― É claro que ele amava você. ― O meu pai continua. ― Você era a filha dele. Talvez ele não soubesse muito bem como lidar com uma garotinha. Mas você está aqui, não está? Há mérito dele em sua existência.

Lilly desvia os olhos, voltando a fitar a janela. Eu sei que o meu pai só quer ajudar, mas balanço a mão para ele como se fosse ceifar o assunto. Acho que a única contribuição do pai de Lilly foi o espermatozoide. Ela teria tido uma vida mais digna se ele a deixasse em algum abrigo. Ao menos não estaria tão quebrada quanto agora.

Meu pai mexe os ombros, agarrando sua xícara e batendo no meu braço ao se retirar para o próprio quarto. Estou meio sem saber como continuar a nossa conversa depois de três semanas sem vê-la e reencontrá-la em estado de luto batendo à minha porta.

O silêncio mórbido é salvo por Seth, entrando com toda sua tralha vermelha do Liverpool e estacando ao nos ver em cena.

― Ei, vocês. ― Ele acena. ― Tudo bem por aqui?

― Por que você parece um tomate com bandeira? ― Lilly ergue as sobrancelhas. ― Arrumou um emprego de Ketchup em alguma lanchonete? Ah, desculpa. Eu acabei de lembrar que vocês não precisam disso.

― Seu humor está mais ácido do que um tomate podre, Lilly. Mas estou muito bem, obrigada, porque o meu time venceu.

― Seth. Cai fora.

O rosto de Seth se contorce em confusão. Ele arrasta sua camisa vermelha até o meio do caminho e então Lilly diz.

― O meu pai morreu, seu estúpido. É só por isso que o meu humor está mais ácido do que um tomate podre.

Há um certo constrangimento em Seth. Talvez esteja surpreso com a rispidez com que Lilly o trata, já que eu também estou. Ele decide não dizer nada e nos deixa sozinhos. Quando ouço a porta do quarto dele fechar, me aproximo dela.

― Você não precisava falar assim com ele.

― Eu sei. Eu sinto muito. Eu vou pedir desculpas. É só que... Meu irmão é tão ridículo. Ele nem sequer foi ao velório. Só eu fui. E eu vi o seu irmão aqui e ele é um bom irmão. Eu senti raiva. Que foi canalizada para ele. Sinto muito, Carson.

As lágrimas brotam dos olhos dela tão rápido que não consigo pensar direito. Tudo o que eu faço é me sentar ao seu lado e deixar ela chorar. Afago o seu rosto para ajudar com o fluxo de lágrimas. Gostaria que ela me dissesse o que está sentindo, mas acho que nem mesmo Lilly entende.

― Como está a sua vida? ― Ela pergunta com a voz completamente abafada. ― Eu achei que você fosse me procurar.

― Eu achei que você não quisesse. Mas a vida continua a mesma. Exceto que ela é muito pior quando você não faz parte.

― Carson. ― Sua mão encontra a minha. ― Você é tão maravilhoso. Eu devia ter dito isso na sua cara no momento em que vi você fazendo uma playlist antes da festa do metrô. Mas eu não consegui porque estava muito furiosa e... Olhe só para você. Você é maravilhoso de um jeito que dói.

― Como algo maravilhoso pode doer, Lilly? Só dói se você quiser que doa.

― Não é simples. Eu não posso ter você, entende? Eu sou a raposa. Um dia você irá voltar para a sua rosa.

― Eu não estou entendendo.

― E eu vou sofrer demais porque você me cativou.

― Lilly. ― Escorrego os braços ao redor dela, abraçando-a. ― Isso é só uma história boba. Não somos príncipes e raposas e nem nada disso. Eu nem chego perto de parecer um lorde. E não gosto de rosas, em todo caso. Nunca gostei de flores. Elas me lembram o caixão da minha mãe. Então não voltarei para nada.

Ela não diz nada e ficamos abraçados por um longo tempo.

― Eu acho que vou voltar para a minha casa. Milk está me esperando.

― Milk? ― Ela se afasta, ficando de pé. ― É sua nova companheira de apartamento?

― Não. ― Lilly enxuga as últimas lágrimas e sorri. ― É a minha gata. Eu a resgatei em uma noite em que fui cantar em um bar. Ela é branca como leite. Então dei esse nome a ela.

― Vai me deixar conhecer a Milk?

― Eu estava planejando voltar para casa sozinha. A menos que você queira vir comigo.

Não consigo conter um sorriso e ele atravessa o meu rosto, empurrando a timidez de Lilly para fora. Quando seguro sua mão, ela não reclama. Pego as minhas chaves e os nossos casacos. Ainda não conheço a Milk. Mas já gosto dela só por ser a desculpa perfeita para, quem sabe, Lilly e eu acertamos tudo entre nós.

 Mas já gosto dela só por ser a desculpa perfeita para, quem sabe, Lilly e eu acertamos tudo entre nós

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