epílogo itinerário.

09.01

enquanto eu caminho meus pés tocam a sensação de andar no oco do vazio, pairando sobre a lacuna de duas extremidades que lutam entre si que se assemelham com o impossível de se compreender.

em uma delas, a ignávia de não saber se prevalece e carrega aninhado de baixo dos seus braços a ansiedade, que me faz querer desvendar um futuro intangível e distante, carrega a inquietação bem ao lado da última trazendo para dentro de mim um coração que bate mais forte, uma mente que não para um segundo para desligar, junto de si também possui o pavor da dúvida em não ter a consciência se foi a escolha certa ou a mais errada que eu já tomara em vida. ela parece ser mais forte que eu quando se está armada com tudo o que eu descartara toda a minha vida, mas me observa inquieta com os olhos vidrados aos meus sussurrando palavras confusas demais para escutar, mas me alerta entre uma frase ou outra, dizendo um pouco mais alto, que já havia ido fundo demais, não havia para onde cair. já tinha corrido rápido demais fugindo da sua presença, a saída estava trancada com uma placa gigante bem na minha frente alarmando para parar e não havia outro caminho - ao olhar pelo meu ombro, para onde ela apontava, poderia ver todos os sentimentos do qual fugi vindo ferozmente em minha direção, cheguei a pedir para me deixar passar, correria mais rápido dessa vez, mas não havia outra saída a não ser enfrentá-los.

ainda pairada sob o vazio, sentindo meus pés se moverem devagar em uma lacuna sem estrutura alguma, sem tocar em nada, ainda consigo avistar a outra extremidade muito maior do que a última que devo encarar - mas a minha visão embaçada pela culpa em um dos olhos, e pelo medo no outro que sobrou, me impede de ver qual sera a aparência dela.

a curiosidade chegou no meu ombro esquerdo me pedindo para escapar dali e vê-la mais de perto, para descobrir do que se tratava.

antes que pudesse me mover, senti alguém soprando no meu ouvido direito que agora não era a hora.

o tempo me avisaria quando encontrá-la.