—Des-desculpem. Vi vocês saindo do acampamento e quis acompanhar. Acho que eu já...—faz menção com as mãos como se fosse voltar.

—Não, não. Não é seguro. Vem com a gente, logo retornamos.—Bellamy se pronuncia.

—Como se chama?—pergunto.

—Sou Charlotte.

Neste instante, uma trombeta ecoa longinquamente, preenchendo nossos ouvidos. Pássaros voam na direção oposta desesperadamente e tudo indica que não estamos em uma boa posição.

—O que foi isso?—murmura o Blake investigando atentamente ao redor.

Faço o mesmo. Se for um daqueles terrestres estamos mortos. Meus olhos se prendem curiosos em uma espécie de névoa alaranjada que surge timidamente atrás de nós. De forma quase involuntária, ando alguns passos na direção e estico uma de minhas mãos para tocá-la.

—Beatriz, se afaste...—pede Bellamy em tom receoso, mas se mantém parado.

Algo dentro de mim grita de curiosidade para que eu a encoste, então não ligo para as palavras que escuto e simplesmente a toco. Aquilo que antes me fascinava, agora me queima como fogo.

—AH!—grito de dor recuando—É névoa ácida! Corram!

Sem perder mais nenhum segundo, corremos na direção oposta da névoa assassina. Quando chegar no acampamento vou me lembrar de fazer uma lista bem detalhada daquilo que pode nos matar. Passamos por árvores, lagos e qualquer outra coisa que não nos serviria de abrigo. Minhas pernas já começam a se cansar e imagino que possa fazer igual aquelas personagens de filme de terror que tropeçam na hora errada e sempre acabam morrendo. Arrisco olhar para trás pela primeira vez e me arrependo ao notar que ela parece mais densa e veloz, é questão de tempo até nos engolir.

—Alguém tem alguma ideia brilhante?—pergunto. Fito Charlotte e ela parece só se esforçar para correr.

—Por aqui!—Bellamy exclama e toma a frente nos guiando até o que parece uma caminhonete tombada e enferrujada pelo tempo. Vai servir.

Ele se esforça um pouco para deslizar a porta e faz sinal para entrarmos enquanto parece analisar a nossa situação com a névoa. Deixo Charlotte ir primeiro e depois vou, dando espaço para o Blake entrar e fechar novamente a porta. Procuro por janelas abertas, mas por sorte todas se encontram fechadas, o que faz eu praticamente me jogar no chão para descansar da corrida.

—Estamos seguros?—a garotinha pergunta com a voz um pouco trêmula.

A névoa nos envolve vorazmente, tornando a visão do lado de fora um completo mar laranja, porém parece não nos alcançar dentro do automóvel.

—Ao que tudo indica, sim.—Bellamy também se dá o luxo de sentar no chão para se recuperar.

—O que é aquilo?—pergunto mesmo imaginando que estamos ambos confusos.

—É uma ótima pergunta... Lamento não ter sua resposta.—responde em um tom nada amigável salpicado de ironia. Incrível como não muda mesmo depois de quase morrer.

—Sei que é um babaca, mas não precisa agir feito um o tempo todo.—me afasto até onde tem umas revistas espalhadas. Se vou ficar presa aqui com ele por tempo indeterminado, preciso de uma distração.

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