23. Já?

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16 de agosto, 07:25

Samira apenas engoliu em seco e o silêncio se instaurou, quatro pessoas se encarando. Durante toda a noite eu não imaginaria que ela estaria em gente ao meu quarto, mesmo depois de ver toda a bagunça na sala, não iria pensar como a noite teria acabado.

— Vocês foram rápidos! — Ironizei e voltei para o meu quarto

— Helô! — A Samira me gritou mesmo com a porta batendo na cara dela

— Filha, não é minha obrigação, mas eu posso me explicar com você? — Perguntou o meu pai após abrir a porta com todo o cuidado do mundo.

— Eu não quero me meter na relação de vocês, mas eu também não achei que seria assim tão precoce — disse-lhe enquanto ele sentava ao meu lado na cama.

— Ontem depois que você saiu nós ficamos conversando sobre a diferença de idade, eu contei um pouco para a Samira como foi minha relação com sua mãe. Quando vi já estávamos conversando sobre sonhos, ela tinha me falado que ficou feliz de você ter escolhido o curso de nutrição e que era realmente a sua cara e eu a questionei sobre os anseios que ela tem da vida. — Ele contava tudo na maior calma e eu optei por não interromper, apenas ouvir.

— O tempo foi passando e você não apareceu, como eu estava começando a ficar preocupado, sua amiga deu a ideia de assistirmos alguma coisa até você chegar, foi quando também ela disse que iria pedir uma pizza, pois já estava morrendo de fome. — Realmente, aquilo era bem a cara da Samira, ela não consegue passar fome.

— Ela escolheu um filme de ação, não entendi muito bem, acho que queria me agradar. Mas eu vi que ela estava bem entediada com o enredo, e enquanto a pizza não chegava ela disse que iria na cozinha procurar algo para beliscar, provavelmente não achou nada do seu interesse, pois foi aí que ela voltou com duas taças e a garrafa de vinho. — Nesse momento eu já não sabia mais se queria continuar escutando.

— Eu só bebi mesmo pra acompanhá-lá, você bem sabe que não gosto de beber, foi então que a pizza chegou e eu logo vi que na verdade não era a pizza, pois ela tinha pedido mais de uma. Só comi duas fatias, eu já estava tenso sem notícias suas, mas a Samira realmente estava com fome, e ela bebia como se o vinho fosse refrigerante, eu já estava começando a aconselhar para que ela maneirasse na bebida, quando ela começou a falar sem parar. — Agora o Ricardo passava a mão no rosto como se lembrar daquilo o incomodasse.

— Ela começou a dizer que eu era bonito, que desde a primeira vez que me conheceu lamentou por eu ser seu pai e não seu irmão e era tanta coisa que ela falava que dava pra ver claramente que o álcool estava fazendo efeito. Eu já não sabia o que dizer ou fazer, apenas concordava, porém ela começou a chegar mais perto de mim. — O seu rosto continuava com uma expressão séria, e eu estava cada vez mais ansiosa para ouvir tudo.

— Obviamente, eu pedi para que ela se afastasse, mas não sei se foi por conta do álcool, mas ela se ofendeu e começou a dizer que iria para casa. Filha, você me conhece, eu nunca iria deixar ela sair daqui do jeito que estava, então eu comecei a explicar a ela que ainda estava cedo para algo acontecer entre nós, que deveríamos nos conhecer melhor primeiro. E aos poucos ela foi se acalmando e começou a perguntar sobre o tipo de comida que eu gosto, qual a minha banda preferida, perguntou até quanto eu calçava. Depois de todo o interrogatório ela começou a reclamar de sono e eu não iria deixá-la dormir no sofá, e não sabia qual seria a sua reação se a encontrasse no seu quarto. Então eu deixei ela dormir na minha cama e peguei um colchão velho e arrumei no chão, também não queria dormir no sofá para que você não ficasse sem entender quando chegasse. — ele deu de ombros e me encarou com expectativa.

— Uau! Para que o senhor também fique tranquilo, o Téo e eu apenas ficamos conversando até tarde e nem percebemos quando caímos no sono. — Expliquei superfaturamento enquanto ele tentava acompanhar minha explicação.

— Bom, no fim acho que nenhum de nós temos culpa de nada, mas eu gostaria que você não brigasse com sua amiga sobre a situação de ontem — ele colocou a mão no meu ombro. E— Você bem entende que às vezes a bebida pode nos levar a fazer besteiras — Completou.

— Tudo bem — assenti lembrando do meu vexame em Nova Iguaçu.

Quando eu e o Ricardo saímos do quarto encontramos o Téo sentado no sofá.

— A Samira disse que estava muito envergonhada e que achava melhor ir para casa — ele falou assim que me viu, adiantando qualquer questionamento.

Mais tarde eu iria chamar ela para conversar e dizer que não teria motivo do que se envergonhar. Além de pedir desculpas, por mais que eu diga que está tudo bem com o fato de aceitar o relacionamento dela com o Ricardo, eu ainda tenho muitas atitudes contrárias sobre isso. E hoje eu percebi que não cabe a mim, julgar ou opinar sobre os dois, meu pai sabe aonde está se metendo e se ele acha que isso é melhor para a sua vida, quem sou eu para dizer o contrário?


Eu não lembro o que fiz na noite passadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora