Capítulo 1

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Enfim mais uma sexta que se inicia, graças ao bom Deus, já não estava mais aguentando sair de casa. Sabe quando você chega naquela fase que torce para o fim de semana chegar e ficar trancada em casa sem ver a cara de ninguém? Então, já estou nela.

Cá entre nós, vida de estudante/estagiário não é nada fácil, definitivamente não é. Ainda mais quando se tem que fazer trabalhos que não são da sua ossada sem ganhar um mísero tostão a mais por isso, é injusto.

E aqui estou eu no ônibus, depois de passar mais algumas horas de tortura no hospício denominado faculdade, indo para mais um mini hospício denominado estágio. Às vezes eu me pergunto onde eu estava com a cabeça quando prestei vestibular, devia tá cheirando pó, só pode.

Assim que o ônibus se aproxima do meu destino final, desço carregando minha companheira de guerra, a mochila, indo em direção à portaria do edifício McFury.

A McFury é uma companhia que fabrica peças automobilísticas exclusivamente para carros de corrida e esportivos de alta performance. Já deu para sentir o poder do negócio né?

Problemas a parte, meu sonho sempre foi trabalhar aqui, sou uma louca apaixonada por carros, não que eu tenha condições para comprar um mísero parafuso que a McFury fabrica, só admiro pelas revistas e nos comerciais de TV mesmo.

Minha decisão por fazer design de produto não foi à toa, criar peças fantásticas para carros fantásticos seria mais que um sonho para mim.

- Hey, Melina? Oi, oi.

Fui tirada dos meus devaneios com o porteiro abanando a mão no meu rosto.

- Ah, olá Márcio. Estava distraída. - Sorri sem graça.

- Não é a primeira vez, e parece que não vai ser a última que você se distrai olhando o prédio. - Deu risada.

- É que eu ainda não acredito que trabalho aqui. - E não acredito mesmo, tenho medo de acordar e ser tudo um sonho.

- Pois vá acreditando, e é melhor você ir andando porque seu chefe está uma arara hoje. - Fez uma careta engraçada.

- E quando não está né. Até mais Márcio. 

- Até Menina.

Márcio tinha me apelidado de "menina" porque no primeiro dia quando me apresentei, ele entendeu meu nome errado e isso acabou pegando.

Peguei o elevador e apertei o botão do andar 6, confesso que esses elevadores me matam, acho que já estou desenvolvendo uma labirintite aos 22. Assim que coloquei os pés fora do elevador já ouvi os gritos da arara... ops, do chefe.

- Cadê aquela incompetente da Melina que ainda não chegou? - Jogou uma pilha de papéis na mesa da secretária.

- Estou aqui. - Me contive para não mandar ele para puta que pariu.

- Até que enfim, o que aconteceu? O busão quebrou? - Senhor dai-me paciência, porque se der força eu mato.

- Trânsito, hoje é sexta e o senhor sabe que minha casa...

- Tá, tá chega. Não quero saber que você mora há anos luz daqui, vá para sala que tem muito trabalho hoje. - Nem me deu tempo de falar nada e entrou no elevador.

- Cretino. 

- Melina! Cuidado que ele ainda vai acabar te ouvindo. - Isabel a secretária deslanchou a careta em seu rosto e deu risada do meu comentário.

- Isso se algum dia ele me escutar, geralmente sempre me corta no meio da frase. - Bufo segurando a alça da minha mochila com tanta força que mais um pouco rasgaria.

O CompanheiroWhere stories live. Discover now