Capítulo 1 - Único

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 Era dia vinte e quatro de dezembro e o garotinho de cabelos castanhos acordou agitado e pronto para brincar com toda a neve que espalhava branquitude para todo lado. Então em menos de vinte minutos ele já havia trocado de roupa, escovado os dentes e engolido o café da manhã tão rápido que tia Betty ralhou com ele, mas não importava porque correu para fora - com botas, luvas e touca - e logo tratou de construir seu forte e a acumular munição. Pouco tempo depois as demais crianças se juntaram a ele e a guerra de bolinha de neve se iniciou.

Quando as crianças se cansaram, apenas se jogaram no chão para descansar e abriram seus braços e pernas para deixaram diversos anjos de neve, e então foram chamados para o almoço.

- Bem, Louis, hoje é seu aniversário, o que você quer comer? - O garotinho tinha um sorriso nos lábios e um olhar travesso também.

- Vou comer o mesmo de sempre, tia Lucy.

- O mesmo de sempre? Mas por quê? Hoje você faz sete anos! - A mulher de longos cabelos escuros o fitou com entusiasmo, tentando deixá-lo mais empolgado.

- Mas amanhã é natal, tia. - Ele abriu os braços como se apresentasse todo o local. - Eu vou acumular todos os meus desejos em um só, assim ele vai se realizar com certeza!

- Então é um desejo muito importante... - A mulher tinha um sorriso carinhoso no rosto.

- Sim, tia, muito, muito, muito importante! - Balançou a cabeça alegremente, reforçando o que disse.

- E qual é? - Lucy perguntou depois de olhar ao redor, querendo que o garoto entendesse que ela estava tratando tudo como segredo.

- Não pode contar, tia, senão não acontecesse. - Encolheu os pequeninos ombros antes de correr para junto de seus colegas e sentar-se em uma das cinco mesas retangulares do salão.

Lucy deixou um pequeno suspiro lhe escapar e voltou seu olhar para todas as crianças que ajudava a cuidar. O orfanato Rainha Victoria contava com cerca de cinquenta crianças de idades variadas, assim como suas personalidades. Louis havia chegado ainda bebê, sem passado algum, apenas seu primeiro nome bordado numa toalhinha e uma correntinha de ouro com o pingente de uma estrela azul - que permanecia em seu pescoço -. Lucy e as demais "tias" do orfanato acreditaram que o pequeno bebê Louis logo seria adotado, mas ficava doente com certa facilidade, apegou-se a todas elas com tanto afinco que chorava se ia para um colo desconhecido e todos os casais que se candidataram logo desistiram. E sete anos se passaram; Lucy sofria ao pensar que o doce garotinho poderia passar toda a vida naquele orfanato e, infelizmente, era o que tinha mais chances de acontecer, poucos casais adotavam crianças a partir dos sete anos de idade. Era injusto.

Mas talvez ele tivesse uma pequena chance. Havia dois casais agendados para aquele dia, véspera de natal, e Lucy esperava que fosse dois milagres. As crianças comeram e logo depois foram para a biblioteca, onde leram histórias sobre natal.

- Olá, meu nome é Lucy e vou acompanhá-los na sua visita. - Cumprimentou com um largo sorriso o casal parado diante da porta.

- É um prazer conhecê-la! - A mulher, de cabelos volumosos e crespos, tinha um sorriso radiante. - Nós trouxemos presentes para as crianças. - Ela indicou as várias sacolas que eles estavam carregando.

- Oh, não era necessário. - Lucy estava genuinamente surpresa.

- São mais lembrancinhas do que presentes reais, digo... - O homem, de pele tão escura quanto a noite, parecia ser fácil de se confundir com as palavras. - Para ser presentes reais precisaríamos conhecer suas personalidades, e, enfim...

- Elas vão adorar, não se preocupem com isso. - Lucy o fez entrar, ajudando com as sacolas. - Vamos deixar tudo perto da árvore, antes de vocês irem embora podemos chamar todas elas e então deixamos que abram, o que acham?

Desejo de NatalWhere stories live. Discover now