❤ Capítulo 9

Začít od začátku
                                    

Não faz sentido nenhum pensar nisso agora, nem dar mais munição para a minha mente fodida.

Acabo sendo inserido na conversa e entro no meu modo educado, que presta atenção e responde, mas não necessariamente está ali presente. O tempo passa rápido e quando percebo, já são quase dez horas.

— Mãe, preciso ir — aviso, limpando a boca com o guardanapo. — Queria dar uma palavrinha com a senhora antes sobre a imobiliária.

Hoje encontrei uns contratos suspeitos no sistema. Tenho uma grande desconfiança e quero seu aval para investigar a fundo. Fiquei até tarde verificando informações para embasar nossa conversa, por isso, nem consegui chegar a tempo para o início do turno como fiz com as outras.

— Claro, filho. Vou rapidinho no banheiro e encontro você lá no quarto.

— Quer ajuda? — Agnes prontamente se oferece.

— Não, querida. Estou me sentindo bem melhor.

As duas sorriem e a garota se levanta, retirando os pratos da mesa. Vejo minha mãe se virar e decido auxiliar a enfermeira na arrumação enquanto vai ao banheiro.

— Não precisa lavar nada, viu?! — Deixo os copos que bebemos suco dentro da pia e percebo Agnes se retesar ao meu lado. Será que a assustei? — A Zélia vem amanhã cedo e limpa tudo.

— Ok. — Sua voz é quase um sussurro.

— Deu certo os horários de ônibus? — pergunto, tentando melhorar o clima que ficou diferente.

— Deu sim, fui em casa depois do trabalho e cheguei com folga. — Ela se afasta e vira de costas. — Falta confirmar o horário na parte da manhã.

— Que bom. Qualquer coisa me avisa.

— Ah, eu já ia me esquecendo. — Ela apressa o passo até uma bolsa guardada em cima do armário da cozinha e retira uma pasta de lá. — A enfermeira Elza pediu pra entregar o relatório do dia.

Pego a pasta personalizada com logo da agência e avisto uma planilha organizada por horários. Confirmo que, com Elza, minha mãe não comeu quase nada. Participei da primeira sessão de quimioterapia e estava ciente das reações que poderiam ser causadas. Ainda bem que não foi nada grave.

— É preciso usar algum tipo de uniforme e fazer esse relatório escrito? — Agnes pergunta, tímida.

— A roupa não, mera formalidade da agência. Mas o relatório eu gostaria. — Passo a mão no cabelo e solto um suspiro cansado. — Minha mãe tem a mania de não me contar as coisas pra poupar a preocupação.

— Coisa de mãe. — Ela também suspira, como se sofresse com o mesmo problema. — Vou providenciar o relatório diário.

— Não precisa ser tão detalhado desse jeito. — Balanço a pasta com dezenas de informações desnecessárias. —Quero saber o essencial, se ela passou mal, se teve reação com algum remédio, se não comeu, não dormiu... essas coisas.

— Pode deixar, amanhã entrego pra enfermeira do turno.

— Obrigado, Agnes. — Estendo a mão na sua direção e penso ter visto sua garganta subir e descer, tensa. Ela demora alguns segundos para corresponder o toque. — Agradeço muito por se dispor a fazer a comida e ser atenciosa com a minha mãe.

Não passou despercebido por mim como as duas sorriem toda hora uma para outra, tão à vontade. Fico mais tranquilo se Dona Creuza estiver com alguém que a faça se sentir bem.

— Não... não é nada — garante um pouco sem graça.

Despeço-me dela ignorando a curiosidade que quer analisar como reage quando minha mãe está perto e quando fica sozinha comigo.

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