➾CAPÍTULO 11.3: (Des)Conhecidos

Depuis le début
                                    

Nossas vidas mudaram subitamente. Um dia, acordo da minha cama aos oito anos achando que as discussões de meus pais são só isso, discussões. E, então, no outro dia, estou aqui com meus vinte anos recém-completos visitando hotéis como um nômade burguês.

Daiyu arrancava o dinheiro de Leonard, o meu pai, e ele não se importava, talvez seja por isso que ela não se canse de torrar todos os seus cheques.

Com o tempo, fui recomendado a participar de reuniões para jovens quando cheguei na adolescência, as terapias me ajudavam a enxergar um lado bom nessas atuais circunstâncias, pois mamãe se preocupava muito com a minha falta de sociabilidade.

Havia também a sobrinha da doutora que a auxiliava, uma moça de beleza comum, admito, mas que nunca esqueceria o que ela me proporcionou na época.

Uma nova visão de vida.

E então? Ela não derrubou nenhuma árvore? Foi multada por excesso de bebida? Você chegou inteiro? — perguntou meu pai através da ligação.

Leonard Bloodsweet é um senhor australiano que já viveu de tudo um pouco e suas histórias são imprimidas em cada linha de expressão refletida em seu velho rosto. Seus cabelos raspados lhe davam o ar de seriedade mesmo não sendo tão severo quanto aparentava, a cabeça amarela não encobria totalmente as antigas madeixas loiras a qual teve de se despedir na juventude e que eu herdei, assim como sua longa altura e sua pele pálida.

Daiyu havia acabado de sair do banheiro quando ouviu as asneiras do ex-marido, seus passos são cautelosos, e decisivos, como de uma leoa que está prestes a abocanhar sua presa.

— Ela está aí não é? — ele indagou já sabendo a resposta.

Suspirei confirmando. Havia sido uma noite difícil, as estradas não favoreceram o humor ameno de mamãe e sua tagarelice não diminuiu um segundo sequer na viagem inteira. Ela tomou o celular de minha mão e começou uma nova discussão.

— Escute aqui seu morcego anêmico, eu não sou nenhuma iniciante, já tenho a minha habilitação há anos, não é porque fui pega três vezes e presa cinco que vão me multar só por duas latinhas...

— Então estava bebendo. — interrompeu,  soltando uma risada.

Ela engoliu em seco, pude notar as veias saltando de seu pescoço.

— Isso não é de sua conta e não vem ao caso. Nós estamos bem, Kendal está bem, e eu, que obviamente não é de seu interesse, estou ótima. Então, passar bem! — falou apertando o botão vermelho firmemente.

Ela o jogou em meu colo e eu só pude ver no visor a "chamada encerrada" no centro antes de desaparecer.

— Nem pude me despedir. — balbucio observando o nome dele. — Vocês nunca deixam...

— Deixe ele pra lá, só está com inveja porque viemos a China e ele fica dentro daquele escritório claustrofóbico. — disse expressando seu desdém.

— Preferia quando vocês se chamavam pelo nome... — bufei me afundando na rede posta na varanda do quarto.

Ela arqueou as sobrancelhas pelo ato e só por diversão me espreguiço lentamente, mostrando-a o tamanho de meu sedentarismo.

E nos chamamos, só que em público. Agora levanta, quero te apresentar a alguns de meus amigos! — desconversou me puxando pelo pulso e me tirando daquela zona de conforto.

Fomos a piscina pela manhã, sua passarela antiderrapante nos ajudou a chegar do outro lado sem que a vergonha nos carregasse dali, ela aproveitou da companhia de seus conhecidos, provavelmente uns colegas de trabalho que vieram ao acaso e desejavam sumir do mapa ao revê-la.

2# A LEGIÃO IRÁ REAGIR ᵐⁱʳᵃᶜᵘˡᵒᵘˢOù les histoires vivent. Découvrez maintenant