Não faz sentido nenhum pensar nisso agora, nem dar mais munição para a minha mente fodida.
Acabo sendo inserido na conversa e entro no meu modo educado, que presta atenção e responde, mas não necessariamente está ali presente. O tempo passa rápido e quando percebo, já são quase dez horas.
— Mãe, preciso ir — aviso, limpando a boca com o guardanapo. — Queria dar uma palavrinha com a senhora antes sobre a imobiliária.
Hoje encontrei uns contratos suspeitos no sistema. Tenho uma grande desconfiança e quero seu aval para investigar a fundo. Fiquei até tarde verificando informações para embasar nossa conversa, por isso, nem consegui chegar a tempo para o início do turno como fiz com as outras.
— Claro, filho. Vou rapidinho no banheiro e encontro você lá no quarto.
— Quer ajuda? — Agnes prontamente se oferece.
— Não, querida. Estou me sentindo bem melhor.
As duas sorriem e a garota se levanta, retirando os pratos da mesa. Vejo minha mãe se virar e decido auxiliar a enfermeira na arrumação enquanto vai ao banheiro.
— Não precisa lavar nada, viu?! — Deixo os copos que bebemos suco dentro da pia e percebo Agnes se retesar ao meu lado. Será que a assustei? — A Zélia vem amanhã cedo e limpa tudo.
— Ok. — Sua voz é quase um sussurro.
— Deu certo os horários de ônibus? — pergunto, tentando melhorar o clima que ficou diferente.
— Deu sim, fui em casa depois do trabalho e cheguei com folga. — Ela se afasta e vira de costas. — Falta confirmar o horário na parte da manhã.
— Que bom. Qualquer coisa me avisa.
— Ah, eu já ia me esquecendo. — Ela apressa o passo até uma bolsa guardada em cima do armário da cozinha e retira uma pasta de lá. — A enfermeira Elza pediu pra entregar o relatório do dia.
Pego a pasta personalizada com logo da agência e avisto uma planilha organizada por horários. Confirmo que, com Elza, minha mãe não comeu quase nada. Participei da primeira sessão de quimioterapia e estava ciente das reações que poderiam ser causadas. Ainda bem que não foi nada grave.
— É preciso usar algum tipo de uniforme e fazer esse relatório escrito? — Agnes pergunta, tímida.
— A roupa não, mera formalidade da agência. Mas o relatório eu gostaria. — Passo a mão no cabelo e solto um suspiro cansado. — Minha mãe tem a mania de não me contar as coisas pra poupar a preocupação.
— Coisa de mãe. — Ela também suspira, como se sofresse com o mesmo problema. — Vou providenciar o relatório diário.
— Não precisa ser tão detalhado desse jeito. — Balanço a pasta com dezenas de informações desnecessárias. —Quero saber o essencial, se ela passou mal, se teve reação com algum remédio, se não comeu, não dormiu... essas coisas.
— Pode deixar, amanhã entrego pra enfermeira do turno.
— Obrigado, Agnes. — Estendo a mão na sua direção e penso ter visto sua garganta subir e descer, tensa. Ela demora alguns segundos para corresponder o toque. — Agradeço muito por se dispor a fazer a comida e ser atenciosa com a minha mãe.
Não passou despercebido por mim como as duas sorriem toda hora uma para outra, tão à vontade. Fico mais tranquilo se Dona Creuza estiver com alguém que a faça se sentir bem.
— Não... não é nada — garante um pouco sem graça.
Despeço-me dela ignorando a curiosidade que quer analisar como reage quando minha mãe está perto e quando fica sozinha comigo.
ČTEŠ
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RomanceSérie Sentidos - Livro 3 Histórias independentes O que você faria se tudo à sua volta desmoronasse de repente? Samuel era muito feliz. Estava prestes a se casar com a mulher que conquistou seu coração aos 13 anos e o fez descobrir a vocação para mús...
❤ Capítulo 9
Začít od začátku