DOIS

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NÃO SEJA INSISTENTE

A noite está apenas no início e eu já quero me estrangular ou estrangular alguém, com o fio dos pisca-piscas e suas luzes irritantes que estão atacando minha enxaqueca.

-Ai, é hoje que eu morro. -gemo em frustração ao afundar minha cabeça sobre os braços que estão apoiados sobre a mesa.

-Rou, rou, rou... -meus nervos estremecem ao ouvir a voz do indivíduo se aproximando e minhas mãos se fecham em punhos num ato involuntário de auto-defesa. -Parece que um elfo da delegacia está muito chateado. O que há com você, pequeno elfo verde? Por acaso não gosta do Natal?

E sem nenhum convite, Rodrigo Sampaio puxa uma cadeira e se senta a minha frente com as pernas abertas e um cotovelo apoiado sobre um dos joelhos.

-Não, eu apenas não gosto da sua companhia mesmo. Tenho certa reação alérgica quando me aproximo de idiotas, desperta a minha sinusite. -digo com um esticar de lábios sarcástico e Sampaio ri como se a piada não fosse sobre ele.

Imbecil.

-Ah, Capitã Estresse! O que eu tenho que fazer para tornar sua noite de Natal mais agradável? Já que um suposto ser idiota tem tentado estraga-la pelo que soube. -ele indaga batucando os dedos sobre os lábios e um olhar entre analítico e bem humorado sobre minha figura.

-Deixar de existir seria um bom começo. -respondo ácida, porém Sampaio sequer se abala com minha alfinetada. -Uma ótima notícia na verdade.

Que raio de homem chato e insistente do caramba!

-Acredito que você e metade da população feminina iriam sofrer uma grande perda com um acontecimento desses. -ele rebate jogando um beijinho no ar, e deixa os ombros caírem sobre o encosto da cadeira, ao que eu finjo que irei vomitar na lixeira perto dos meus pés.

-Por que eu ainda perco meu tempo falando com você? -tombo a cabeça de lado e o fito com curiosidade.

-Porque lá no fundo você me adora que eu sei.

Ele pisca um olho de maneira convencida e eu bufo exasperada.

-Mas voltando ao assunto anterior, o que está te chateando além do normal, Silva? Hoje você parece terrivelmente mais raivosa do que de costume. Não que eu esteja reclamando disso, longe de mim, eu até gosto de provoca-la um pouco só para vê-la nervosinha. Você fica ainda mais gata com o rosto todo corado quando se exalta.

Se autocontrole não fosse meu lema e eu não tivesse certo receio em ganhar uma bela disciplina por agir com meus instintos selvagens, com toda certeza nesse exato segundo eu estaria quebrando os dois primeiros dentes da frente da boca de Sampaio com o soco que estou louca para lhe dar. Mas eu não o faço. Ao invés disso, puxo uma profunda respiração antes de responde-lo com uma calma contraditória ao estado interior em que me encontro.

-Você quer realmente saber qual é o meu problema, Sampaio? -torço o canto da boca mastigando com cuidado cada palavra que irei dizer.

-É claro que quero, Capitã Estresse. -ele brinca e eu chuto sua canela com a ponta da minha bota. -Brincadeira, foi mal aí, Silva. -ele arrasta a cadeira para trás afastando-se e segurando a risada.

-Primeiro motivo, -ergo um dedo para o alto. -Estou perdendo minha preciosa noite de folga em que deveria estar em casa. Segundo...

-Espera um minuto, Silva, tenho uma pergunta antes que prossiga com suas dezenas de lamentações.

Sampaio me interrompe e eu arqueio uma sobrancelha com sua atitude mal educada.

-O que de tão importante você pretendia fazer em casa? Ficar joagada no sofá em frente a tv vestindo um pijama velho, enquanto come pipoca e assiste a reprise de Esqueceram de mim pela milésima vez, não é algo que se possa contar como comemoração. -ele aponta de modo desdenhoso e estala a língua como se desaprovasse a hipótese.

-E o que te faz pensar que eu faria exatamente o que acabou de falar? Você não me conhece, não sabe nada sobre mim. Então como acha que pode me julgar? -o desafio cruzando os braços sobre o peito e coloco minhas pernas sobre a mesa me permitindo relaxar a postura por alguns minutos.

-Você me dá todas as razões para acreditar que é uma chata de galochas não somente aqui no trabalho, como também em sua vida pessoal, Silva. Em sua testa está praticamente escrito em letras garrafais a palavra tédio. -ele diz tranquilamente sem medo algum de me ofender e eu engasgo com sua ousadia.

Quem esse abusado pensa que é para falar assim comigo? Que cretino!

-Você não sabe a hora de parar, não é mesmo? -me irrito fazendo menção de baixar as pernas para o chão e sair de perto dele, porém Sampaio em um reflexo, é mais rápido do que eu e detém o movimento não permitindo que eu saia do lugar.

-Não precisa ficar bravinha, Capitã Estresse. Eu estou apenas conversando com você como um amigo e...

-Não somos amigos e nunca seremos, Sampaio. -eu lhe corto abruptamente.

- ...e dizendo a verdade, mesmo que de uma forma meio inconveniente. -ele prossegue, ignorando completamente o que falei.

Por Deus, o que eu fiz para merecer esse martírio? Sampaio só pode ser louco se pensa que ofender meu estilo de vida é um tipo de "incoveniente". Qual é problema desse homem? Porque ele não deixa a minha vida em paz e segue com a dele?

-Entretanto, eu tenho uma solução!

Ele se empolga dando dois tapinhas em minha perna e eu fuzilo suas mãos atrevidas com o olhar flamejante.

-Vamos fazer diferente esse ano. Você terá a melhor noite de Natal da sua vida ou eu não me chamo Rodrigo Sampaio. -ele promete com uma piscadela ao se colocar de pé depois de se levantar.

-Para isso acontecer, Sampaio, só se você conseguisse fazer nevar. -eu debocho quando ele vai se distanciando, mas ainda ouço sua réplica sabichona.

-Não duvide muito disso, minha querida. -e então ele some de vista deixando-me com uma pulga atrás da orelha sobre o que quis dizer com aquilo.

🎄🎄🎄

Hello, pinheirinhos de Natal! Tudo beleza reluzindo como pisca-pisca? Digam-me o que estão achando da história! Ah, e não se esqueçam de deixar suas estrelinhas ou um gato irá derrubar sua árvore de Natal! hahaha
Beijinhos lambuzados de panetone 😘😘😘

Não Temos Neve [Completo]Where stories live. Discover now