― Ela vai. É impossível não amar você.

Beijo-o rapidamente, mas meus lábios estão secos. Carson abre o portão e me deixa passar. Eu sinto como se as minhas pernas estivessem pesando vinte quilos enquanto subo as escadas. É como se eu tivesse com cinco cigarros entre os lábios, porque mal consigo respirar. Atravessamos a porta de madeira ao estilo medieval e encontramos um rapaz pequenino e simpático na recepção.

― Buongiorno, come posso aiutare?

― Você fala inglês, amigão? ― Carson apoia o braço no balcão de forma despretensiosa. ― Nosso italiano está bem ruim.

― Um pouco. ― O garoto responde. ― Muito ruim o meu inglês.

― Estamos procurando por Violet Avra. ― Digo de um jeito nervoso. ― Ela é professora aqui, certo?

― Violett. Sim! Quem são vocês?

― Pode dizer a ela que sou a filha dela?

Há um grande espanto ilustrado no rosto do recepcionista. Eu não sei se ele entendeu o que eu disse, mas pelo modo como confirma e pega o telefone, acho que sim. Ele fala em italiano, coisas que não entendemos. Minha cabeça me força a imaginar que ele está mandando a minha mãe fugir e que ele vai me distrair, como nos filmes de perseguição. Mas quando ele abaixa o telefone e nos dá um sorriso sem graça, seu sorriso aponta para um sofá perto da grade de entrada.

― Violett está vindo. Vocês podem esperar aqui.

Não consigo parar de bater os pés enquanto esperamos. Carson segura as minhas mãos trêmulas e quando a porta de entrada se abre, dou um salto. Uma mulher loura e magra cruza os braços de forma defensiva na minha frente.

Meu Deus... Seguro meus lábios, sentindo os dedos tremerem contra minha pele. Nossos olhos são iguais. Nossos narizes são iguais. A única coisa que não temos em comum é a altura. Eu sou baixa como o meu pai era. E ela é alta como Lewis filho.

― Pois não? ― Ela diz, olhando de mim para Carson, de pé ao meu lado. ― No que posso ajudar vocês?

― Sou eu, mãe. Felicity.

Eu espero a expressão dela suavizar, mas ela continua rígida como um rochedo. Seus olhos se estreitam e ela engole em seco. Não há nenhum sorriso ou braços abertos para me receber.

― Você está uma moça, Felicity. Que bom que está bem. E você, quem é?

― Carson Rowan. ― Ele diz, passando o braço ao redor dos meus ombros. ― Sou o namorado dela.

― O que eu posso fazer por você hoje, Felicity?

Não consigo acreditar no modo como ela está me tratando. Como se eu fosse alguma de suas alunas com problemas nas notas. Não sei o que dizer, nem como agir. Fico parada ali como ela no meio de uma situação constrangedora.

― Nós viemos de Londres para que você pudesse ajudar com a carreira de Lilly. ― Carson fala por mim. ― Não estamos conseguindo mercado lá.

― Você é cantora lírica, Felicity?

― Ah, não. Mas...

― Então eu não posso ajudar você.

― Caramba. Ela é sua filha.

― Carson. ― Sussurro, encarando meus pés. ― Tudo bem.

― Olha, Felicity. Eu a ajudaria se você fosse uma cantora lírica. Mas minha influência não vai muito além disso. Imagino que você deva cantar coisas genéricas. Rock, pop. Certo? Não há nem ramo na Itália para isso. Por que você não tenta o X-Factor, The Voice? O Reino Unido dá mais oportunidades que temos aqui. Lamento que sua viagem tenha sido em vão.

― Você é a minha mãe! ― Pisco algumas lágrimas. ― E está me tratando como se eu fosse uma completa estranha.

― Eu sinto muito, Felicity. Mas o seu pai e a família que tínhamos quase me matou. Eu posso parecer um ser humano egoísta e mesquinho para você, agora. Mas tenho certeza de que um dia você entenderá a minha escolha. Não seria bom nem para mim, nem para você, se tentássemos reatar esse laço. Eu não quero voltar para o buraco em que eu estava, sentimentalmente falando. Sinto muito pela sua carreira, querida. Mas a vida na música é difícil. Siga o meu conselho sobre reality shows. Você é bonita, vai vender a imagem.

Ela espera que eu diga mais alguma coisa, mas não tenho absolutamente mais nada. Seu sorriso de lábios fechados é tão rápido quanto sua aparição. Há um aceno sem jeito quando ela se vira e fecha a porta, desaparecendo novamente.

Sinto que eu devia começar a me desesperar, mas não consigo. É como se aquela conversa houvesse me apagado. Sinto como se eu fosse uma bituca de cigarro pisoteada e descartada. Quando Carson me abraça e me tira do prédio, não sinto nada. Não sinto a cidade, não sinto suas palavras, não sinto mais o mundo.

Eu acabei. 

 

¡Ay! Esta imagen no sigue nuestras pautas de contenido. Para continuar la publicación, intente quitarla o subir otra.
GORGEOUS | Spin-off ✓Donde viven las historias. Descúbrelo ahora