram cheios de amor esperança.

— Olha, Dan, agora eu tenho um gatinho. — Sorrio feito bobo com o pequeno animal que eu nunca poderia ter, pois, mesmo tão jovem, já entendia que apego resultaria a castigos severos e pesadas torturas.

Ainda assim, sorrio largamente vendo os olhos da menininha à minha frente brilhar ainda mais.

— É lindo — comento, sabendo que aquilo a deixaria ainda mais feliz, e como previsto ela segura as minhas mãos, rodopiando pelo saguão da grande mansão, e inesperadamente meu coração é tomado por alegria e felicidade, coisa que não era acostumado a sentir, mas com Eva tudo era diferente, tudo tão colorido e cheio de vida como nunca tinha visto. Mais uma vez a passagem de tempo muda rapidamente, tirando aquela bela imagem que tanto me alegrava, me jogando para nossa adolescência, onde compreendia bem a palavra casamento e o sentido do que aquela menina, que agora tinha os seus quinze anos, significava.

Eva foi destinada a mim, desde o ventre da sua mãe, mas eu não podia contar-lhe a verdade, não podia explicar para ela que seríamos noivos, pois, essas eram as regras e quebrá-las resultaria em uma grande catástrofe. Me doía saber a verdade e não contar para minha amada garota, doía esconder dela tudo o que eu sabia, porque nós tínhamos promessas e uma delas era jamais mentir um para o outro.

A ruiva com o delicado corpo de menina, entrando na sua fase adulta, observava o jovem rapaz à sua frente com paixão. Eles sorriam e olhavam as estrelas no quintal da sua casa, estirados no chão.

O sorriso fácil de Eva sempre me encantou, os olhos cheios de vida e os sonhos de um dia viajarmos juntos pelo mundo com apenas uma mochila e nada mais. Conhecer países novos, culturas diferentes e abandonar a prisão controlada que ela chamava de vida, acreditando que era superproteção de seus pais. Eu sabia da verdade, mas isso era irrelevante quando tinha a menina doce que tanto amava deitada em meus braços, com o rosto apoiado em meu peito, contando estrelas.

O que eu não esperava, era o que aconteceria a seguir e em questão de instantes o sonho se tornar um pesadelo, vejo o mar de sangue manchar o tapete felpudo da sala com os corpos dos familiares de Eva espalhados pelo chão e o mais desesperador, era ver como o vermelho corrompia o branco daquele local.

NÃO! Tento gritar, mas minha voz presa a minha garganta impede. Tento correr, mas a cada passo as imagens ficam distantes e os olhos aflitos e desesperados de Eva se fixam em minha mente, o pedido silencioso de socorro e a minha frieza em demonstrar poder para não ver aqueles que amo pagando pelos meus erros.

O que era pior? A morte dos meus irmãos ou a morte dela? Não sei, não consigo raciocinar, não consigo ver uma saída para o labirinto que gira diante dos meus olhos. Para todos os lados eu vejo portas, portas trancadas com cadeados grossos e a escuridão me engole, me fazendo reviver mais uma vez aquele rapaz de olhos frios puxando o gatilho.

A vida ali já não fazia sentido, não tinha mais cor, tudo era preto e branco. Os dias passaram depressa e a dor era insuportável.

Eu vi o menino feliz, esperançoso e sorridente se tornar o homem arrogante, controlador e sem sonhos. Revivi a minha dor presenciando cada fase da minha angustiante vida, até chegar o momento de ver aquela ruiva, de corpo escultural, bailando no jardim da minha casa onze anos depois.

Como era possível Eva estar ali? Eu não sabia, mas tinha a certeza de que aquela mulher tinha algo especial, senti no mais profundo da minha alma que ela era minha garota, minha Eva, mas nem tudo que reluz é ouro e a decepção veio forte quando o homem preso naquele sonho estranho reviveu as palavras dolorosas da mulher que tanto amava.

Morte e vingança eram o que ela buscava e agora tudo faz sentido. Era isso que havia acontecido, morte. Estava morto, condenado ao inferno, a reviver diariamente o meu maior pecado e nesse limbo angustiante a escuridão me toma mais uma vez.

— Dante... — Uma voz suave me chama distante e quero agarrar aquele tom angelical, mas a escuridão me engole.

Tento forçar meu corpo a se mexer e nada que faça surte efeito, porém, a voz suave está ali, próximo ao meu ouvido surrando gentilmente palavras das quais não consigo compreender e isso me traz lembranças da minha menina.

Por quê? Por que não consigo acordar? Não consigo me mexer? Esse era o meu castigo? A minha punição?

Não sei, entretanto, ver o sorriso de Eva com seus quinze anos, pronta para me abraçar por ganhar uma pequena caixinha de música preenche meu peito de alegria e dor.

Sinto tanta falta daquela época, falta do que vivi e sei que não tenho mais, pois, já sonhei com isso antes, várias vezes,, mas no final a escuridão sempre me toma e sei onde isso acaba, sempre no mesmo lugar em seu olhar de arrependimento e desilusão.

— Não desista, volte Dan, estou te esperando meu amor... — A voz insiste e mesmo que eu grite ninguém me ouve, quero agarrar aquele fio de esperança que parecia cada vez mais próximo, porém, o vazio retumba em minha frente, a escuridão e o desespero insistem em me cegar.

Eva...

Grito na intenção de me desculpar e dizer que a amava.

— Dan...

Um fio de luz aparece no fundo, e o espaço à minha volta fica mais claro, minha mente grita por Eva e imagens da adorável ruiva se instalam em minha mente. Do seu sorriso fácil, do cheiro do seu perfume, da maciez de sua pele e por um momento observo a linda mulher à minha frente me chamar de braços abertos. Eva estava me chamando, me guiando para a pequena luz ao fundo. Estendo minha mão na tentativa de tocá-la e um grande sorriso surge em seus lábios quando ela estende sua mão em minha direção cada vez mais próxima da luz, com um impulso sinto seus dedos se envolverem em minhas mãos quando o clarão toma meus olhos.

— Ivi... — Puxo o ar com força, perdido em meio aos bips de aparelhos e olhos repletos de alívio me encaram cheios de lágrimas.

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Espero que gostem meus amores <3 

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Beijos da May :*

Dante - Em busca da redenção - Série Voyaller 2 (Degustação)Where stories live. Discover now