Choni

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Querida Cheryl.

Hoje eu te vi com a Heather. Parece que ela te faz bem, porque eu te vi rindo no restaurante. 

Eu pensei que se pudesse fazer aquela última viagem para ganhar dinheiro suficiente para poder comprar o anel e te pedi em namoro, seria o dia mais feliz e eu finalmente me veria livre dos Serpentes. Eu lembro que você me pediu para não ir, que queria que eu ficasse mais dois minutos ali na sua cama. Você tentou me segurar em seus braços e até chorou. 

Mas eu disse que seria rápido, que quando você menos esperasse eu estaria de volta e com uma surpresa. E eu estava com a sua surpresa quando voltei para a cidade. Eu quase cheguei a tempo de te ver descer as escadas da sua casa e ver você entrar no carro. 

Não pense que de certa forma a culpa é sua, porque sabemos que não é. Eu fui a culpada, a imprudente. Eu sabotei minha viagem, minha moto e minha vida. Eu estava acompanhada do Jughead que me disse que não me queria mais naquela vida. Ele sabia que eu iria te pedir em namoro. 

Lembro como se fosse hoje o nosso primeiro beijo, dentro daquela sala de cinema, assistindo 'Com Amor, Simon." Você estava chorando e achou que eu não iria perceber, então eu apenas passei meu braço por sua cintura e você se virou para mim e eu te beijei. Mais tarde, no Pop's, você me disse que quando a mãe de Simon disse que ele era livre na infância e que com o tempo ele parou de ser um menino feliz por causa do segredo, eu percebi que você tinha seus segredos e isso te machucava. Você era uma garota odiada por todos por ser fria, mas ninguém te conhecia. 

Acho que eu fui a primeira pessoa que viu sua alma de verdade. Você me deixou entrar por completo na sua vida e perceber que suas barreiras era para esconder as cicatrizes de uma família quebrada. 

Você, pela primeira vez desde a morte do seu irmão, sorriu. Foi libertador e você até derramou algumas lágrimas e me abraçou quando viu que eu te observava.

Aquela noite, a noite do seu sorriso foi a nossa primeira vez. E me lembro de cada toque, cada palavra, cada sorriso, suspiros e até frases que não foram ditas. Estávamos amando a nós mesmas. Estávamos ali, uma para a outra e nada importava. O dia seguinte estava longe e a gente sabia que sua mãe surtaria por você não dormir em casa. Mas sua avó disse que tudo ficaria bem e que não importava e que poderíamos ficar fora o tempo que quiséssemos. 

E foi o que fizemos. 

O resto da semana foi a melhor pois todos passaram a te olhar de uma outra forma já que você estava, de certa forma, feliz com tudo. Não por causa do sexo ou por causa de mim. Mas por estar bem com você mesma. Você se abriu com Betty sobre o que acontecia dentro de casa e ela disse que poderia começar a dormir na casa dela se precisasse. Ela foi a primeira a saber que eu compraria o anel para você e o Jughead foi o segundo. 

Ele foi outro que me ajudou a ter mais tempo com você. Quando a vida me cobrava muito, ele me ajudava a segurar parte do meu mundo. Mas com o tempo, você começou a me ajudar com as piores coisas. Acho que se lembra de quando meu pai apareceu na minha casa. Meu avô não estava porque ele precisou ir fazer uma entrega em outra cidade e meu pai queria dinheiro e quando eu disse que não tinha, pois eu tinha te levado para sair na noite anterior, ele me bateu.

Acho que eu nunca quis tanto ser mais forte e mais alta. Acho que se eu tivesse força o suficiente, teria acabado com ele ali mesmo. Mas eu não tinha, então apenas fugi e entrei na sua casa pela janela do seu quarto. Você ficou assustada com meu estado. Mas o que te assustou mais foi minha alma em pedaços.

Eu chorei até dormir e você ficou ao meu lado. Assim como todas as outras noites que eu comecei a ir até seu quarto a noite. Era uma forma de fuga que eu tinha da vida e dos problemas. 

Então as coisas foram melhorando e eu comecei a me afastar da gangue. Meu vô disse que era o certo e que eu precisava fazer isso o quanto antes, já que a batalha por território estava para acontecer. 

Mas ela chegou muito rápido. 

Era para ter sido a minha última viagem com a gangue, e eu chegaria a tempo de te levar para o Pop's. Mas te mandei uma mensagem no meio do caminho dizendo para me encontrar lá. Tinha um acidente na estrada e meu pneu tinha furado também.

Os Canibais estavam furiosos e queriam pegar os Serpentes de surpresa. E foi então que a guerra começou. E eu não pude ir te ver. Eles atacaram o acampamento que eu estava ficando, meu pai tinha voltado e estava no trailer junto com meu avô. Eles atearam fogo e metade das motos ficaram destruídas. Eu corri pela mata, com o coração na garganta. Precisava chegar no Pop's e te tirar dali. 

Eu corria como se minha vida dependesse daquilo e realmente dependia, pois eu escutei que eles iriam atacar a chocoloja. E você estava lá. Quando eu cheguei na rua da lanchonete, vi seu carro no estacionamento, e o carro do chefe dos Canibais estava na outra esquina. Então eu corri mais ainda para chegar ali. 

Foi então quando eu te vi, sentada em uma mesa no canto, com o canudo do seu refrigerante de cereja na boca. E você me viu. Seu sorriso foi o mais lindo e eu apenas gritei. Já estava com o telefone no ouvido e te vi atender a ligação. Eu gritei para que saísse dali por causa da guerra que estava a começar e você se levantou e pediu para todos saírem e os tiros foram ouvidos. 

Eu peguei minha arma, que você pediu para que eu não andasse com ela, e atirei neles. Entrei na lanchonete e vi o Pop Tate com a espingarda dele. Os homens fizeram a barreira com os bancos e metade dos clientes fugiram pelas portas de trás. Eu liguei para o FP e ele já estava indo para a loja. 

Eu corri até você e te puxei pela mão para a porta de saída dos fundos, mas vi pela janela que eles já tinham tomado ela e iriam entrar, então entrei correndo e te puxando para o Inferninho. Lá eu tranquei a porta e ao me virar para você, vi que estava chorando e eu te puxei pela mão e te abracei. A dor a seguir foi tamanha que eu caí no chão e você me segurou. 

A risada do meu pai ecoou pelo cômodo e mais um tiro foi escutado. Essa eu suponho que era o Tate atirando nele. A voz do garçom foi escutada e você gritou para ligar para a ambulância. A dor aumentou e eu desmaiei. 

Imagino que os médicos disseram que tentaram de tudo e que você chorou. Eu vi uma luz e eu corri dela. Engraçado. Mas me puxaram e eu me perdi por um tempo.

Quando acordei, vi que não tinha ninguém a minha volta e tudo estava bem. Não tinha mais dor. 

Ai eu sai a sua procura. E te achei. 

Agora, aqui parada do outro lado ada rua. O relógio da praça marcava 20:34, dia 22 de janeiro de 2024. Quatro anos desde a guerra. Não sei quem ganhou ou quem perdeu. A dor física tinha ido embora. 

Sweet Pea passa por mim e não me cumprimenta e eu percebo que te perdei de vez. Mas acho que nós duas perdemos. 

Não queria, mas me desculpe por te deixar aqui. 

Sabendo que você não está sozinha mais, eu posso finalmente ir. Ir para qualquer lugar que exista depois da morte. E quem sabe um dia te encontrar. 

Então espero que seja feliz. 

Com amor, sua Toni. 


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Esse é o primeiro capítulo que escrevo.

Vai ter mais, de mais casais. E espero que me ajudem.

Obrigada por lerem.

Comentem sobre quem vocês querem.

Beijos.

I swear I tried. Where stories live. Discover now