43. O que faz aqui?

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25 de agosto, 09:21

Cheguei em casa e vi que todos estavam sentados na sala, era como se uma reunião fosse começar assim que eu chegasse. O Ricardo estava com o maxilar rígido, a Samira apertava a mão dele apreensiva, e os dois estavam de frente para a pessoa que ao me ver deu um sorriso sem graça.
— Oi Heloísa.
Eu não sabia como reagir, fiquei parada por uns segundos, até que ele disse.
— Oi pra você também, André.
Foi quando eu me virei e vi que o André estava atrás de mim.
— O que você está fazendo aqui? — foi a única coisa que consegui dizer.
A sua barba estava por fazer, e ela era um pouco falhada, era como se ele não se cuidasse tanto, o cabelo que sempre esteve bagunçado, agora estava pior, estava maior e alguns fios chegavam a cobrir o seu olho. Ele vestia uma camiseta branca larga e uma bermuda jeans simples, seus olhos estavam decorados por grandes olheiras e seu ar era de alguém que não dormia há dias.
— Vim pedir desculpas, eu sei que deveria ter mandado notícias, mas as coisas se complicaram lá no Rio... — sua voz embargou, como se ele fosse começar a chorar antes de completar a frase.
— Acho que vocês precisam conversar — o Ricardo anunciou e saiu na frente, não precisou de muito para que a Samira e até o André o seguisse até a cozinha.
— Você foi rápida — ele abriu um sorriso irônico, e eu já sabia o que ele queria dizer.
— E você foi devagar demais — cheguei um pouco para perto dele.
Rapidamente sua expressão mudou.
— O MEU PAI MORREU — ele disse em uma só voz, um tom um pouco mais alto que o normal, antes que eu percebesse as lágrimas já caiam por seu rosto.
— O quê? — ainda em choque cheguei mais perto dele e o acomodei no sofá.
— Dias após a minha chegada no Rio ele morreu, na minha frente, não acreditei quando vi que a máquina anunciava a sua partida, você não tem noção do inferno que eu passei, minha mãe não come nada, só fica em cima da cama se dopando de remédios, querem que eu assuma a empresa ou então ela corre o risco de falir, tive que resolver toda a papelada do velório, os bens, você não tem ideia do que passei e quando chego aqui... — ele caiu no choro dessa vez mais de uma forma tão desesperadora.
— Téo, você simplesmente sumiu, eu te mandei tantas mensagens, liguei, tentei te dar apoio, mas você me abandou. — eu passava a mão em seu rosto, mas agora eu também chorava.
— Eu não queria te trazer pra o caos que minha vida se transformou, tentei ajeitar tudo antes de voltar para você, para que você fosse a paz que eu sempre tive ao seu lado — ele tirou minhas mãos do seu rosto e me encarou.
— Eu não podia adivinhar — levantei do sofá indignada.
— Quantos shots de tequila foram precisos para que você fosse para cama com ele?
— Como é? — parei em frente a ele e olhei nos seus olhos.
— Quantos? — ele me encarou com firmeza.
— Eu estava bem sóbria quando tomei essa decisão.
— Podia ter usado a bebida como desculpa, quem sabe assim você teria o meu perdão — ele levantou do sofá e caminhou para a saída.
— ESCUTA AQUI — gritei e ele parou, mas sem olhar para trás — é realmente muito triste que o seu pai morreu e sua vida virou um caos, mas eu não tinha como adivinhar o que acontecia na sua vida, ou lhe dar apoio, afinal foi você que sumiu e não deu notícias, você que me ignorou, a partir do momento que você não sentiu a necessidade de compartilhar isso comigo, eu também não lhe devo nenhuma jura de fidelidade, então se tem alguém que tem que pedir desculpas aqui, esse alguém não sou eu.
— Você devia ter me esperado — ele voltou num súbito.
— Até quando? Era pra eu ter chorado e me trancado no quarto até você achar que ela conveniente aparecer aqui para dar uma satisfação? Eu não sou o seu brinquedo.
— MAS ERA A MINHA NAMORADA — ele gritou perto de mim com os olhos lacrimejando e logo depois abaixou a cabeça — Você era a minha namorada — repetiu baixinho.
— E você só se lembrou disso agora. — falei tão baixo quanto ele, mas ainda assim ele ouviu.
— Heloísa... — ele balançava a cabeça negativamente.
— Téo... — segurei o seu rosto para encará-lo.
— Eu não posso perder você também — ele disse meio que sussurrando.
— Então, não suma de novo, por favor.
— Mas eu preciso pensar um pouco, não foi assim que eu imaginei que iria te encontrar.
— Assim? Com outro cara? É isso que você quer dizer? Mas eu não to a fim do André, foi uma questão de carência, raiva.
— Raiva de quem?
— De você. — falei olhando para o chão.
— Eu preciso pensar.
E logo ele se afastou de mim e saiu sem olhar para a minha cara, foi só a porta bater que eu seguir para o meu quarto, minutos depois alguém bateu em minha porta.

Eu não lembro o que fiz na noite passadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora